No dia 02 de março, cerca de 60 jovens camponeses do Polo da Borborema se encontraram no Convento Ipuarana, em Lagoa Seca, em preparação à oitava edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que esse ano, será realizada no dia 08 de março, em Alagoa Nova. Esse é o terceiro ano consecutivo que jovens lideranças se reúnem para debater as raízes das desigualdades entre homens e mulheres a fim de organizar a juventude para participar do ato. Na edição anterior, em Areial, participaram cerca de 500 jovens.
Após a abertura realizada por Márcia Araújo, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca e da Coordenação da Comissão Territorial de Juventude, os participantes foram divididos em três grupos: Música, Propaganda e Poesia. Para cada grupo foram selecionadas 3 peças para que os jovens pudessem analisar de forma crítica como as mulheres são retratadas, como homens e mulheres se relacionam, quais as mensagens que cada peça passa, assim por diante. Ao pararem para analisar de forma mais atenta, passaram a perceber como que por trás da melodia contagiante, das belas imagens ou mesmo nas entrelinhas das palavras rimadas escondiam-se mensagens que desqualificam as mulheres e que vai construindo e legitimando uma sociedade machista. Ao dissecarem as músicas, propagandas e poesias puderam reconhecer a objetificação da mulher, e sua transformação em um bem de consumo. Reconheceram cenas e situações em que por meio da arte ou da imagem sugeriam o estupro, naturalizando as violências contra a mulher.
O fim da cultura de estupro é uma das bandeiras de luta que a Marcha carregará esse ano. De agosto a outubro de 2016, o movimento de mulheres do Polo da Borborema contabilizou 44 casos de estupros em 8 municípios que fazem o Polo. Meninas e mulheres agricultoras foram vítimas na zona rural dos pequenos municípios da Borborema.
Após a devolução dos trabalhos, os jovens assistiram um curta-metragem chamado O Silêncio de Lara. No curta, Lara é uma adolescente que sofria abusos de seu avô, e depois de anos de sofrimento, sente-se encorajada a denunciá-lo. Ao viverem a dor de Lara, muitas meninas reconheceram situações onde também foram violentadas, e partilharam com os presentes a dor desses momentos. Trataram sobre a violência que viveram nas ruas, nas instituições e até mesmo, dentro de casa. Os jovens debateram sobre culpa, acolhimento, e sobre a importância da denúncia dos culpados.
No segundo momento, Roselita Vitor e Léia Soares, duas lideranças sindicais do Polo da Borborema e da Coordenação da Marcha, trataram com os jovens sobre a reforma da previdência social e o significado das mudanças propostas para a sociedade, para os trabalhadores rurais, e sobretudo, o impacto para a vida das mulheres agricultoras. Ao iniciar sua fala, Léia lembrou aos jovens que nenhum direito ligado à previdência dos trabalhadores rurais foi dado, foram todos conquistados por meio de muita luta. E estava ali para chamar essa geração para somar aos gritos das muitas margaridas que voltam a se encontrar no brejo paraibano. Ao final do evento, por meio da poesia e de gritos de ordem, os jovens pactuaram estarem presentes na Marcha, juntando-se a luta das mulheres e da agricultura familiar.