Rio de Janeiro | Como aproximar os consumidores dos produtores que se dedicam à agricultura familiar e à agroecologia e estão à margem dos grandes circuitos de comercialização de alimentos? Quais são os desafios das experiências de autogestão protagonizadas por alguns desses agricultores?
Estes foram os principais temas discutidos no seminário “Mercados e produtos locais, consumo local, valorização de produtos locais”, que reuniu no Rio de Janeiro, entre os dias 12 e 14 de maio de 2016, organizações de assessoria à agricultura familiar, além de entidades e grupos que apresentaram suas experiências nesse tema.
Promovido pela Misereor, agência alemã de cooperação para o desenvolvimento, com apoio da AS-PTA, o seminário debateu os obstáculos e as soluções encontradas pelos agricultores para fazer chegar às mãos dos consumidores alimentos mais saudáveis e a preços justos. Entre as associações de agricultores que participaram do evento estavam a Central do Cerrado – Produtos Ecossociais, o Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), a Rede de Comunidades Autogestionárias de Porto Alegre, além de organizações como o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) e o Slow Food.
Resumindo alguns dos obstáculos comuns às organizações de agricultores familiares e de produtos orgânicos, Luiz Carrazza, da Central do Cerrado, citou os entraves normativos (fiscais, sanitários etc.), a concorrência, a dificuldade de se diversificar os canais de comercialização e as questões relacionadas à logística de transporte e venda no mercado varejista. Além desses fatores, foi lembrada a falta não só de recursos financeiros, mas também de experiência em gestão comercial, financeira, administrativa e de estoques.
O seminário propiciou também uma ampla reflexão sobre propostas e estratégias das organizações para enfrentar essa gama de dificuldades. Em linhas gerais, foi ressaltada a importância do maior engajamento na aprovação ou consolidação de políticas públicas de apoio à agricultura familiar e orgânica, e de incentivo à pesquisa e ensino nessa área.
Foram destacadas, igualmente, as iniciativas visando à manutenção dos programas de compras institucionais, e em especial à sensibilização das Prefeituras para adquirirem seus alimentos de agricultores familiares e orgânicos. Ainda na avaliação dos participantes, são necessárias mais ações e campanhas de educação alimentar, que incentivem os consumidores a comprar produtos locais/agroecológicos e a levar em conta a sua sazonalidade.
Outro ponto ressaltado foi a importância do fortalecimento de redes de produtores e das feiras, como espaço de formação, mobilização e sensibilização, tanto dos feirantes quanto dos consumidores. Ainda em relação a esse ponto, foi sugerida a realização de festivais de agricultura familiar, com mostra, degustação e comercialização de produtos.
O seminário possibilitou também abrir espaço para o intercâmbio de experiências de autogestão como, por exemplo, a que ocorre no Rio Grande do Sul, protagonizada pela Rede de Comunidades Autogestionárias de Porto Alegre. Daiane Marçal, da comunidade Pachamama, que pertence à Rede, explicou que o seu funcionamento está baseado na prática da autogestão, com planejamento horizontal, na propriedade coletiva dos meios, na socialização total dos recursos e na divisão igualitária do trabalho.
Ao abrir espaço para o intercâmbio de experiências entre os diversos projetos apoiados pela agência Misereor, o seminário procurou fortalecer e inspirar os que trabalham com a agroecologia, ou em comunidades autogestionárias, apontando soluções e caminhos que consigam reduzir os obstáculos à comercialização dos seus produtos.