As mulheres do Polo da Borborema realizaram nesta quarta-feira, 20 de janeiro, a primeira reunião do ano de preparação para a sétima edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. Em 2016, a Marcha acontecerá no dia 08 de março em Areial-PB, um dos 14 municípios da região da Borborema na Paraíba, onde atua, há mais de 20 anos, o Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos rurais, com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
A Marcha é um momento de afirmação das capacidades das agricultoras e de denúncia de todas as formas de violência contra a mulher, uma expressão do trabalho das mulheres do Polo que acontece o ano inteiro. O evento já foi realizado nas cidades de Remígio (2010), Queimadas (2011), Esperança (2012), Solânea (2013), Massaranduba (2014) e Lagoa Seca (2015), última edição, que reuniu mais de 5 mil participantes.
A reunião de preparação aconteceu no Centro Agroecológico São Miguel (CASM) onde estão as sedes do Polo e da AS-PTA, em Esperança-PB, e contou com a participação de cerca de 40 agricultoras, lideranças da Comissão de Saúde e Alimentação do Polo, que reúne um grande número de mulheres e está à frente, todos os anos, da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia.
O encontro teve início com uma rodada de debate em torno da pergunta, “Por que seguimos marchando?”. Ligória Felipe dos Santos, agricultora-experimentadora e servente de pedreiro, do Sítio Lagoa do Sapo, em Esperança, foi uma das primeiras a falar. Ela lembrou que foi a partir da sua participação nas marchas que ela encontrou o apoio e a coragem necessários para se libertar da violência da qual era vítima dentro de casa e deu um novo rumo à sua vida: “A partir do momento que eu fui à primeira marcha, eu comecei a engatinhar, hoje eu estou de pé e posso caminhar. Na minha comunidade, agora a pouco, apareceu a construção de um tanque de pedra, de vários homens, nenhum se propôs. Então eu fui e coloquei o meu nome, eles não queriam deixar porque eu sou mulher, mas eu insisti, fui lá, peguei a colher e comecei a fazer o serviço. E eu disse que se não me deixassem trabalhar, eu ia lá na próxima Marcha, ia subir no palanque e falar que estão me discriminando”, disse.
A jovem Edilma da Silva Alves, 21 anos, do Sítio Capivara III, em Solânea-PB, falou sobre a necessidade de momentos como a Marcha nunca deixarem de existir: “Ainda falta muitas mulheres escutarem o nosso grito, muitas que precisam da nossa ajuda, por isso eu acho que a marcha nunca vai morrer. Se a gente não tiver mais contra o que lutar, então a gente vai ter muito o que comemorar”, afirmou.
Durante o debate, foram levantadas uma série de conquistas percebidas após a realização das marchas no território, tais como: fortalecimento da auto-organização das mulheres nas comunidades, com a criação de diversos grupos femininos; mais mulheres titulares de DAPs (Declaração de Aptidão ao Pronaf); fortalecimento do movimento sindical rural da região, com muitos homens sensíveis à luta das mulheres e sindicatos rurais ganhando experiência no enfrentamento dos casos de violência contra a mulher em seus municípios, entre outras.
Em seguida, foi feito um planejamento de ações, algumas que já começaram em novembro do ano passado, em preparação à Marcha, a exemplo de reuniões e assembleias municipais, panfletagens, afixação de cartazes, programas de rádio e diálogo com o poder público municipal. As lideranças montaram uma agenda de reuniões de preparação nos municípios, “as reuniões municipais serão espaços de construção e reafirmação das razões pelas quais estamos marchando. Primamos por esse espaço de formação, momento de desconstrução das bases do patriarcado e da afirmação dos direitos das mulheres”, explicou Adriana Galvão Freire, assessora técnica da ASPTA. Munindo as mulheres de conhecimento e de material didático, a ideia é que esses momentos se multipliquem nas comunidades, nas reuniões dos fundos rotativos, ou no grupo de mulheres.