Maria Leônia Soares da Silva é presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Massaranduba, na Paraíba. Léia, como é mais conhecida, é a filha mais velha de dona Anunciada e seu José, agricultores sem terra que nunca abandonaram suas origens. Apesar das dificuldades, todos os anos botavam roçado, com os quais alimentaram e criaram seus 5 filhos. Massaranduba sempre foi um município dominado pelos políticos e pelo latifúndio.
Desde muito cedo, Léia passou a participar dos grupos de Igreja e muito cedo, se tornou coordenadora de catequese. Participou também do grupo de teatro junto ao grupo de jovens organizados pela Igreja Católica. Foi nesses grupos, que estimulados pelo Missionário João Batista, que os jovens começaram a refletir sobre sua condição, a exploração do trabalho, a opressão do latifúndio e o significado do Sindicato como espaço de organização de classe.
O grupo de jovens passou a fazer um trabalho de base e pegando carona no carro do Padre Jair, passaram a organizar os agricultores e agricultoras, em 1994. Em 1995, o grupo de jovens consegue alcançar a diretoria do Sindicato, quando concorreram com o técnico da Emater, na chapa organizada pelos latifundiários.
Os primeiros anos de trabalho sindical não foram fáceis, pois eram questionados publicamente pelo poder local. Na época, o Sindicato era pouco estruturado, havia poucos sócios. Mais uma vez, foram para as bases para formarem os agricultores, estimular a organização por meio da sindicalização. Essa época também foi marcara pela luta pela terra e a organização dos primeiros assentamentos da reforma agrária no município.
Como ela mesma brinca, por ter a letrinha bonita, foi secretária dos três primeiros presidentes: Moisés, Ari e Antônio. Desde o começo, sempre teve a certeza de que o Sindicato não poderia estar sentando atrás do birô, mas o contrário, acreditava num Sindicato atuante, formado pela força e pela criatividade dos agricultores e agricultoras.
Em 2002, passou a participar do trabalho do Polo da Borborema, uma articulação de sindicatos e organizações da agricultura familiar do Agreste da Borborema. Participou desde o início do processo de organização do trabalho das mulheres e contribuiu nos estudos coletivos, nos encontros, no processo de experimentação e na auto-organização das mulheres. Nesse espaço, Léia foi despontando sua capacidade de liderança e de oratória.
Em 2014, após enfrentar um conflito interno sobre a ação do Sindicato, coloca-se à disposição dos trabalhadores e encabeça uma chapa. Léia foi levada a assumir a Presidência do Sindicato numa votação história, com a participação de mais de 800 agricultores, sendo que 80% eram mulheres agricultoras.
Se trabalhando na secretaria, Leia conseguiu organizar o trabalho das mulheres, na presidência do Sindicato, assumiu a quinta edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, levando à época, mais de 4 mil mulheres para as ruas de Massaranduba.
O Sindicato dos trabalhadores e Trabalhadoras Rurais foi se tornando um espaço de defesa e de luta dos agricultores, mas sobretudo, das mulheres agricultoras. Destaca-se ainda na sua gestão o fortalecimento da juventude camponesa e a luta pela educação contextualizada de qualidade.
Léia costuma dizer que é uma mulher antes e outra depois de ter se envolvido com o Polo da Borborema. “Não é fácil para uma mulher negra, ser agricultora e liderança sindical. Passei momentos difíceis em casa, donde tive que superar o machismo para assumir o trabalho. E ainda tive que superar o machismo dentro da própria instituição. Não é fácil! As foi na unidade das mulheres do Polo que me fortaleci e fortaleci a luta. Aqui no território nossas histórias se encontram”.
Léia é presidente do STTR de Massaranduba, da Coordenação Executiva da Comissão de Saúde e Alimentação e do Polo da Borborema, da Coordenação da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, participa do GT Mulheres da ASA Paraíba e do GT Mulheres da ANA.