– por Cláudia Guimarães
“Os bancos de sementes têm um papel fundamental na melhoria da segurança alimentar e nutricional das famílias da região [da Paraíba]. É um espaço importante, onde temos materiais adaptados e resistentes. Nos bancos, são estocadas sementes que vão servir tanto para o plantio quanto para a alimentação”, destacou Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA .
A declaração está na série Fonte da Juventude, exibida em quatro episódios pelo programa Fantástico, da TV Globo, entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017. Com direção e roteiro de Estevão Ciavatta e narração de Regina Casé, o material é parte de um documentário, homônimo à série, que será lançado nos cinemas em 2017 (e posteriormente será transformado em material educativo para ser usado nas escolas).
“Em 1974, criamos um banco de sementes comunitário, com grãos que vêm passando de geração a geração. Começamos com 10 famílias; hoje, já são 150. Chamo essas sementes de sementes da paixão”, disse, ao ser entrevistado, o agricultor Zé Pequeno, de Alagoa Nova, na Paraíba.
“A diversidade está na base da civilização humana. Começamos a nos desenvolver como tal a partir do momento em que o ser humano passou a usar a biodiversidade, principalmente, para a sua alimentação”, afirmou Roberto Smeraldi, do Instituto ATÁ.
Enfatizando a importância da preservação e valorização da nossa biodiversidade, a série apresentou as chamadas “Panc” (Plantas Alimentícias Não Convencionais), que são pouco conhecidas e raramente utilizadas na alimentação dos brasileiros.
Fonte da Juventude também mostrou diferentes experiências de agricultura orgânica no espaço urbano, como a de Vanessa Dancinger e Antonio Soares – ambos no Rio de Janeiro – e Terezinha Matos, na Zona Leste da capital paulista.
Produção orgânica em escala
O programa lembrou que o Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos: “Usamos muitos produtos que já foram proibidos em outros países, por suas implicações negativas na saúde, seja câncer ou outras doenças. No Brasil, essas empresas têm isenção fiscal, o que fortalece a venda desses produtos”, criticou Maria Eduarda Leão, do Instituto Nacional do Câncer.
Desmentindo uma informação que é repetidamente afirmada, a série mostrou que é possível uma produção sem agrotóxicos em grande escala. “Existe o estigma de que a produção orgânica não poderá alimentar o mundo. Mas temos provado que existe outra forma de fazer agricultura. Nós praticamos controle biológico e criamos inimigos naturais às pragas da cana de açúcar. E estamos colocando isso em prática em 20 mil hectares de plantação. Hoje, nossa produtividade é 23% maior do que a média do Estado de São Paulo”, afirmou Leontino Balbo, da Native, proprietária da Usina São Francisco, em Ribeirão Preto.
Em seu depoimento à série, ele revelou ter feito experimentos com outras culturas – como soja, milho e algodão – que mostraram ser possível eliminar pelo menos 70% dos agrotóxicos e fertilizantes químicos, sem prejuízo à produtividade.
Mas, segundo Leontino, o mais importante “não é o que fazemos fora da planta. Nós aprendemos que, quando alimentamos a planta naturalmente, ela ativa um modo fisiológico que permite construir seus tecidos com moléculas de proteínas que insetos, bactérias e fungos não conseguem digerir”, garantiu.
O mito da falta de alimentos
A série destacou que, ao contrário do senso comum, a produção de alimentos seria suficiente para suprir as necessidades do dobro de pessoas no planeta. “Não é verdade que falta alimento. Falta é acesso dos mais pobres ao alimento, assim como o acesso no mundo inteiro a alimentos saudáveis”, afirmou Ana Lydia Sawaya, do Departamento de Fisiologia da Nutrição, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O programa criticou também o desperdício de alimentos (segundo a Organização Mundial para Alimentação e a Agricultura-FAO, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas todos os anos no mundo).
A importância da mulher na agricultura
Fonte da Juventude assinalou a relação, apontada pela FAO, entre o maior empoderamento das mulheres e a produção de alimentos saudáveis. Segundo o órgão, se as mulheres tivessem acesso aos mesmo recursos que os homens para a produção, as colheitas poderiam ser de 20 a 30% maiores.
A série lembrou ainda que, desde 2009, a Lei 11.947 determina que 30% da merenda escolar venham da agricultura familiar. “O ambiente escolar é o mais estratégico de todos para discutir a questão da alimentação. Primeiro, porque ali se garante que a criança coma bem pelo menos uma vez ao dia. Segundo, porque se ela comeu bem, vai levar esse hábito para casa. Terceiro, porque no Brasil, só na rede pública 43 milhões de crianças são atendidas pela merenda escolar”, afirmou a economista Tereza Campello. E acrescentou: “Na escola, você pode criar um ambiente de valorização da comida saudável. E vai comprar o alimento produzido localmente, e não em outro estado”.
Rotulagem dos alimentos
Outro tema abordado foi a importância dos rótulos dos alimentos trazerem as informações de forma clara e numa linguagem padronizada. “O rótulo é o principal meio de informação para os consumidores sobre o que o produto está oferecendo. É um direito da população garantido por lei desde 1990”, defendeu Ana Paula Bortoletto, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
“É preciso uma mudança no padrão de consumo. Não se trata de comer menos ou de se privar das coisas. Mas de ter muita consciência sobre o impacto que sua decisão tem sobre o planeta”, assinalou Gerd Sparovek, da Esalq, da USP.
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Para assistir os programas, acessar:
11/12/16: http://g1.globo.com/fantastico/edicoes/2016/12/11.html
18/12/16: http://g1.globo.com/fantastico/edicoes/2016/12/18.html
25/12/16: http://g1.globo.com/fantastico/edicoes/2016/12/25.html
01/01/17: http://g1.globo.com/fantastico/edicoes/2017/01/01.html