Cultivadas e adaptadas ao longo dos anos, as Sementes da Paixão são verdadeiros tesouros para as famílias agricultoras. Além de toda a riqueza genética que essas sementes carregam, elas trazem consigo a cultura e a história de resistência de vários povos. No assentamento Che Guevara em Casserengue-PB, um dos municípios de atuação do Polo da Borborema, mais um Banco de Sementes Comunitário está sendo fortalecido pelas ações da Comissão de Sementes do Polo, que já contabiliza cerca de 60 bancos.
Na oficina de formação, que aconteceu na sede do assentamento na manhã da última quinta-feira (17), agricultoras e agricultores do assentamento e lideranças de outros BSC do município reuniram-se a fim de refletir sobre a importância das Sementes da Paixão e o fortalecimento da solidariedade entre as comunidades. Uma “teia” foi formada entre os agricultores na mística de abertura que pedia para que, enquanto se passava um barbante entre os participantes, cada pessoa se apresentasse e dissesse qual semente gostaria de representar. Além do milho jabatão, da fava orelha de vó e de outras variedades, os participantes lembraram ainda das sementes da resistência e da luta, que representam bastante o esforço e empenho das famílias agricultoras.
Com intuito de aprofundar o debate, os agricultores foram convidados a refletir sobre questões como o porquê guardar e a quem pertencem às sementes da paixão. O momento trouxe uma rememoração sobre as sementes que os agricultores traziam como tradição familiar, a perda de algumas destas e ainda sobre a importância dos bancos de sementes para a comunidade. “Os bancos não são importantes somente para a segurança dos agricultores, mas também para sua soberania”, diz Augusto Belarmino, jovem agricultor e liderança do assentamento, que em sua fala externou o problema que é depender da compra de sementes todos os anos.
Para entender melhor o funcionamento do trabalho, o vídeo Rede de BSC do Polo da Borborema foi apresentado, seguido de uma discussão sobre a importância da organização dos agricultores e agricultoras e o trabalho em parceria com outros bancos de sementes da cidade e da região. No vídeo produzido pela AS-PTA e o Polo, vários agricultores compartilham sua história que se mistura com a história de suas sementes. Bem lembrado por um dos participantes do encontro, a perpetuação da história e da vida na agricultura familiar está principalmente na conservação das Sementes da Paixão.
O segundo momento da oficina apresentou alguns materiais que auxiliariam na organização do banco de sementes da comunidade. Cadernos de monitoramento e carnês para auxiliar entrada e saída de sementes, além de uma catalogação do que a comunidade adquire para o banco. Dando prosseguimento, a campanha “Não Planto Transgênicos para Não Apagar a Minha História” foi apresentada aos agricultores o vídeo homônimo, que traz depoimentos de vários guardiões e guardiãs falando sobre seu amor por suas sementes e suas estratégias para conservação das mesmas.
Foram apresentados ainda, outros materiais como o cartaz da campanha, que traz orientações sobre como evitar a contaminação, sobretudo das sementes de milho mais facilmente contaminados. A discussão que se seguiu, trouxe elucidação de dúvidas quanto aos transgênicos e as estratégias de combate a estes, além da exibição do vídeo-animação da campanha.
Por fim, alguns encaminhamentos foram feitos para a concretização do Banco de Sementes Comunitário do assentamento. Entre eles a organização dos materiais adquiridos para melhorar a estruturação do Banco, o engarrafamento das sementes e a aquisição de novas sementes de interesse das famílias, além da criação de um campo de multiplicação de sementes já no próximo período de chuva.
Essa atividade foi realizada com apoio do Projeto Ecoforte Rede de Agroecologia da Borborema, com recursos da Fundação Branco do Brasil.