Nos dias 3 e 4 de abril, representantes dos 14 sindicatos do Polo da Borborema, estiveram reunidos em Lagoa Seca-PB, para fazer um balanço da sua ação no ano de 2017 no território do Agreste da Borborema. O evento teve início com o cântico “Pai Nosso dos Mártires” em memória de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada, além da freira Dorothy Stang, as lideranças camponesas Margarida Maria Alves e João Pedro Teixeira, todos tombados na luta por justiça social. O Polo da Borborema é uma articulação de 14 sindicatos de trabalhadores rurais que atua pelo fortalecimento da agricultura familiar agroecológica há mais de 20 anos na Paraíba com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
Em seguida, Luciano Silveira, da Coordenação do Programa Paraíba da AS-PTA, propôs a seguinte pergunta: “O que 2017 trouxe de avanços?”. Nas falas da plenária apareceram, em maior número, os seguintes pontos: O papel dos sindicatos dentro dos conselhos municipais, inclusive barrando a entrada de sementes vindas de fora distribuídas pelos governos; Os projetos de regularização fundiária; A ação de melhoramento de cozinhas voltada para o beneficiamento dos alimentos; A chamada pública de Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER Agroecologia; O projeto “Cisternas nas Escolas”; A chegada das sementes nativas na rede de feiras agroecológicas do território e a consolidação da marca produtos “Do Roçado”; O trabalho com a juventude e os enfrentamentos ao fechamento das escolas do campo e a proposta de Reforma da Previdência do Governo Temer, entre outros.
Todos os anos, o Polo da Borborema trabalha um tema mobilizador que é expresso em um calendário e uma agenda e trabalhado dentro dos processos de formação. Em, 2018, o tema escolhido é a afirmação dos sindicatos enquanto espaços de defesa dos direitos dos trabalhadores do campo, à partir da declaração do Papa Francisco sobre os sindicatos: “Não existe uma boa sociedade sem um bom sindicato”. O tema vem sendo discutido nas chamadas “Jornadas Municipais” rodadas de planejamento que são realizadas nos sindicatos do Polo no início de cada ano. O resgate da história de cada sindicato foi um dos pontos considerados positivos, colocado como um avanço.
Roselita Vitor e Giselda Beserra, ambas da coordenação do Polo da Borborema e da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio-PB, compartilharam uma série de números a respeito da ação do Polo em diversos temas mobilizadores como cultivos agroflorestais, criação animal, recursos hídricos, saúde e alimentação, sementes e manejo da fertilidade dos solos, juventude, infância e acesso a mercados. “Essa luta que a gente trouxe aqui é um pouco da frase do nosso calendário, que é tirar as pessoas do pequeno, do isolamento e dar dignidade a essas pessoas. Olhando para esse balanço e esses números, não tem como não se sentir vitorioso e parte da mudança no território da Borborema”, afirmou Roselita.
“Não é em qualquer lugar que acontece o que fazemos aqui, o nosso movimento sindical tem muito o que ensinar. Eu trago aqui a lembrança de cada agricultor, cada agricultora que está lá na sua propriedade fazendo o seu trabalho, sem eles nada disso seria possível. Mas lembrar também das lideranças sindicais que precisam fazer jus ao dinheiro das suas contribuições e devolver em processos de formação, nas lutas”, complementou Giselda.
O período da tarde foi dedicado a uma análise compartilhada da conjuntura atual, a partir de um momento de ‘cochicho’ em grupos, a partir da questão: “Que mudanças vocês tem percebido nos últimos dois anos?”. Da socialização em plenária saíram uma série de desafios que marcam os dias de hoje, tais como: aumento da violência, fechamento das escolas do campo, as perdas de direitos, o aumento do custo de vida, aumento da pobreza, cortes ou extinção nos programas sociais, congelamento dos recursos para educação e saúde, aumento do desemprego, desvalorização do salário mínimo, privatizações, assassinatos e prisões políticas e corrupção na política e no judiciário, entre outros.
Luciano Silveira fez um síntese dos pontos levantados e uma análise do contexto que está por trás de todas os fatos que ocorreram desde a deposição da ex-presidente Dilma Rousseff, por meio de um golpe de estado. Ele lembrou como foi crescendo uma narrativa que criou o ambiente para que os recursos naturais, um patrimônio de alto valor para o país fosse privatizado e negociado por menos do que o que vale, numa lógica de privatização da vida: “Precisamos entender porque a corrupção foi usada todo o tempo como sendo o principal dos males. A imagem construída é a de que o Estado é corrupto é o Mercado é virtuoso. Uma cortina de fumaça que esconde o fato de o Mercado estar por trás das maiores e mais danosas formas de corrupção. Eles mostram a corrupção do PT como sendo a maior, a única, quando o maior roubo fica escondido, o roubo aos nossos recursos naturais, por exemplo”, disse. O dia terminou com a retirada de encaminhamentos para enfrentar os desafios da conjuntura.
O segundo dia de evento começou com informes sobre o processo de preparação para o IV Encontro Nacional de Agroecologia, que acontecerá em Belo Horizonte entre 31 de maio e 3 de junho de 2018. E a Caravana das Águas e da Agroecologia, que acontece entre 10 e 12 de abril, partindo de Sumé-PB e percorrendo as cidades do Cariri Paraibano por onde passa o canal da obra, para conhecer a realidade das famílias afetadas pela Transposição. A Caravana faz parte da preparação do estado para o IV ENA que tem como tema “Democracia e Agroecologia no Campo e na Cidade”.
Em um segundo momento, as comissões temáticas se reuniram para trabalhar os desafios dentro de cada tema, desenhando linhas de ação e estratégias para o ano de 2018, em um contexto de eleições gerais, Copa do Mundo e resistência à retirada de direitos. No momento de restituição das principais perspectivas para o ano, a Comissão de Juventude do Polo da Borborema lançou a II Marcha da Juventude Camponesa, que acontecerá no segundo semestre de 2018.