A AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia em parceria com o Polo da Borborema, uma articulação de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema, na Paraíba, está realizando desde o mês de junho, uma série de encontros municipais para debater sobre assistência técnica e extensão rural, frente a nova conjuntura política do país. Após uma interrupção de alguns meses, as atividades marcam a retomada do projeto da primeira chamada pública de Assistência Técnica e Extensão Rural em Agroecologia, da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário – SEAD, do Governo Federal. A AS-PTA é uma das entidades executoras vencedoras do edital nº12/2013 e atenderá 760 famílias do território da Borborema, em 13 municípios.
Os encontros municipais já aconteceram em seis municípios e já estão marcadas atividades para os demais. Esses encontros têm como objetivo dar continuidade ao processo de acompanhamento às famílias, um trabalho que o Polo da Borborema e a AS-PTA já desenvolvem há mais de 20 anos na região, envolvendo aproximadamente 10 mil agricultores e agricultoras. Nesses encontros, pretende-se avaliar a trajetória das políticas de Ater vivenciadas pelas famílias ao longo dos anos, além de planejar as atividades para o segundo semestre de 2017.
Com o auxílio de vídeos de depoimentos dos agricultores e agricultoras, os participantes são convidados a analisar de forma crítica a história da Ater no país, com os pacotes tecnológicos nos anos 1970, o movimento de redemocratização e o fortalecimento dos movimentos sociais na década de 1980/90, até a construção do Plano Nacional de Assistência Técnica, em 2003. Analisando como era feita a assistência técnica oficial, os encontros propiciam espaço para a crítica das famílias ao modelo tradicional de extensão rural que foi praticado por muitos anos na região, bem como passam a melhor entender o papel dos sindicatos e do Polo da Borborema no processo da construção do conhecimento agroecológico, como explica Marcelo Galassi, coordenador da chamada de Ater na AS-PTA: “Foi uma oportunidade de contextualizar as chamadas de Ater para as famílias envolvidas analisando a sua evolução, desde a criação da Política Nacional de Ater, até os dias de hoje e, ao mesmo tempo, valorizar o papel dos sindicatos na construção do conhecimento agroecológico”.
Durante as atividades, são muitos os depoimentos como o de seu Luiz Souza, do Sítio Salgado de Souza, em Solânea-PB: “Antes a gente tinha um acompanhamento, mas muito diferente. Tudo vinha com os pacotes. Chegava na Emater e tinha tonéis de veneno que mandavam para os agricultores. Também tinha que derrubar a mata nativa para plantar algaroba, devastando a mata da região. A nossa semente era desvalorizada por eles”. Seu Severino Maciel, do Sítio Almeida em Lagoa Seca-PB, também lembra de quanto a sua relação com o conhecimento na agricultura mudou: “Há 19 anos, iniciei a minha participação aqui no sindicato. Ensinei e aprendi muito. Quem achava que não sabia nada, ensinou a quem achava que sabia tudo. Antes, o agricultor era isolado, vivia lá esquecido, era cada um no seu lugar. Essa união nossa é muito importante”.
Nos encontros, tem sido muito lembrada a forma como vem crescendo o envolvimento das mulheres na agricultura e nos sindicatos. “Antes a gente mesmo só lembrava de sindicato quando ia ganhar menino”, lembra dona Margarida Marques, Sítio Campinote de Cima, Lagoa Seca. “Pra mim, tudo isso foi uma grande escola”. Avalia dona Terezinha da Silva, do Sítio Videl, Solânea. Este reconhecimento passa pelo entendimento de muitos homens, seja dos esposos das agricultoras, seja de seus companheiros de sindicato: “Hoje se envolve a família toda. Antigamente o técnico chegava e o marido dizia, ‘vai pra dentro mulher, que tu manda é na cozinha!’, e ela aceitava. Hoje você veja só quantas mulheres estão aqui, participando desta reunião. E tá certo, eu quero mais é que esse pensamento fique lá enterrado no passado!”, disse o agricultor Robson Gertrudes, do Sítio Retiro, Lagoa Seca.
O Projeto Agroecologia na Borborema, como é chamada a Ater na região, vai apoiar a realização de um conjunto de atividades, como reuniões, oficinas, cursos, seminários, intercâmbios e encontros municipais e territoriais que, no Polo da Borborema, são articulados pelos seguintes temas mobilizadores e suas respectivas comissões temáticas: sementes; recursos hídricos; saúde e alimentação; criação animal; infância; juventude; mercado e cultivos agroflorestais.