Agricultores e agricultoras, guardiões das sementes da paixão, lideranças comunitárias, dirigentes sindicais, várias organizações do Território da Borborema estiveram presentes na inauguração do Banco Mãe de Sementes, localizado no sítio Quicé, entre os municípios de Lagoa Seca e São Sebastião de Lagoa de Roça.
A cerimônia teve início ainda pela manhã, quando cerca de 80 guardiões e guardiãs, representantes da Rede Regional do Polo da Borborema, foram montando um altar onde colocavam suas sementes da paixão, mas também a sua paixão pela construção da segurança alimentar, da agroecologia, da autonomia, e ainda foram plantadas as sementes da juventude, e sobretudo, a semente humana, força motriz na construção desse projeto. Diante de um altar repleto de sementes, símbolos e histórias, Padre Antoniel, Pároco de São Sebastião de Lagoa de Roça, conduziu a benção das sementes e do Banco Mãe.
Uma mesa foi montada com a presença de guardiões. A primeira a falar foi dona Teresinha Silva, agricultora guardiã de Solânea. Dona Teresinha lembrou da sua semente da paixão, o feijão de cacho que herdou de seu pai: “Além do meu pai ter ensinado, nas minhas experiências, fui observando que o feijão de cacho é resistência. De tanto falar nele, fui parar até no Fantástico! Ele é um feijão que cura”. Euzébio Cavalcanti, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio, falou da importância de se trabalhar em Rede e lembrou das conquistas alcançadas nos últimos 20 anos. Organizou o tempo em 3 fases: quando as sementes dos agricultores não eram reconhecidas como tal, o primeiro passo foi organizar o Polo e descobrir os tesouros, como o Banco de Sementes de São Tomé e tantos outros espaços de resistência. Nos anos 2000, depois de fazer pressão, junto com as organizações que fazem a ASA Paraíba, conseguiu-se alterar a legislação estadual que passou a reconhecer as sementes da paixão. Por fim, lembrou dos avanços alcançados nos governos Lula e Dilma e as políticas que vieram apoiar a agrobiodiversidade, como os casos da regulamentação do PAA Sementes e do Projeto Sementes do Semiárido.
A guardiã Silvinha lembrou que para contrapor as ameaças às sementes da paixão, só a organização dos Bancos de Sementes Comunitários: “Temos muitas variedades de sementes, cada semente tem sua história, sua conquista, sua luta. Os Bancos de Sementes tornam-se uma vantagem muito grande pois não deixamos entrar sementes sem procedência”. Por fim, o jovem Eduardo Muniz apresentou os resultados de seu trabalho de conclusão do curso de Agroecologia, onde foi responsável por identificar as sementes contaminadas por transgênicos. Lembrou que em 2014, só havia contaminação das sementes de milho vindas da Conab. Nos anos seguintes, encontrou-se amostras de sementes da paixão contaminadas o que levou a construção e o debate junto às comunidades sobre a Campanha Não planto transgênicos para não apagar minha história.
Após a mesa, Manoel Oliveira, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova e da Coordenação do Polo da Borborema, resgatou toda a história de luta para a conquista do Banco Mãe de Sementes e ainda falou sobre a importância do espaço para os agricultores e agricultoras do Polo da Borborema, indicando a gestão coletiva para a manutenção do espaço. A manhã encerrou com o chamamento para a VII Festa da Sementes da Paixão, que acontecerá entre os dias 05 e 07 de outubro, em Boqueirão-PB.
No período da tarde, após a animação do Trio “Mistura de Gerações” e muitas poesias, foi realizada a cerimônia de assinatura dos Termos de Autorização de uso do local e dos equipamentos pelos agricultores com a presença do Governador Ricardo Coutinho e o Secretário do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca e representantes do Polo da Borborema.
Durante o ato, o Secretário Estadual Rômulo Montenegro ressaltou que o setor agropecuário é um dos setores mais importante social e economicamente e registrou o compromisso de transformar as sementes crioulas numa política de estado: “Fica Governador, com sua autorização, e sei que terei, como compromisso firmarmos e cumprirmos a compra das sementes de batatinha. Além disso, vamos construir uma política para a aquisição de sementes crioulas das famílias agricultoras já para próxima safra”, disse.
O governador Ricardo Coutinho encerrou a cerimônia deixando um recado de otimismo à organização dos agricultores: “É possível avançar. Vocês estão aqui demonstrando. Nós queremos que isso se fortaleça com os bancos comunitários. Nós estamos aqui apontando, através da palavra do nosso secretário, a compra das sementes. Mas é fundamental que isso ganhe vida própria. O Banco Mãe não foi construído para servir ao estado, foi criado para servir a agricultura e aos agricultores. Nunca devemos esquecer disso. A compra de sementes crioulas por parte do estado vem apenas fortalecer esse projeto de vocês”.