No dia 11 de julho de 2017, foi realizada uma oficina sobre beneficiamento e empacotamento das sementes da paixão na comunidade de São Bento de Cima, município de Arara-PB. Essa atividade foi planejada pela comissão de sementes do Polo da Borborema e contou com a participação de 36 agricultores e agricultoras guardiãs das sementes da paixão dos 18 bancos comunitários de sementes dos municípios de Arara, Casserengue e Solânea.
A atividade foi iniciada com a apresentação vídeo “As sementes e suas histórias”, o qual retrata a experiência de guardiões de sementes crioulas do centro sul do Paraná. Em seguida, foi aberto um debate sobre a experiência mostrada no vídeo e seus ensinamentos para o fortalecimento da rede de bancos de sementes do Polo da Borborema. Os participantes destacaram a importância das sementes da paixão para a melhoria da qualidade de vida, seja relacionada à alimentação, mas, também, de adaptação e resistência desses materiais aos seus agroecossistemas locais. Além disso, essas sementes crioulas representam autonomia frente aos mecanismos de dominação política que usam a doação de sementes como moeda de troca por voto. As sementes distribuídas por programas públicos pouco valorizam as formas de organização coletiva das comunidades rurais, como também as sementes adquiridas em lojas comerciais deixam as famílias dependentes desse sistema na medida em que é necessária sua compra anualmente.
Dando continuidade, foi realizado um diagnóstico sobre a realidade das chuvas e a produção de sementes que serão importantes para a formação dos estoques dos bancos comunitários. De maneira geral, os agricultores relataram que, apesar das irregularidades das chuvas, a produção deverá ser superior que a do ano de 2016, com exceção da região do Curimataú de Solânea, onde a irregularidade das chuvas deverá resultar numa baixa safra de grãos e sementes.
Diante desta realidade, foram definidas estratégias para mobilização da rede de bancos comunitários e suas famílias guardiãs no sentido de recompor os estoques de sementes durante o ciclo agrícola. As principais estratégias definidas pelos participantes foram: realizar diagnóstico em cada comunidade sobre a produção de sementes; organizar reuniões com os sócios dos bancos comunitários para sensibilizar sobre a devolução das sementes; convidar novas famílias para fazer parte dos bancos de sementes; permitir a devolução de sementes de variedade diferentes daquelas que foram recebidas do banco para minimizar os problemas da falta de estoques; realizar visitas de intercâmbios como forma de animação dos bancos comunitários de sementes. Para animar esse processo serão realizadas visitas de acompanhamento técnico aos bancos de sementes, pelos Sindicatos e pela Equipe da ASPTA.
No período da tarde, os agricultores e agricultoras tiveram a oportunidade de vivenciar a prática do beneficiamento e empacotamento das sementes. Durante essa prática foram discutidas questões ligadas à qualidade, secagem, seleção, germinação, pureza e armazenamento das sementes da paixão. Para estimular o processo foi definido que ficará no Sindicato de Arara uma Unidade de Empacotamento e Beneficiamento de Sementes. As sementes serão embaladas com sacos plásticos com a marca Produtos Do Roçado e serão comercializadas nas feiras agroecológicas dos respectivos municípios.
Em seguida, aconteceu também uma prática de produção do fubá da paixão, na qual foram abordados aspectos ligados à contaminação das variedades crioulas por transgênicos e responsabilidade das famílias na produção de sementes de milho de qualidade.
Ao final, foi realizada uma avaliação participativa da atividade. Seu Zé Paulo, guardião do BSC de Pedrinha D’água, município de Casserengue, reforçou a responsabilidade dos gestores de bancos presentes para dar continuidade às discussões em cada comunidade, e ainda se valorizou a participação dos jovens presentes como protagonistas do trabalho no território da Borborema. Dona Lourdes, guardiã do BSC do Assentamento 25 de Julho, município de Casserengue, relatou que as discussões realizadas na oficina, possibilitaram ampliar o conhecimento sobre o manejo das sementes que deverá ser compartilhado em sua comunidade. Além disso, ela ressaltou que o fubá da paixão remeteu às memórias de sua infância quando seus avós faziam o pão de milho todas as tarde.
Estão marcadas outras oficinas as quais irão envolver outros municípios que fazem parte da Rede de Bancos Comunitários da Borborema, essa oficina foi financiada com apoio do Projeto CCFD.