Na última sexta-feira, 04 de maio, na sede do Polo da Borborema, aconteceu a “Oficina de Lutas Camponesas e Agroecologia” que discutiu as a trajetória do movimento dos trabalhadores rurais pelo acesso à terra no território da Borborema. Participaram do evento lideranças históricas da luta sindical na região, representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dirigentes dos sindicatos que compõem o Polo da Borborema e ainda integrantes dos Núcleos de Agroecologia das Universidades e Institutos Federais do estado.
Durante a Oficina, Luciano Silveira, da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, comentou sobre os três principais problemas que tem desafiado a permanência das famílias agricultoras no campo, nos últimos anos na Borborema, que são: a dificuldade do acesso à terra; o fechamento das escolas rurais e a violência no campo, e em destaque, a violência específica que atinge as mulheres.
Os participantes da oficina foram fazendo um levantamento, ao longo da história, como se deu a ocupação agrária no território, fazendo um recorte dos anos 60, enfrentando a ditadura militar e passando pelos anos 80 e o processo de redemocratização do país, até os governos de cunho mais popular-democráticos, culminando com as ameaças à democracia e a as instituições públicas dos dias atuais.
Manoel de Oliveira, mais conhecido como “Nequinho”, liderança da coordenação do Polo da Borborema e militante histórico da luta pela terra na região, contemporâneo da sindicalista Margarida Maria Alves, rememorou as grandes ocupações de terra na região do Brejo e Agreste Paraibanos: “Era ditadura militar, o povo tinha muito medo dos patrões, então quando a gente entrava numa fazenda, ia fazendo conversar com pessoas isoladas, depois com um grupo maior e quando a gente via, já estava fazendo reuniões com 200 pessoas. A gente observava aquelas pessoas que se destacavam nas reuniões e fazia conversas com elas para iniciar a organização das ocupações”, lembra Nequinho.
Assentado da Reforma Agrária no Sítio Geraldo, em Alagoa Nova, Nequinho foi perseguido pelo regime militar, chegando a ser preso diversas vezes, por seu papel liderando o trabalho de base e de formação dos camponeses para as ocupações, com forte apoio da Igreja Católica e dos adeptos da chamada “Teologia da Libertação”, que tem entre os seus expoentes figuras como o Frei Leonardo Boff e Dom Helder Câmara.
Maria Vilani dos Santos Silva, também é moradora do Assentamento Geraldo, que compreende propriedades nos municípios de Alagoa Nova e São Sebastião de Lagoa de Roça, fez parte da luta ao lado de Nequinho, conta sobre como era desencorajada por conhecidos seus a resistir nas ocupações de terra: “Era uma luta de pequeno contra grande. O povo dizia que precisava de uma corda para amarrar a gente, pois para eles pobre briga com rico não tinha sucesso. Muita gente desistiu, eu hoje estou lá, na minha terra e não tenho vontade de sair”.
Wellington Barbosa, integrante da CPT Campina Grande, diz que ao completar seus 30 anos, a pastoral fez um resgate histórico das ocupações de terra que aconteceram na região e se espanta com a força e a coragem das famílias sem terra da época: “Nós encontramos diversos boletins de ocorrência e por eles, dava para perceber que era um pessoal muito resistente. Sofriam todo tipo de intimidação, tentativas de assassinato à noite, mas não saiam, não”.
Em seguida foi feita, com a contribuição dos participantes da oficina um levantamento a partir do mapa do território da Borborema, sobre a ocupação fundiária que a princípio era bastante concentrada e foi se dividindo, tanto pela questão das heranças, tanto pela atuação da Igreja e depois do MST, que surgiu na Paraíba e iniciou na região pelo município de Remígio, se espalhando para outros municípios como Solânea, Casserengue e Bananeiras, entre outros, com o apoio de Euzebio Cavalcanti, companheiro e integrante do Polo da Borborema, mas iniciou sua militância na Igreja Católica e no MST.
Foram marcadas no mapa as três principais formas de acesso a terra na região: as ocupações com o apoio da Igreja Católica e da CPT, as ocupações lideradas pelo MST e as compras de terras, seja por meio de indenizações trabalhistas dos patrões, com os ganhos da Constituição de 1988, seja por meio do financiamento fundiário pelo Banco da Terra. “Isso foi fazendo as pessoas abandonarem a luta e muitos agricultoras saíram endividados, sem condições de pagar a sua terra”, lembra Nequinho.
A oficina foi uma preparação do território para o Evento Paraibano rumo ao IV ENA (Encontro Nacional de Agroecologia) nos dias 8, 9 e 10 de maio, em Campina Grande. Já o ENA de 2018 acontecerá nos dias 31 de maio a 3 de junho, em Belo Horizonte. Na Paraíba, o encontro estadual preparatório ao ENA, tem foco na troca de experiências entre os movimentos que fazem a agroecologia no estado: “Queremos qualificar a apresentação da experiência da Borborema no encontro estadual, onde esses vários movimentos vão se conhecer, se aproximar, a gente quer gerar acúmulos e ampliar a participação dos segmentos, além de atualizar a leitura do agroecologia identificando inclusive as ameaças e obstáculos para o seu desenvolvimento. A construção da unidade é mais que necessária na conjuntura que estamos vivendo e esperamos que esse encontro seja o embrião de uma articulação estadual de agroecologia”, disse Luciano Silveira.