No dia 20 de abril, a família dos agricultores, Pedro e Cláudia Clementino, recebeu a visita de cerca de 30 pesquisadores de 18 países, que conheceram a propriedade do casal na comunidade de Mucuin, zona rural de Areial. A visita faz parte da programação da 2ª Reunião Euroclima, que tem por objetivo a promoção o intercâmbio entre a política, a investigação científica e a aplicação de metodologias para monitorar e mitigar os efeitos da desertificação, da degradação da terra e da seca na América Latina.
Antes de chegar à propriedade do casal, os pesquisadores tiveram a oportunidade de conhecer um pouco sobre a dinâmica do Polo da Borborema, rede de 14 sindicatos de trabalhadores rurais que atua pelo fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica na região. No Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Areial, Roselita Vitor, uma das coordenadoras do Polo da Borborema, apresentou as ações da organização, além dos avanços conquistados pelas famílias agricultoras da região. Destacou que no Território a organização social das famílias para a convivência com o semiárido também faz parte do método para desenvolver as ações de mitigação aos efeitos da desertificação.
Após a apresentação, os pesquisadores seguiram para a comunidade. Lá tiveram a oportunidade de ver algumas das tecnologias sociais apresentadas mais cedo em prática. Pedro e Cláudia vivem numa propriedade de apenas um hectare, e apesar da pequena área, conseguem cultivar palma, milho e feijão, além de manter as criações de porcos, galinhas e vacas.
Ao lado da pequena casa no centro da propriedade, Pedro apresenta com orgulho a sua cisterna calçadão, Cláudia ao seu lado aponta lá longe o lugar onde eles precisavam ir buscar diarimanente água antes da cisterna. Ao redor da cisterna-calçadão vê-se uma produção de couve, pimentão, plantas medicinais, além de árvores que Cláudia diz ter trazido de visitas de intercâmbio.
Pedro conta que se aproximou do trabalho do Polo da Borborema por meio de participação de uma visita de intercâmbio sobre armazenamento de forragem, há seis anos atrás e desde então anualmente produz silo forrageiro para seus animais, em regime de mutirão com mais 10 famílias agricultoras. Em 2015, mesmo no ano muito seco, ele conseguiu armazenar dois silos forrageiros, cada um com cerca três toneladas de palha de milho e folha de gliricídia. Em dezembro abriu a primeiro silo e consegui alimentar oito bovinos por 02 meses, complementando com palma forrageira. Em 2016, as chuvas chegaram em janeiro e não foi preciso abrir o segundo silo, que ficará estocado para outro momento de necessidade.
Nos fundos da casa da família há ainda três esterqueiras, um biodigestor e um campo de palma resistente a cochonilha do carmim que o casal conquistou em 2013 por meio do Projeto Terra Forte, desenvolvido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. Assessorando há 23 anos o Polo da Borborema, a AS-PTA atua na valorização do conhecimento e do trabalho desses agricultores, estimulando a experimentação e a troca de experiências por meio das visitas de intercâmbio.
Paulo Barbosa, coordenador do Programa Euroclima e um dos participantes da visita, disse achar importante poder ver como a combinação entre os conhecimentos dos agricultores e a assessoria técnica pode mudar a vida dessas pessoas. “É muito interessante ver o que normalmente trabalhamos em escala global, aqui em escala menor” afirmou o pesquisador.
No final da visita, o casal disse estar de portas abertas para receber novamente os visitantes. A 2ª Reunião Euroclima aconteceu em Campina Grande de 18 a 22 de abril, e tem como tema “Diálogo político-científico sobre os impactos socioeconômicos da desertificação, degradação da terra e seca na América Latina”.