Os agricultores e as agricultoras que integram a Comissão de Sementes do Polo da Borborema têm um motivo a mais para sentirem orgulho das suas sementes crioulas, na Paraíba, conhecidas como “Sementes da Paixão”. A Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias – Embrapa lançou no mês de maio deste ano o Comunicado Técnico número 186, intitulado: “Desempenho de Variedades Crioulas e Comerciais de Feijão-Macassar ou Feijão-Caupi no Agreste Paraibano”, resultado de uma pesquisa participativa realizada nos municípios de Remígio e Areial, que fez um diagnóstico de 67 variedades de feijão em seis comunidades estudadas.
Foram realizados ensaios comparativos com 10 variedades de sementes de feijão macassar, sendo sete de sementes crioulas (Verde ligeiro, Costela de vaca, Corujinha, Cariri, Sedinha, Azul e Sempre verde) e três variedades comerciais da Embrapa de Petrolina-PE (Pajeú, Guaribas e Nova Era). Essas variedades comerciais são as distribuídas por meio da política de sementes para as famílias agricultoras do semiárido, e tem sido uma constante a compra de poucas variedades comerciais, mesmo diante da diversidade climática e de ambientes observadas no Semiárido Brasileiro. A pesquisa foi realizada em parceria com a Embrapa Tabuleiros Costeiros de Sergipe, a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e os agricultores da Comissão de Sementes do Polo da Borborema e da Rede de Sementes da Articulação do Semiárido Paraibano.
Os ensaios comparativos aconteceram na região da Borborema no Centro Agroecológico São Miguel, em Esperança-PB, no Assentamento Lagoa do Jogo em Remígio-PB e no Sítio Arara, município de Areial, que contaram com a participação de agricultores e agricultoras guardiões de sementes ligados à dinâmica da Comissão de Sementes do Polo da Borborema.
Os experimentos comprovaram a superioridade das sementes dos agricultores em detrimento das variedades comerciais, estando submetidas a condições climáticas desfavoráveis. Todas as variedades crioulas dos bancos comunitários de sementes apresentaram produção de grãos acima das variedades comerciais. A semente dos agricultores que mais se destacou foi a Costela de vaca, produzindo 760 kg por hectare em comparação com a variedade comercial Nova Era, que produziu 210 kg por hectare. Já o melhor tratamento foi o uso de composto orgânico com esterco produzido nas esterqueiras e restos vegetais.
O Comunicado foi lançado durante a realização do Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, realizado entre os dias 06 e 09 de junho, em Aracaju-SE, na oficina de gestão de Bancos de Sementes Comunitários. Seu Joaquim Santana, agricultor experimentador do município de Montadas-PB, esteve presente e avaliou o resultado: “Essa pesquisa mostra o que nós agricultores já sabemos, mas ela é muito importante para os governos saibam que a nossa semente é de qualidade. A partir de agora acabou essa história de dizer que não compram as sementes dos agricultores porque não temos uma boa semente pra oferecer, se não comprarem agora é porque não querem”, disse.
O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Amaury Santos, um dos responsáveis pelo estudo, avalia que as pesquisas participativas contribuem para o fortalecimento da agroecologia e para a mudança positiva na vida das pessoas: “Ainda existe no ambiente acadêmico uma visão de que a agroecologia não é ciência. Então, no momento em que a Embrapa publica um estudo como este, o tema se fortalece. Mas o mais importante é que esse conhecimento não é só mais um pedaço de papel, os agricultores participantes da pesquisa se apropriaram dele, e tanto conseguem ver o seu conhecimento sendo valorizado, como somam novas informações à sua experiência, aperfeiçoando-a”.
Para Emanoel Dias, do Núcleo de Sementes da AS-PTA, os resultados obtidos ajudam a fortalecer as políticas de sementes no Semiárido: “Aqui o que a gente quer afirmar não é que as variedades comerciais são pobres, e sim que existem nos bancos de sementes comunitários variedades que produzem igual ou melhor que as variedades que estão sendo compradas para os programas de distribuição de sementes, pois elas já estão adaptadas àquela região. Um política de sementes pensada com poucas variedades para todo o Semiárido é uma política fadada ao fracasso, porque gera dependência”, afirmou.
Clique aqui e leia o Comunicado Técnico 186 – Desempenho de Variedades Crioulas e Comerciais de Feijão-Macassar ou Feijão-Caupi no Agreste Paraibano