A Comissão Regional de Jovens do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos rurais da região da Borborema na Paraíba, realizou no Convento Ipuarana em Lagoa Seca-PB, na última quarta-feira, 02 de março, um encontro preparatório à VII Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que acontecerá no município de Areial, no dia 08 de março.
O evento contou com a participação de cerca de 80 participantes entre mulheres da Comissão de Saúde e Alimentação do Polo, assessores técnicos e jovens dos 14 municípios onde o Polo atua, com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. O objetivo foi debater com a juventude as causas da violência contra a mulher e permitir que os jovens e as jovens questionem os papéis desempenhados por homens e mulheres, além de preparar a participação da juventude na Marcha.
Após a acolhida aos participantes e apresentação por município, foi feita uma rodada de conversa em torno das perguntas: “Por que estamos reunidos hoje?”, “Nossa caminhada está chegando em Areial e no sétimo ano, será que ainda precisamos marchar?”. Na rápida rodada de falas que se seguiram, as jovens e os jovens reafirmaram a necessidade de continuar marchando. “A sociedade ainda precisa aprender, ainda tem muito preconceito para ser quebrado”, disse Erivan Alves, de 27 anos, do Sítio Floriano, Lagoa Seca.
Para Ana Paula Cândido, liderança Sítio Caixa D’água e da Comissão de Jovens do Município de Queimadas, marchar tem um sentido da solidariedade: “Eu, por exemplo, não sofri violência, mas a gente está marchando pra dizer que nós estamos solidárias aquelas mulheres que estão ali e que sofrem. A gente precisa também refletir sobre o que é a violência, será que é só apanhar? Muitas vezes a gente pode pensar que o jovem não tem consciência do porquê de estar na marcha, e em um momento como este a gente vê que não”.
Ao dar início à programação, Adriana Galvão Freire, assessora técnica da AS-PTA, dedicou o encontro à jovem Ana Alice de Macedo Valentim, militante do Polo da Borborema que foi estuprada e violentamente assassinada há três anos: “Ana Alice era uma jovem como vocês, bonita, inteligente. Na marcha de 2012 em Esperança ela era animadora de um dos ônibus, participou da marcha, mas no dia 19 de setembro, saiu pra ir pra aula e não voltou mais pra casa. Por que vocês acham que ela não voltou? Um homem se achou no direito de sequestra-la e estupra-la, pelo simples fato de ser mulher. A gente precisa conversar sobre isso”, disse.
Em seguida, os jovens se dividiram em seis grupos com o exercício de reproduzir cenas de comerciais de TV. Invertendo os papéis de homens e mulheres, buscou-se refletir sobre onde está o machismo e sobre a imagem da mulher representada em cada um deles. Após a apresentação dos grupos os jovens fizeram uma reflexão sobre o assunto. “Eu acho que uma mulher não merece ser estuprada pelo simples fato dela usar roupa curta ou gostar de dançar funk, ou qualquer outra música”, disse João Vitor Tavares, de 18 anos, do Sítio Gameleira, em Massaranduba.
A partir do aprofundamento dos casos representados, os jovens foram fazendo uma correlação com suas vidas e relataram diversos casos presenciados no seu dia-a-dia em que viram ou viveram discriminações e violências contra as mulheres. “Tenho uma amiga que foi ferida em sua dignidade pelo próprio pai, ele a proibiu de sair com as amigas e de participar de redes sociais apenas porque ela estava vestida com uma roupa que o pai considerou imprópria, mas se a gente pensar, o homem pode andar com a roupa que quiser, até sem camisa, o homem pode tudo”, contou João Saraiva, jovem de 24 anos também de Massaranduba. “Se a gente pensar bem, é uma vergonha pra nossa sociedade que a gente tenha que ter uma lei como a Lei Maria da Penha. Porque se a gente soubesse de fato respeitar as diferenças e fossemos tratados iguais, homens e mulheres, a gente não precisaria ter uma lei como esta”, completou o jovem.
Durante a manhã, outros tantos casos de violência foram aparecendo nas falas emocionadas dos jovens: assédios vividos nas ruas, nas escolas, pais que não respeitam a opção sexual de seus filhos e filhas, colegas que não respeitam a liberdade das meninas. Um extenso debate foi feito em torno do que seria uma “menina de respeito”. Para facilitar, Coka dos Santos e Edson Possidônio, ambos atores e assessores técnicos do Núcleo de Infância e Juventude, apresentaram um pequeno esquete onde o irmão cerceava a vida da irmã.
No período do tarde, os participantes do encontro assistiram ao filme, “Acorda, Raimundo, Acorda!”, do diretor Alfredo Alves, que aborda as relações de gênero no Brasil, mostrando os papéis de homens e mulheres representados de maneira invertida. Após o filme os jovens debateram suas impressões acerca do vídeo e refletiram com base nas questões: “o que é bom em ser menino e menina?”, “o que é ruim em ser menino/a?”, Quais as questões que gostariam de mudar na relação entre homens e mulheres e quais mensagens gostariam de passar para as pessoas com o objetivo de contribuir para a desconstrução das desigualdades de gênero durante a Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia.
O terceiro e último momento do encontro se deu com a organização dos jovens durante a Marcha, quando a Comissão de Jovens vai participar da mística durante o trajeto da caminhada e fazer uma performance simbolizando as mulheres assassinadas por seus companheiros.