“O objetivo maior dessa feira é trazer para a cidade aquele jovem que está lá no campo, que muito trabalha e se dedica e às vezes tem pouca visibilidade. Estamos aqui reafirmando a nossa identidade camponesa, que a juventude também quer viver no campo e está produzindo”. Com estas palavras Ana Paula Cândido, liderança da Comissão de Juventude do Polo da Borborema do Sítio Caixa D’água, município de Queimadas, abriu a 5ª Edição da Feira Agroecológica e Cultural da Juventude do Polo da Borborema, que teve como tema a identidade camponesa.
Em seguida, uma mística de abertura, trouxe uma reflexão sobre como a falta de incentivos e de políticas públicas para a juventude rural somada às ofertas de emprego e de sucesso fácil no sudeste do país, muitas vezes, acabam afastando o jovem do campo de suas origens, o fazendo sentir vergonha da agricultura e abrindo mãos de sua identidade camponesa.
A dona de casa Alba Cristina Tavares de Souza, ficou sabendo da feira pela irmã que ouviu o programa de rádio do Sindicato de Queimadas, ela ficou impressionada com a mística: “É o que acontece, muitas vezes o jovem está lá, empolgado, trabalhando e vem essas propostas e o jovem vai embora. Eu acho muito importante esse trabalho do sindicato, a feira está maravilhosa, pois é bonito ver o agricultor que trabalha com amor”, disse.
Uma estrutura com tendas, tablado e 15 barracas ocupou o espaço da Rua César Ribeiro, no Centro de Queimadas. No local, os visitantes e consumidores puderem conhecer uma maquete do sistema de filtragem de água de reuso, advinda de chuveiros e de pias da cozinha e do banheiro, demonstração de reutilização de pneus e de fenação e silagem de forragem para os animais, distribuição de mudas, empacotamento de sementes e do beneficiamento do fubá agroecológico, entre outros.
Os jovens, vindos dos municípios onde o Polo da Borborema (uma articulação de 14 sindicatos de trabalhadores rurais) atua, comercializaram uma diversidade de produtos como hortaliças, feijão, fava, farinha, mel, doce, cocada, bolo, tapioca, beiju, ovos, batata-doce, jerimum e macaxeira. As compras foram animadas pelo som pé-de-serra do trio Gaviões do Forró. Lideranças adultas do Polo da Borborema fizeram intervenções tratando do significado do trabalho e do engajamento da juventude para a renovação sindical e o futuro da agricultura familiar.
Abrindo a programação artístico-cultural, um grupo de mulheres do Sítio Soares fez uma apresentação musical. Os jovens do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social apresentou um número de Maculelê. A feira tem o objetivo de, além de resgatar as raízes culturais do local onde acontece, estimular e servir de espaço ainda para visibilizar as habilidades artísticas da juventude camponesa. Os jovens Leonardo Mateus Candido da Costa, 21 anos, do Sítio Boa Vista, Queimadas e Jeane Carla, 22 anos, do Assentamento Queimadas, em Remígio-PB declamaram um cordel de sua autoria. Já os jovens Helder Soares da Massaranduba e Shirley Bianca Moreira, de Lagoa Seca, animaram a feira com música de voz e violão.
Houve um espaço para diversos jovens falarem sobre o que é ser agricultor para eles e como é a sua vida na agricultura. Mateus Manasses, do Sítio Soares em Queimadas, foi um dos que deixou o seu recado: “Quando eu vejo as pessoas prestigiando o nosso trabalho, é muito gratificante, para mim é como se dissesse ‘Mateus, fica lá (no campo), que você está no caminho certo”. Jeane Carla, também deu o seu testemunho: “Eu sofri muito preconceito quando fui estudar na cidade. Mas eu não vou sair do sítio só para agradar a ninguém, eu vi a luta da minha mãe, debaixo de uma lona preta, enfrentando fazendeiro e hoje eu me sinto rica. Para mim eu tenho tudo, não tenho casa com luxo, mas tendo amor, comida de verdade na mesa, tenho tudo”, disse.
Durante a feira, foi feito um lançamento da Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico, organizada pela Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, que na Paraíba está sendo articulada pelo GT Mulheres e Agroecologia da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba). Por meio de uma encenação teatral, Coka Vivarte e Edson Possidônio, assessores técnicos da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, incorporaram Rita e Antônio, um casal que encontrou o caminho para superar a sobrecarga de trabalho doméstico sobre a mulher e descobriu que, dividindo as tarefas dentro da casa, cada um fazendo uma coisa, sobra mais tempo de lazer para passarem juntos.
Os jovens encerraram a feira, dando a largada para o processo preparatório para a próxima Marcha da Juventude Camponesa, que deve acontecer em 2018, no município de Massaranduba. O momento também é parte da preparação dos jovens do estado rumo ao IV Encontro Nacional de Agroecologia, que será em Belo Horizonte-MG, também no ano que vem. A feira é co-realizada pela EcoBorborema, associação que reúne agricultores feirantes do território de atuação do Polo da Borborema e é responsável pela rede de 12 feiras agroecológicas existentes. O trabalho com a juventude do Polo da Borborema é assessorado pelo Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA que conta com o apoio das entidades da cooperação internacional Comitê Católico Contra a Fome a Favor do Desenvolvimento (CCFD), ActionAid e terre des hommes schweiz.