No dia 15 de maio, aconteceu na sede da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, uma oficina de formação sobre a abordagem feminista e sobre os direitos das pessoas LGBTTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros) no seu trabalho de fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica no território.
A oficina foi proposta pela ActionAid, entidade de cooperação internacional e parceira apoiadora do trabalho da AS-PTA desde 2002. Participaram do momento mulheres representantes da coordenação do Polo da Borborema, uma rede de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema e jovens dos municípios onde atuam, que compõem a Comissão Regional de Jovens do Polo. AS-PTA e Polo se destacam por sua atuação com as mulheres e jovens agricultores do território e inclusive por enfrentar temas delicados como a homofobia e a diversidade sexual, que foi tratada na peça teatral que acontece todos os anos durante a “Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia”, que chegou à sua nona edição em 2018, levando cerca de cinco mil mulheres às ruas.
Sergio Costa Floro, Assessor de Programas da ActionAid, falou sobre a importância de aprofundar a discussão destes temas: “A ActionAid, assim como a AS-PTA e o Polo, não é uma organização feminista. Mas a luta das mulheres é uma luta prioritária para nós, à medida como vimos que o machismo e as desigualdades de gênero como limitantes para o avanço do projeto de sociedade que ajudamos a construir”.
Sergio apresentou dados da consultoria Catalyst que mostram que as mulheres ainda recebem, em média, cerca de 70% do salário dos homens, tem o dobro de horas dedicadas aos afazeres domésticos e ocupam os postos de trabalho mais precarizados. A apresentação rendeu um bom debate entre integrantes da equipe técnica da AS-PTA, do Polo e as lideranças femininas e jovens.
“Nós podemos dizer que avançamos muito aqui no nosso território no trabalho com as mulheres. Fizemos as mulheres saírem de casa, ocuparem os espaços públicos nos sindicatos, nas associações, mas ainda temos uma grande tarefa que é fazer com que haja uma divisão do trabalho dentro de casa, para que a mulher não seja sobrecarregada, tendo que realizar suas tarefas domésticas de madrugada para poder participar dos eventos”, disse Giselda Beserra, da coordenação do Polo da Borborema e da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio-PB.
Sérgio tratou ainda sobre o cenário atual no que diz respeito aos direitos das pessoas LGBTTs, que embora tenham conquistado reconhecimento e uma série de direitos como a união civil, a adoção de crianças e a licença maternidade em casos de adoção, ainda seguem sendo assassinados pela sua orientação sexual e expressão de gênero. “Segundo o Grupo Gay da Bahia, em 2017, ocorreram 445 crimes motivados pela homofobia, o que significa uma vítima a cada 19 horas”, disse. O assessor afirmou ainda que a criminalização da homofobia segue sendo a grande reivindicação do movimento, pois os casos são tratados na justiça como agressões, discriminações e outras tipificações que não levam em conta o pano de fundo do ódio ao diferente.
Roselita Vitor, da Coordenação do Polo da Borborema, falou sobre a importância de se tocar nessas questões, mesmo que elas sejam delicadas e quanto o pessoal e o privado também compõem o político: “No nosso processo preparatório para a Marcha desse ano, nos chegaram muitos depoimentos de mulheres, mães de jovens LGBTTs, e pudemos ver o quanto essas mulheres e essas pessoas sofrem, quanta violência enfrentam. Vimos que as mulheres que são lésbicas sofrem uma dupla opressão e precisamos estar atentas para tratar esses casos”, afirmou.
A oficina produziu um debate acerca o papel da assessoria e das lideranças em, cada vez mais, descortinar esses assuntos, discutir as raízes desse tipo de desigualdade e preconceito para avançar na construção de um movimento social e sindical que trabalhe na perspectiva da realização dos direitos humanos, onde cada pessoa é respeitada e valorizada na sua maneira de ser.
Assista ao vídeo da IX Marcha Pela Vida das Mulheres e Pela Agroecologia, onde os temas do feminismo e da diversidade sexual foram tratados: