Um grupo formado por pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros, de Sergipe, professores e estudantes da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), do Centro de Ciências Agrárias, Campus II, em Areia-PB, agricultoras, agricultores e assessores técnicos de organizações da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) se reuniu no dia 09 de março, na sede da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia Centro Agroecológico São Miguel, em Esperança-PB. O objetivo da reunião foi planejar as atividades de continuidade das pesquisas participativas com as “Sementes da Paixão”, que são como ficaram conhecidas na Paraíba as sementes crioulas, cultivadas e conservadas pelas famílias agricultoras há centenas de anos.
Na ocasião, foi feito um balanço dos ensaios comparativos realizados no ano passado na região da Borborema no Centro Agroecológico, no Assentamento Lagoa do Jogo em Remígio-PB e no Sítio Arara, município de Areial, que contaram com a participação de agricultores e agricultoras guardiões de sementes ligados à dinâmica da Comissão de Sementes do Polo da Borborema. Nos ensaios, foram comparadas 10 variedades de sementes de feijão macassar, sendo sete de sementes crioulas (Verde ligeiro, Costela de vaca, Corujinha, Cariri, Sedinha, Azul e Sempre verde) e três variedades comerciais da Embrapa de Petrolina-PE (Pajeú, Guaribas e Nova Era). Essas variedades comerciais são as distribuídas através da politica de sementes para as famílias agricultoras do semiárido.
No período da manhã, foram apresentados os resultados dos ensaios, que foram realizados com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de um projeto de extensão coordenado pela professora Vânia Fraga, do Curso de Ciências Agrárias da UFPB. Felipe Sales, estagiário do Núcleo de Sementes da AS-PTA e os agricultores experimentadores apresentaram a pesquisa participativa e sua etapas passando desde a mobilização, oficinas de planejamento, implantação, acompanhamento e análise dos resultados.
Ele destacou a importância da construção do conhecimento coletivo, tendo o saber acadêmico e o saber das famílias atuando juntos, e a contribuição dos agricultores, que durante as pesquisas eram convidados a atribuir notas às variedades, sem saber de quais se tratavam, o que, segundo a avaliação do coletivo, agregou valor aos resultados. O experimento, que também estava previsto para ocorrer em áreas da região do Cariri, não teve condições de ser realizado, devido à falta de chuvas.
Resultados – Os experimentos comprovaram mais uma vez a superioridade das sementes dos agricultores em detrimento das variedades comerciais, estando submetidas a condições climáticas desfavoráveis: “Para mim foi como um milagre essa produção, pois no meu sítio não choveu, e a gente não esperava nunca que produzisse”, disse Nivaldo dos Santos, agricultor do Sítio Arara, Areial.
Todas as variedades crioulas dos bancos comunitários de sementes apresentaram produção de grãos acima das variedades comerciais. A semente dos agricultores que mais se destacou foi a Costela de vaca, produzindo 760 kg por hectare em comparação com a variedade comercial Nova Era, que produziu 210 kg por hectare. Já o melhor tratamento foi o uso de composto orgânico com esterco produzido nas esterqueiras e restos vegetais. “Os estudos mostraram que, numa condição de estresse de água, o ensaio com as variedades mais adaptadas mostraram algum desempenho, comprovando o que aconteceu com o milho, nas pesquisas realizadas em 2011. As variedades comerciais tiveram uma produção bem abaixo, seja de biomassa, seja de grãos, enquanto que as sementes crioulas produziram uma quantidade aceitável”, avaliou Amaury Santos, pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros.
Durante a reunião, Amaury apresentou as etapas do estudo e falou sobre a forma como ele foi construído: “Durante as pesquisas, tivemos a preocupação de usar o método científico com rigor, para que a gente possa usar estes dados de forma segura e ao mesmo tempo de uma forma que os agricultores entendam tudo que a gente estava fazendo e como estamos fazendo”, disse.
Emanoel Dias, assessor técnico do Núcleo de Sementes da AS-PTA falou sobre a finalidade das pesquisas participativas: “É claro que se vários pesquisadores se dedicaram a estudar e melhorar essas sementes da Embrapa, elas são boas, mas talvez não sejam adaptadas a todas as regiões como se todas as regiões fossem homogenias, como acontecem os programas de distribuição. Esse trabalho de comparação de variedades é importante para comprovar que existem um conjunto bem adaptados as diferentes regiões. Contudo, essas variedades com ampla adaptação são pouco utilizadas pelos programas públicos de distribuição de sementes”.
No período da tarde, aconteceu um trabalho em grupo para aprimorar os parâmetros a serem pesquisados com avaliações qualitativas e quantitativas. Foram definidos ainda os locais onde serão implementados os ensaios na Borborema (Assentamento Lagoa do Jogo, em Remígio; Comunidade Arara, em Arreial e na sede da AS-PTA, em Esperança), na região do Cariri, onde atua Coletivo das Organizações da Agricultura Familiar (município de Juazeirinho ou em São Vicente do Seridó (a depender das chuvas). O evento foi concluído com a definição de uma agenda das próximas reuniões desse grupo de pesquisa a partir do mês de maio.