No dia 19 de novembro de 2017, cerca de 40 agricultores, agricultoras e lideranças representando os 62 Bancos Comunitários de Sementes da região de atuação do Polo da Borborema, na Paraíba, se reuniram no Banco Mãe de Sementes, em Lagoa Seca para fazer um balanço das principais atividades realizadas pela Comissão de Sementes do Polo da Borborema em 2017.
O encontrou teve início com uma visita no interior do Banco Mãe de Sementes, para conhecer o espaço onde está sendo estruturado a produção do fubá da paixão. Na ocasião, foi apresentada como será a dinâmica de estoque de milho livre de transgênicos, a produção e o empacotamento do fubá. Seu Joaquim Santana, agricultor experimentador do Banco Comunitário de Sementes do Sítio Furnas, em Montadas, destacou a importância política daquele momento: “Hoje estamos concretizando um sonho antigo. Poder levar para mesa um alimento livre de transgênicos era um desejo antigo. Isso só fortalece cada vez mais a luta pelo crescimento do trabalho com as sementes da paixão”. Recentemente, foram compradas nove toneladas de milho livre de transgênicos de várias famílias agricultoras da rede de sementes do Polo e a partir de janeiro será iniciada a produção do fubá da paixão. Essa ação é parte da Campanha Não Planto Transgênicos para não apagar minha história.
Em seguida, foi realizado um trabalho em grupo onde foram levantados os principais avanços e os desafios do trabalho com as sementes da paixão no Território da Borborema. Os representantes dos bancos comunitários de sementes de cada municipio foram relatando todo acumulado vivenciado durante todo ano de 2017.
Após o caloroso debate sobre a valorização das sementes da paixão que sendo realizado no Polo da Borborema, analisou-se que a trajetória da rede de bancos comunitários de sementes vem sendo marcada pelos pacotes tecnológicos que se baseiam na distribuição de poucas sementes de pouca diversidade, sem considerar as especificidades climáticas. No sentido de se enfrentar esse debate, foi destacado todo trabalho executado pelo Programa Sementes do Semiárido da ASA Brasil, apoiado pelo MDS/MDA/BNDES, que permitiu a estruturação de mais oito bancos de sementes comunitários, os quais tiveram seus espaços e equipamentos renovados, ampliando suas condições de conservar e armazenar sementes. Além da realização de várias atividades de formação como as capacitações comunitárias e territoriais, as visitas de intercâmbio e o processo de sistematização das experiências, espaços onde foram valorizados inclusive os bancos comunitários de sementes apoiados em anos anteriores. Nós últimos três anos, já são 28 bancos comunitários apoiados pelo Projeto Sementes do Semiárido.
Avaliou-se também que em 2017, a precipitação pluviométrica foi mais favorável quando comparada com os últimos quatro anos. Muitas famílias conseguiram multiplicar as sementes da paixão e consequentemente reabastecer os estoques familiares e comunitários de sementes. A garantia das sementes de qualidade foi a oportunidade de iniciar novo processo de empacotamento e comercialização das sementes nas feiras agroecológicas e nos eventos de formação com agricultores e agricultoras. Esse processo de comercialização das sementes da paixão ganhou impulso com o lançamento da logomarca regional “Produtos do Roçado”, criada para intensificar o processo de comercialização da agricultora familiar no território.
O cuidado com a seleção e classificação das sementes da paixão foi outra iniciativa destacada pelos participantes. Esse zelo vem sendo fomentado, sobretudo, por meio das várias atividades de formação e capacitação para implantação dos campos de multiplicação de sementes, em parceira com as organizações de pesquisa como a Embrapa Tabuleiros e as Universidades da Paraíba com as quais são desenvolvidos projetos de pesquisas com as sementes da paixão.
Outro fato importante marcado durante a avaliação foi à inauguração do Banco Mãe de Sementes da Borborema, com a participação do Governador do Estado da Paraíba, Ricardo Coutinho. Além da inauguração, o Polo da Borborema registrou a promessa assumida pelo Governador em fortalecer a estratégia de construção de uma política de sementes ancorada na gestão comunitária de armazenamento das sementes crioulas, tendo o Banco Mãe de Sementes e a Rede de Bancos Comunitários de Sementes como espaço de gestão e distribuição das sementes da paixão.
Foram apontados ainda caminhos para continuar fortalecendo o trabalho com as sementes da paixão no Território da Borborema como: fortalecer a formação nas bases sobre a importância dos bancos comunitários de sementes; Intensificar as ações da campanha contra o avanço dos transgênicos no território realizando testes de transgenia e aumentando os estoques de milho para mais de um ano; Concretizar a produção do fubá da paixão e construir mecanismos de comercialização nas feiras agroecológicas; Continuar a realização dos campos de multiplicação de sementes, valorizando as variedades com pequenas quantidades nos estoques comunitários; Consolidar a estratégias de empacotamento e comercialização das sementes da paixão na Rede de Feiras Agroecológicas da Borborema. Foi definida a necessidade de continuar o estudo sobre as raças dos milhos crioulos na Paraíba e a repatriação de sementes por meio do acesso ao banco de germoplasma da Embrapa. Por fim, levantou-se a necessidade de continuar as visitas de monitoramento dos 62 bancos de sementes, atividade realizada anualmente após final da colheita quando as famílias depositam todas as sementes em seus estoques comunitários.