Uma comitiva formada por cerca de 50 jornalistas visitou, nesta sexta-feira (21), experiências em agroecologia desenvolvidas pelo Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema na Paraíba, assessorada pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia desde o seu surgimento. O grupo de jornalistas, de veículos nacionais e regionais, veio à Paraíba convidado pela Fundação Branco do Brasil (FBB) para participar do seu 10º Encontro de Jornalistas, que aconteceu na capital, João Pessoa, entre os dias 19 e 21 de outubro.
O encontro reúne jornalistas de grandes veículos de comunicação, para apresentar a estes profissionais exemplos de experiências exitosas apoiadas pela Fundação em todo o país. A programação do encontro engloba um dia de visita de campo para que os participantes possam visitar e conhecer in loco estas experiências. O parceiro local da Fundação Banco do Brasil é a AS-PTA que, em conjunto com o Polo da Borborema, desenvolve o projeto “Ecoforte – Redes de Agroecologia na Borborema”, que trabalha com quatro eixos de atuação: mulheres e o espaço de quintais; acesso a mercados; Fundos Rotativos Solidários; sementes; e criação animal.
A comitiva visitou o Centro Agroecológico São Miguel (CASM), onde estão as sedes do Polo e da AS-PTA e no local, puderam ouvir a apresentação feita por Marcelo Galassi, da coordenação do Programa Paraíba da AS-PTA e Roselita Vitor, da coordenação do Polo da Borborema e da direção do Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Remígio-PB, que deram as boas-vindas. “Na região, vamos entrar no quinto ano seguido de seca. Este foi o ano em que menos choveu, no entanto, a gente não vê pessoas nem animais morrendo, vê sim a ampliação do número de feiras agroecológicas, o armazenamento de forragem para os animais, e outras experiências com papel muito forte das mulheres e da juventude. Para nós, construir a convivência com o Semiárido é empoderar sujeitos. Estamos aqui para afirmar que esse modelo dá certo”, disse Roselita.
Após ouvir a apresentação e ter a oportunidade de conversar com agricultores e agricultoras em estações temáticas, montadas para facilitar o entendimento sobre o trabalho, os visitantes seguiram para a Comunidade Cinza, na zona rural de Esperança-PB. Lá vivem, o jovem Delfino da Silva Oliveira, de 23 anos, e sua família. Delfino hoje é feirante da Ecoborborema, associação que reúne feirantes da rede de 12 feiras agroecológicas do Polo da Borborema. Ele também participa da Comissão de Jovens do Polo e recentemente começou a atividade de apicultor.
O jovem contou aos visitantes o quanto os apoios que recebeu foram determinantes para a sua permanência no campo e sua opção por viver da agricultura. “O meu pensamento era de ir para a cidade. Mas, quando chegou a minha vez, foram chegando os projetos, primeiro pelo sindicato, depois veio o PAIS (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável), que me ajudou a produzir hortaliças. Vieram também os cursos, oficinas, intercâmbios e eu fui aprendendo cada vez mais. Aí, fui vendo que dava para produzir e que eu não precisava sair. Hoje eu já construí uma casa, comprei uma moto e um carro, tudo coisas que eu consegui fruto da minha participação na feirinha”, afirmou. “Aqui no inverno a gente planta de tudo, tendo a semente, a gente planta e colhe, já na seca, tem que reduzir, ir cuidando do que tem para não faltar, tem que saber trabalhar e não deixar de acreditar”, completou.
Delfino apresentou ainda, entre outras, a tecnologia do biodigestor, que produz o biogás a partir de esterco de animais ruminantes. “Aqui em casa, minha mãe não quer mais saber de lenha, nós já vamos para o oitavo mês sem precisar comprar bujão de gás. Antes era um por mês”, explica o jovem.
O jornalista Rinaldo de Oliveira, idealizador do site “Só notícia boa”, esteve pela primeira vez na Paraíba e falou sobre o seu contentamento com tudo o que presenciou: “Estou muito feliz de ver tudo isso, porque a imagem que a gente tem daqui é horrível, a imagem mostrada pela mídia é a de um lugar inóspito, de morte e terra rachada. Eu estou tendo a oportunidade de ver que existe vida na seca. Gostei bastante de ver as oportunidades que estão dando para que as pessoas permaneçam no campo. Muito bom ver essa garotada produzindo, estudando, crescendo”. O jornalista contou que planeja mostrar um pouco do que viu, através do seu canal no youtube: “Eu vou poder levar uma outra imagem das regiões secas. E que família cheia de esperança! A nossa audiência é formada, em grande parte, por pessoas do sudeste e centro oeste, vai ser bacana mostrar estas experiências”, finalizou.
Patrícia Pamplona é repórter da editoria de Empreendedorismo Social do jornal A Folha de São Paulo, ela também vai voltar para o seu estado com uma nova impressão da região semiárida: “Eu sou de Florianópolis e moro em São Paulo e o que chega para a gente é um estereótipo de lugar arrasado, é muito bom chegar aqui e ver uma população vivendo com qualidade. A noção de sustentabilidade é muito associada a acadêmicos, então, ver isso aqui me deixa esperançosa e feliz”, disse a repórter.
Para Bruno Maciel, gerente de comunicação e mobilização social da Fundação Banco do Brasil, o encontro, sobretudo a visita, superou as expectativas da organização: “Tudo que a gente tinha planejado aconteceu de uma forma muito feliz, deu tudo muito certo. As pessoas estão demonstrando muito interesse pelo projeto e está todo mundo muito satisfeito, principalmente com a visita de campo. Acho que a AS-PTA demonstrou lá em sua sede a seriedade com que é realizado esse trabalho e, aqui na visita a propriedade do jovem Delfino, a figura dele, corrobora essa seriedade, e acho que todo mundo sai ganhando, todo mundo quer contribuir. Os vários entes que trabalham nessa cadeia, querem algo em comum, que é melhorar a vida do outro. O que a gente conseguiu observar é que de fato a vida melhorou, começou a mudar e o trabalho da AS-PTA aqui, da Fundação Banco do Brasil é fundamental para que essa roda gire”, avaliou. Após a visita, a comitiva retornou para João Pessoa, para o encerramento do encontro.