O papel das abelhas na natureza e sua relação com o a biodiversidade e a rearborização foram escolhidos para ser o tema mobilizador de 2016 da Campanha pelo Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar. A Campanha é uma ação do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, e surgiu em 2002 com o apoio da ActionAid. A Campanha tem por objetivo contribuir para a conscientização e a valorização da agricultura familiar junto às crianças, filhos e filhas das famílias agricultoras que fazem parte da dinâmica de trabalho do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos rurais da região da Borborema, que atua em parceria com a AS-PTA pelo fortalecimento da agricultura familiar agroecológica do território.
A Campanha tem como principal ação os chamados “mutirões”, um dia de brincadeiras e aprendizado coletivo promovido em parceria com as escolas e comunidades rurais que acontece em mais de 96 localidades de 13 municípios onde o Polo da Borborema atua, envolvendo centenas de crianças e adolescentes rurais. A cada ano é trabalhado um tema que se procura trabalhar também nas escolas e nas famílias, a partir do conhecimento e das vivências das crianças.
O tema de 2016 foi construído no planejamento da Campanha realizado na sede da AS-PTA, no Centro Agroecológico São Miguel, em Esperança-PB, no dia 29 de março. A programação teve início com um resgate da Campanha em 2015, que teve como tema central a água, suas fontes e caminhos dentro das comunidades e suas várias formas de armazenamento e conservação. Participaram cerca de 30 pessoas, entre integrantes da Comissão ampliada de juventude do Polo e assessores técnicos do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA.
Foram levantados como desafios para 2016: a ausência da comunidade escolar em alguns municípios, o desinteresse de participar quando algumas crianças passam para a fase da adolescência, alguns pais e mães que desestimulam a participação dos filhos. Já como avanços foram lembrados: a valorização do papel dos agricultores e das crianças enquanto cuidadores da natureza a partir do tema da água, a valorização do lugar de origem das crianças, que contribui para a inclusão social, a criação de novos grupos de jovens que saíram da campanha e o envolvimento dos jovens, comunidade escolar e famílias em muitos municípios.
“Sem abelha, sem alimento” – Após essa rodada, foi exibido o vídeo “Sem abelha, sem alimento”, da campanha de mesmo nome desenvolvida pela iniciativa denominada “Bee or not to bee” (um trocadilho com a expressão “ser ou não ser” em inglês (be or not to be) e a palavra inglesa bee=abelha) encabeçada pelo Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura do Rio Grande do Norte. O vídeo mostra, em uma linguagem acessível às crianças, a importância e o papel das abelhas para a diversidade de alimentos no planeta, através da polinização. De acordo com o material, 87% das plantas que têm flores, dependem da polinização (ação das abelhas que ao sugar o néctar das flores, leva o pólen de uma planta à outra) para se reproduzir e gerar os frutos, ou seja, a maioria dos alimentos que consumimos. Ainda segundo o vídeo, existem na natureza mais de 3.000 espécies de abelhas.
“Quando fazemos esse caminho inverso, partindo da abelha até chegar ao alimento, é que a gente percebe a importância das pequenas coisas, a natureza é tão perfeita, que às vezes a gente vê coisas grandiosas e não percebe que para elas acontecerem, foi preciso que várias coisinhas pequenas também se fizessem. Esse tema é importante porque só observando os detalhes é que a gente consegue entender o todo”, avaliou Mônica Lourenço, 18 anos, do Assentamento Caiana, e liderança do sindicato rural de Massaranduba-PB.
Após o vídeo e uma rodada de percepções, a jovem apicultora Marcelânia Machado Silva, 21 anos, do Sítio Serra Alta em Queimadas-PB, falou sobre a sua experiência com apicultura e tirou dúvidas dos participantes do encontro: “Na minha família, a gente passou a ter um novo olhar para a apicultura, meu pai diz que abelha é único animal que pasta nas terras dos vizinhos e ninguém nunca vai achar ruim (risos). Hoje a paisagem lá em casa mudou tanto, que os vizinhos vem querer saber o que a gente faz, porque lá é tão verde, tão vivo”, conta sobre os benefícios trazidos por esse tipo de inseto e complementa, “cuidar de abelhas não é só você ir lá de vez em quando e tirar o mel e levar pra vender, não. A abelha não dá só mel, elas dão os frutos, e mesmo no mel você tem aquela que vai dar uma maior quantidade de mel, a outra vai dar um pouco menos, mas o mel já é mais medicinal que o outro. Sobre elas picarem, a gente tem que entender que só é quando ela se sente atacada, é uma defesa, qual a mãe que não vai defender seu filho? Qual é o pai que não vai defender sua casa se alguém for mexer lá”, explica a jovem.
O último momento do evento foi a discussão sobre a metodologia e as estratégias para trabalhar o tema durante os dois ciclos de mutirões da Campanha, no primeiro e segundo semestre. Com um olhar especial, não apenas para o apiário em si, mas para o conjunto da propriedade e todos os benefícios das abelhas: “As vezes as pessoas se incomodam com as abelhas quando entram em casa, eu não, convivo com elas numa boa, tomam até café comigo na xícara (risos) e ninguém lá em casa nunca foi picado, eu acho que quando a gente vê uma coisa dessas, deve é se preocupar, que tá havendo algum desequilíbrio, que elas estão sem alimento e sem água”, disse Angineide Macêdo, agricultora do Sítio Bodopitá e vice-presidente do STR Queimadas.
Atualmente existem no território 20 jovens apicultores e 45 jovens viveiritas, por meio do apoio do Projeto Sementes do Saber, desenvolvido pela AS-PTA em parceria com o Comitê Católico Contra a Fome a Favor do Desenvolvimento (CCFD) e co-financiado pela União Europeia, estes jovens estão recebendo kits de apicultura e viveirismo para fortalecer as suas ações.