No último dia 20 de outubro, foi realizada a reunião de lançamento da oitava edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que em 2017, será realizada no dia 08 de março, em Alagoa Nova-PB, um dos municípios que compõe o Polo da Borborema. Estiveram presentes na reunião integrantes das Comissões Territorial e Municipal de Saúde e Alimentação e diretores e diretoras do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova, além de assessoras da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
A manhã começou com uma avaliação das mulheres presentes sobre o significado da marcha em suas vidas: “Dá um prazer de ver tanta mulher junta, fazendo dramatização, falando da vida de escravidão, mas também se libertando e falando da sua libertação. A cada ano, eu vejo que vai melhorando na divulgação, na quantidade de pessoas, na qualidade do encontro. Ali as mulheres têm chance de abrir sua cabeça. Ali naquele dia, a gente expressa a questão da violência contra mulher”, avalia dona Quinca, uma liderança do Sindicato de Alaoga Nova. As mulheres presentes foram falando uma a uma o significado da participação e da realização da Marcha: luta por direitos, conquista de espaço, de liberdade, participação.
Em seguida, foi o momento de debater sobre o significado da Marcha para o município e para a ação sindical. Nessa ocasião, quatro lideranças do Polo da Borborema puderam contar quais foram os aprendizados para seus municípios: “A realização da Marcha em Areial foi muito importante para envolver mais a diretoria, as associações e com isso fortaleceu o Sindicato. As comunidades também foram se fortalecendo, passaram a fazer o debate sobre a violência contra mulher, puderam aprofundar a agroecologia como caminho para desenvolver o município”, avalia Zeneide Granjeiro, Presidenta do Sindicato de Areial, município que recebeu a última edição da Marcha.
Marizelda Salviano é diretora do Sindicato de Esperança e lembrou que a terceira edição da Marcha chegou ao município quando a atual diretoria havia ganhado a eleição sindical: “Quando recebemos a Marcha nos sentimos presenteados, ganhou o município, o sindicato e as mulheres. Com a Marcha, tivemos oportunidade de abrir o debate sobre a violência contra mulher. A marcha trouxe conhecimento, oportunidade para as mulheres do município de ir e vir, de poder dizer que não queremos essa vida de violência e opressão. A marcha é isso, é conhecimento para nos fortalecer.” Marlene Pereira, vice-presidenta do Sindicato de Lagoa Seca lembrou da importância da mobilização das mulheres: “Precisamos nos antecipar para debater com as mulheres do município para que elas possam vir conscientes para as ruas. É a oportunidade que temos para trazer aquelas que ainda acham que tem apenas como obrigação lavar, passar, cozinhar e cuidar de menino”.
Roselita Vitor, do Sindicato de Remígio e da Coordenação do Polo da Borborema, foi a última a falar, mas lembrou que a Marcha nasceu em seu município a partir da necessidade do próprio Sindicato rever o papel das mulheres na diretoria, nas associações e na agricultura: “Quando assumimos o Sindicato, as mulheres eram quase secretárias dos homens e aquilo nos incomodava muito. Em 2008, fizemos um seminário sobre a Lei Maria da Penha. Esse encontro foi muito importante para as mulheres, mas para a gente que estava na direção também. Percebemos que tínhamos que envolver mais as mulheres no trabalho, no sindicato, vimos que tínhamos que rever nosso papel no Sindicato. Nesse ano, fizemos junto com o Fórum de Assentados uma Marcha de Mulheres. E ali foi um marco para nossa ação sindical. Foi ali que resolvemos que tínhamos que lutar por direitos. E a Marcha é isso também! É a gente refletir que temos um papel dentro do movimento sindical de lutar por nossos direitos.
Manoel Oliveira, ou Nequinho, como é conhecido o presidente do Sindicato de Alagoa Nova lembrou do papel que as mulheres tiveram na história dos municípios do brejo, quando chegou a militar por direitos ao lado de Margarida Maria Alves. Lembrou que outras mulheres “tombaram” na luta pela reforma agrária. “Mais do que nunca, temos que nos permanecer unidos pela luta de direitos. E a Marcha das Mulheres tem um papel importante nessa conjuntura. O Sindicato apoiará essa luta e saímos daqui com o compromisso de trazer no mínimo 2,5 mil mulheres para o dia 8 de março”.
Após o debate, permeado pelas canções de luta que já viraram hinos nas Marchas, foi construída uma coordenação municipal formada por 15 mulheres que irá, junto com a Comissão Territorial de Saúde e Alimentação, tocar o processo preparatório à Marcha. Foram agendados momentos de formação com essa coordenação, a construção de uma agenda de debates comunitários, a participação nos programas de rádio municipal e do Polo da Borborema, reuniões com setores públicos como saúde, educação, assistência social, agricultura, etc.
A Marcha pela Vida das Mulheres e Pela Agroecologia é realizada todos os anos pelo Polo da Borborema em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. A primeira edição da Marcha aconteceu no ano de 2010, no município de Remígio, com a participação de 700 mulheres. Nos anos seguintes, o que se observou foi a adesão de um crescente número de mulheres. Em 2016, a sétima edição levou às ruas de Areial mais de 5 mil mulheres camponesas.