A Comissão de Sementes do Polo da Borborema esteve reunida no dia 13 para realizar um balanço de suas ações no primeiro trimestre de 2017, além de encaminhar questões relativas ao empacotamento e à comercialização de sementes, a ações de incidência política junto às Câmaras de Vereadores para a destinação de recursos para a compra de sementes crioulas, fortalecendo os estoques dos bancos de sementes comunitários (BSC) e para debater o aperfeiçoamento da produção do fubá de milho agroecológico.
O encontro contou com a presença de cerca de 25 pessoas, entre agricultores e agricultoras lideranças de bancos de sementes dos 14 municípios da área de atuação do Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos rurais que trabalham pelo fortalecimento da agricultura familiar agroecológica há mais de 20 anos na região com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
Após uma rodada de socialização sobre como está o trabalho dos bancos de sementes da região, quando cada município apresentou a situação dos seus campos de multiplicação, o andamento das plantações e a realização de oficinas de produção de biofertilizantes, a comissão passou a debater a questão da distribuição de sementes feitas pelos governos municipais, que historicamente, tem desconsiderado o trabalho milenar das famílias agricultoras de conservação de uma diversidade de sementes sem agrotóxicos, nativas e adaptadas à região, realizando a distribuição de poucas variedades de sementes, vindas de fora, tratadas com veneno, por meio dos programas públicos de distribuição de sementes.
De acordo com o relato dos agricultores, o trabalho que vem sendo feito de fortalecimento dos bancos comunitários fez com que as famílias sócias já não precisem mais receber as sementes distribuídas pelos governos e tenham consciência de que não são obrigados a receber, caso não queiram. “Eu digo que o meu município, Montadas, já não depende de sementes de governo para plantar. Pode até o governo sumir, que os agricultores vão plantar do mesmo jeito. Eu comparo essa questão da semente a você dar uma camisa nova pra quem esta usando uma camisa furada, se a pessoa tem acesso a uma melhor, claro que não vai se sujeitar a ficar com a que está furada. Com a semente é do mesmo jeito”, diz seu Joaquim Santana, liderança do Banco de Sementes do Sítio Montadas de Baixo e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Montadas. O município é um dos três comtemplados pelo aditivo do Programa Sementes do Semiárido, desenvolvido em parceria com a Articulação do Semiárido Brasileiro e o Governo Federal.
Nos municípios de Solânea, Massaranduba, Montadas, Lagoa Seca e Queimadas, as famílias agricultoras, representadas pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Sustentável ou simplesmente pelos mandatos de vereadores comprometidos com a agricultura familiar, tem problematizado a questão das compras governamentais de sementes e cobrado uma postura das autoridades. É o exemplo de Queimadas e Montadas e Lagoa Seca que estão solicitando, por meio de requerimentos, audiências públicas ou tribunas livres, a garantia de recursos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para a compra de sementes dos próprios agricultores, cujo conhecimento é dominado pelas famílias locais e são adaptadas as condições climáticas. “Em Queimadas, aconteceu audiência na câmara dos vereadores com a presença das famílias gestoras dos Bancos e solicitamos por meio de requerimento a compra, a princípio, de quatro mil quilos de sementes de milho para o orçamento do próximo ano”, informa o jovem Matheus Manasses, presidente da Associação do Sítio Soares.
Outro ponto debatido pela comissão foi a questão do empacotamento de sementes para a comercialização. Desde o ano passado, o Polo da Borborema vem construindo uma identidade comum para os produtos que vão para a rede de 12 feiras agroecológicas existentes no território e outros canais de comercialização. É a linha de alimentos e sementes “Do Roçado – produtos da agricultura familiar do Polo da Borborema”, que traz a padronização de rótulos, embalagens, etiquetas e sacos para o empacotamento e venda de alimentos e sementes, seja para o consumo, ou para o plantio.
A comissão agendou a realização de oficinas municipais e regionais de empacotamento de sementes, momentos em que será trabalhada ainda a Campanha “Não planto transgênicos para não apagar a minha história!”, lançada pelo Polo em 2016, que esclarece acerca dos riscos de contaminação por transgênicos dentro de um território agroecológico conhecido nacionalmente como o do Polo da Borborema.
O último ponto debatido pela comissão de sementes foi o processo que os agricultores da região vêm experimentando com a produção do fubá de milho para a produção do chamado “Cuscuz da Paixão”, feito com milho 100% livre de transgênicos, a partir da compra de duas unidades de beneficiamento. Os agricultores estão atuando em duas frentes: uma junto aos guardiões e bancos de sementes para o estímulo e a produção de milho através da implantação de campos de multiplicação de sementes e outra frente, na capacitação para o beneficiamento do fubá, como etapa que antecede a comercialização em maior escala. “Estão acontecendo capacitações nos municípios e estamos com uma parceria com a Universidade Federal da Paraíba, Campus de Areia-PB, por meio do Laboratório de Tecnologia de Alimentos, liderado pela professora Márcia Targino, e nessa parceria, estamos fazendo testes em laboratório para determinar elementos como tempo de umedecimento, secagem da farinha, prazo de validade, modo adequado de preparo e conservação do fubá de milho para que possamos vender um produto de qualidade nas Feiras Agroecológicas da região”, esclarece Emanoel Dias, assessor técnico do Núcleo de Sementes da AS-PTA.