Na data em que se comemora o Dia da Reforma Agrária, 30 de novembro, a Comissão de Jovens do Polo da Borborema realizou em Areial, no Agreste Paraibano, a III Feira Agroecológica e Cultural da Juventude Camponesa para lembrar a data. O evento, que em sua terceira edição trouxe o tema da Reforma Agrária no contexto da juventude do campo, tem se constituído em um importante espaço de visibilidade da produção e das experiências dos jovens, além de ser um laboratório para a juventude na arte de comercializar. O evento acontece com parceria com a EcoBorborema, associação de feirantes da região que reúne 12 feiras agroecológicas.
A feira teve início por volta das 8h, com a exposição e a comercialização de produtos e experiências desenvolvidas pelos agricultores e agricultoras jovens da região de atuação do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos rurais na região da Borborema na Paraíba, que há 20 anos atua pelo fortalecimento da agricultura camponesa de base agroecológica, com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. Nas cerca de 10 barracas montadas na Praça Teotônio Barbosa, no Centro da cidade, foi possível encontrar uma diversidade de artesanato e de frutas, legumes e hortaliças, além de produtos da agricultura familiar beneficiados como mel, polpas de fruta, tapiocas, queijo, bolos, beijus e doces.
No espaço da Praça também ficaram expostas estações com demonstração de experiências desenvolvidas por jovens, como testes de transgenia em sementes, plantas ornamentais e hortas verticais, aplicação de serigrafia em camisetas e kit de apicultores. Fabrício dos Santos, de 28 anos, é agricultor do Sítio Arara, em Areial e conta que desenvolve a apicultura desde pequeno. O jovem cultiva as abelhas com ferrão da espécie Ápis. Ele era um dos mais empolgados em explicar aos visitantes da feira as técnicas atuais para a colheita do mel: “Antes a gente fazia a coleta do mel no meio do mato. Hoje com estes equipamentos que a gente tem, facilita o nosso trabalho e o trabalho das abelhas, é bom para os dois”, brincou o agricultor.
A parte cultural da feira ficou por conta do talento de jovens cordelistas e poetas, que declamaram textos alusivos ao tema da feira. O Grupo União, formado por mulheres da terceira idade do município de Areial apresentou um número de dança.
A feira chamou a atenção da população local, que há pouco mais de um ano, passou a contar com uma feira agroecológica funcionando no município às sextas-feiras, dentro da rede de Feiras do Polo da Borborema. Creonice Targino, de 62 anos e Francisca Leonardo, de 73 anos, fazem parte de um grupo de idosas que se exercitam na praça de Areial três vezes por semana. Elas aproveitaram para visitar a feira e cuidar um pouco mais da saúde, ao comprar alimentos sem agrotóxicos: “É bom porque a gente come sem medo. Fica se sentindo segura. A gente já tem essa preocupação com a saúde e recebe várias orientações com relação à alimentação”, afirmou Creonice, que levou pra casa ainda cactos ornamentais.
Durante a programação da feira, houve espaço para testemunhos de jovens agricultores, como Alan Kilson, assentado da reforma agrária no Assentamento Oziel Pereira, em Remígio-PB. “Nós vivemos um momento político muito complicado. Por isso, é bom ver aqui uma juventude organizada, mostrando sua produção, sua cultura, isso é uma forma de resistência e nos mostra que a reforma agrária dá certo. Sabemos que as propriedades aqui são muito pequenas, então a gente precisa de mais terra para os jovens poderem plantar, pois nas dos seus pais, não há espaço. Por isso a luta pela reforma agrária é tão importante”, disse.
Nelson Ferreira, agricultor e liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca e da Coordenação do Polo da Borborema, fez uma fala trazendo a importância do tema da reforma agrária: “A luta pela terra é tão antiga que vem desde a colonização, quando invadiram e tiraram da terra de quem por direito era dona dela, os índios. Mas eu digo que a primeira reforma agrária tem que nascer dentro de cada um de nós, dessa juventude que está aqui, o amor pela terra começa no desejo de ter terra para plantar. Esse país deve muito a nós, agricultores e a essa juventude, que é quem vai fazer a sucessão rural. Precisamos despertar para a valorização da juventude e a reforma agrária é uma luta que precisamos enfrentar. Essa feira é para dizer a vocês da cidade, que aqui tem como se alimentar com saúde, isso é o resultado da reforma agrária”, afirmou.
A feira foi encerrada com uma mística que propôs uma reflexão sobre o sentido da luta para a juventude camponesa. Ao som de um tambor, jovens iam tomando o centro do espaço empunhando enxadas e dizendo em voz alta porque lutavam, ou seja, quais as suas bandeiras de luta. Após todos terem falado, os jovens formaram a palavra “luta” com as enxadas no centro de um círculo formado pelo restante dos participantes da feira. Ao final uma grande ciranda se formou, onde todas e todos cantaram “Mãe terra te sinto, sob os meus pés. Mãe terra eu ouço seu coração!”, no ritmo de uma toré (dança indígena).
A primeira edição da feira aconteceu no dia 30 de junho de 2016 em Massaranduba-PB, como preparação para a I Marcha da Juventude Camponesa – na luta pela agroecologia, que levou mais de mil jovens rurais às ruas de Remígio-PB, no dia 28 de julho de 2016. A segunda edição aconteceu dentro da programação da Marcha.
O conjunto do trabalho com a juventude camponesa do Polo da Borborema conta com apoio das entidades da cooperação internacional Comitê Católico Contra a Fome a Favor do Desenvolvimento (CCFD), ActionAid e terre des hommes schweiz.