Em 19 de setembro de 2012 desapareceu a jovem Ana Alice de Macedo Valentin, militante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Queimadas, integrante do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos da região da Borborema. A jovem foi raptada, estuprada e violentamente assassinada pelo vaqueiro Leônio Barbosa de Arrruda, quando voltada da escola, aos 16 anos, nas proximidades do sítio Bodopitá onde residia. Seu corpo só foi encontrado 50 dias após o crime, enterrado em uma fazenda no município vizinho Caturité-PB. O criminoso tentou fazer uma nova vítima, que sobreviveu e o denunciou. A busca pelo corpo da jovem agricultora mobilizou um conjunto de entidades que se uniram por justiça e pelo fim da violência contra a mulher no Comitê Ana Alice. Graças a essa articulação, o assassino de Ana Alice foi preso e condenado, por ambos os crimes.
Hoje, quatro anos após o assassinato da jovem, o Polo da Borborema vem enfrentando uma onda de casos de violência contra a mulher, sobretudo de estupros. Já são cerca de 30 vítimas acompanhadas pelo Polo e pela ASPTA Agricultura Familiar e Agroecologia, organização que o assessora por mais de 20 anos na região. As ocorrências vêm acontecendo nos municípios de Remígio, Alagoa Nova, Areial, Montadas, Lagoa Seca, São Sebastião de Lagoa de Roça e Matinhas. Lagoa Seca é o município que registra o maior número de casos, 13 até o momento. A maioria dos casos tem uma mesma sistemática, as vítimas são abordadas quando saem ou retornam de suas casas na zona rural, muitas vezes à luz do dia, por um homem em uma moto, armado com revolver, que as obriga a entrar em matagais para cometer o crime.
Os acontecimentos têm preocupado as lideranças do Polo da Borborema, que tem buscado atuar em duas frentes: o apoio e acolhimento às vítimas e suas famílias e a articulação da rede de órgãos de proteção às vítimas, enfrentamento e identificação e punição dos culpados por esse tipo de crime. No último dia 08 de setembro, aconteceu uma reunião com o superintendente da 10ª Delegacia Seccional de Polícia Civil, Iasley Almeida, da 12ª Delegacia Seccional da Polícia Civil, representada pela Dra. Socorro Silva, a delegada responsável pela Delegacia da Mulher, Hertha de França, o Delegado Geral da Polícia Civil, João Alves e a secretária Gilberta Soares, da Mulher e da Diversidade Humana da Paraíba, entre outras autoridades.
Reuniões com os gestores públicos de saúde, educação e assistência social dos municípios envolvidos, do Centro Estadual de Referência da Mulher Fátima Lopes, Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) também vem acontecendo. “A gente sempre ouvia falar sobre casos de estupro, mas de forma muito isolada. De julho para cá, os números têm aumentado de forma assustadora. Nossa intenção é ajudar as vítimas a notificar os casos e buscar a ajuda especializada, além de contribuir para o fortalecimento da rede de serviços, que muitas vezes trabalham desconectados”, explica Lucileide Alves Gertrudes, assessora técnica da AS-PTA.
Ato contra a cultura do estupro
Para chamar a atenção para o grave problema, está previsto para o dia 25 de novembro, data em que se celebra o Dia Internacional pela Não Violência contra a Mulher, e o início da Campanha Intercontinental “16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher”, uma mobilização para lembrar os 4 anos da perda de Ana Alice e denunciar a cultura do estupro, que faz com que, em pleno século XXI, as mulheres ainda continuem sofrendo, sendo violentadas no seu direito de ir e vir, ameaçadas por um dos crimes mais hediondos que existe, que é o estupro e ainda por cima serem criminalizadas pela violência que sofrem. O ato pretende mostrar que em uma situação de estupro a mulher nunca é culpada, e sim o abusador.