Cerca de 80 agricultoras e agricultores feirantes se reuniram em Lagoa Seca-PB, no dia 05 de dezembro, para a Assembleia Ordinária de final de ano da EcoBorborema, associação responsável pela rede de 12 feiras agroecológicas do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema na Paraíba, que atua há mais de 20 anos com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
A Assembleia aconteceu na sede do Banco Mãe de Sementes, no Sítio Quicé. A programação da manhã propôs uma reflexão sobre os princípios da EcoBorborema e seu regimento. A solidariedade entre as feiras e as pessoas, a garantia da produção agroecológica da feira como um todo, o compromisso com a agroecologia, a contribuição para o fundo das feiras e a participação nas reuniões, foram alguns dos princípios lembrados pela plenária. Após uma rodada entre os presentes, foi feita a leitura do regimento e aberto para colocações sobre ele.
Roselita Vitor, liderança do município de Remígio e da Coordenação do Polo da Borborema, colocou a necessidade de o regimento incorporar questões novas, que tem surgido na realidade atual: “O papel e a participação dos jovens e das mulheres nas feiras e nos outros espaços de comercialização, a obrigatoriedade da participação nos espaços de formação e experimentação precisam estar expressos no regimento, lembro também aqui que existem produtos que estão nas feiras, aqui e ali, que não expressam a agricultura familiar. Precisamos rever isso para que a gente possa expressar a participação de todos os sujeitos e criar processos solidários, sistematizar novas experiências de jovens e mulheres na comercialização, como já fizemos este ano”, frisou.
Após esse momento, foi exibido um vídeo, produzido pelo Programa Fantástico, da Rede Globo de televisão em 2016, que trata dos vendedores de falsos orgânicos. A reportagem flagrou pessoas comprando produtos na Ceasa e vendendo em feiras de alimentos orgânicos. O vídeo provocou um debate sobre a importância do trabalho organizado e coletivo de instituições como a EcoBorborema. “A Eco é um coletivo, isso significa dizer que se alguém aprontar em qualquer uma das feiras, é a imagem de todas as feiras que vai ser prejudicada”, afirmou Anilda Pereira Batista, agricultora do Assentamento Oziel Pereira, em Remígio e da coordenação da EcoBorborema.
Marcelo Galassi, da Coordenação da AS-PTA, também falou sobre suas impressões acerca da matéria: “O vídeo chama a atenção para a questão da fiscalização, mas a gente vê que sempre vai ter alguém tentando burlar a lei no sistema capitalista em nome do lucro, o que faz com que as pessoas se afastem de princípios como os que foram reafirmados aqui hoje. O modelo de fiscalização das feiras adotado pela EcoBorborema é descentralizado. E eu penso que os momentos de reunião, não são só uma obrigação, mas são aquilo que nos conecta com estes princípios e são a razão de estarmos participando da feira”, disse.
Com o fim do debate, seguiu-se uma apresentação das experiências de quatro feiras da rede da EcoBorborema, dos municípios de Remígio, Massaranduba e Esperança, que são mais antigas, a de Remígio completou 10 anos de existência ininterrupta, e da feira de Areial, que tem pouco mais de um ano de existência, mas já tem fortemente a incorporação de jovens na comercialização e também à frente da coordenação da feira.
Chamou a atenção dos participantes o fato da feira de Esperança ter aumentado o número de barracas de 10 para 14, após o redesenho, quando ela passou a funcionar em um dia diferente da feira livre do município, se diferenciando enquanto feira agroecológica. Ainda a feira de Massaranduba, que funcionava desde 2003 apenas em períodos de inverno, e de 2011 para cá, com o apoio dos Programas de acesso à água de produção como o P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas), passou a funcionar semanalmente, o ano inteiro. O nível de organização da feira de Remígio com reuniões e atividades de formação nas comunidades, com apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
No período da tarde, foi socializado um balanço de cada uma das 12 feiras (Solânea, Massaranduba, Arara, Areial, Campina Grande – com duas feiras, Esperança, Remígio, Lagoa Seca, São Sebastiao de Lagoa de Roça, Casserengue, Alagoa Nova), fruto dos encontros municipais de feirantes em preparação para a assembleia, onde cada município pensou seus avanços, desafios e perspectivas para o ano que vem.
Emanoel Dias, assessor técnico do Núcleo de Sementes da AS-PTA, lembrou que o momento atual é de uma conjuntura de menos recursos para a agricultura familiar, o que coloca novos desafios para a permanência nas feiras: “Nós tivemos um ano com diversos apoios às feiras para a compra de barracas, caixas, fardamento e embalagens, mas temos que ter consciência que em 2017 o nosso horizonte é de redução desses apoios e dos programas de compra direta do governo, o que nos coloca o desafio de seguir com os fundos rotativos e outras alternativas para a continuidade desse trabalho”. Após isso, divididos em grupos de cochicho, os presentes refletiram tentando responder à seguinte pergunta: “Como podemos fortalecer o trabalho da EcoBorborema em 2017?”.
Entre diversas propostas apresentadas, pode-se destacar: A criação de um ponto fixo de comercialização, cuja renda poderia ser revertida para as atividades de formação; Engajamento de mais jovens nas feiras; A realização do 1º Encontro Regional das Feiras Agroecológicas com encontros municipais preparatórios; Intensificar o intercâmbio de produtos e de experiências entre as feiras; Fortalecer a comissão de mercado do Polo da Borborema; Seguir fortalecendo e apoiando o melhoramento das cozinhas; Fortalecer e ampliar os Fundos Rotativos Solidários das Feiras; Inserir novas famílias na EcoBorborema; Investir mais em oficinas de produção de sementes de hortaliças.
Ivanilson Estevão, do Núcleo de Saúde e Alimentação da AS-PTA, falou ainda da linha de produtos da agricultura familiar “Do Roçado”, marca criada para padronizar e aperfeiçoar a apresentação e embalagem dos produtos comercializados nas feiras da EcoBorborema, que está em processo de impressão e produção de rótulos e recipientes. O jovem Adevan Firmino dos Santos, 21 anos, do Sítio Arara, falou sobre as Feiras Agroecológicas e Culturais da Juventude Camponesa do Polo da Borborema, cuja última edição aconteceu no dia 30 de novembro, em seu município: “Essas feiras têm sido muito importantes pra nós jovens, pois muitas vezes sofremos o preconceito de dizerem que a gente não quer nada. Nas feiras, a gente mostra a nossa produção e divulga nosso trabalho”, avaliou.
O trabalho de apoio às feiras no Polo da Borborema tem contado com financiamento do Projeto Ecoforte – Redes de Agroecologia da Borborema, da Fundação Banco do Brasil.