Silvestre, Terezinha e seus 5 filhos moram na comunidade de Santo Antonio, no município de Fernandes Pinheiro-PR. Desde 2001, ao entenderem que a agricultura convencional não funcionava mais para produção de alimentos, pois além de se financeiramente inviável, entenderam que se tornavam totalmente dependentes do mercado. Silvestre e Terezinha passaram a não aceitar o uso de produtos químicos. Começaram então a converter toda a propriedade, que possui 4 hectares, num sistema agroecológico. Um ponto de partida importante foi a utilização das sementes crioulas.
Participando de vários momentos de formação, iniciaram a caminhada em busca de alternativas como o resgate, conservação e a multiplicação das sementes crioulas, a fabricação de adubos caseiros, o manejo ecológico de solos e outros.
Silvestre se recorda que já na primeira participação de um dia de campo que estava sendo realizado sobre o processo de fabricação de adubo da independência pode trocar e ganhar algumas espécies de sementes crioulas que ainda não tinha em sua propriedade e levar para casa. Essas sementes foram o ponta pé para aumentar a diversidade de espécies a serem cultivadas na propriedade. Passaram a também receber encontros, dias de campo, reuniões e se propuseram a receber a implantação de campos de produção de sementes e experimentos de avaliações como de milho, batata, arroz, feijão, adubos verdes de verão e de inverno. Minha propriedade virou um laboratório de aprendizado agroecológico, sempre aberta a propriedade a visitação de estudantes, professores, agricultores e público em geral, conta Silvestre.
O grande sonho da família, contudo, sempre foi criar um banco de sementes que fosse capaz de suprir totalmente a necessidade familiar para plantio, pensando principalmente na segurança alimentar e na produção de alimentos saudáveis. Silvestre e Terezinha trabalharam fortemente no intensão de diversificar o máximo a propriedade, aproveitando todos os espaços para realizar testes de novas sementes adquiridas em feiras e festas de sementes que participam no estado ou fora dele também.
Diante de todo esse trabalho, em 2018, a família deu o primeiro passo e criou a Casa de Semente como têm chamado, com mais de 60 tipos de sementes crioulas de diversas espécies entre milhos, feijões, adubos verdes, mandioca, batata doce, abóboras e tantas outras, todas produzidas na propriedade em que vivem. A Casa da Sementes ainda está em um espaço pequeno, mas inquietos, a ideia é ampliar e transformá-la, junto com o Grupo Coletivo Triunfo, em um Banco Comunitário de Sementes, resgatando assim mais sementes de toda a região. Ao ampliar e enriquecer o Banco, pretende-se transformar esse espaço em uma referência para as famílias que ainda não possuem sementes crioulas.
Todas as sementes já armazenadas, são organizadas por Jaqueline, a filha mais nova do casal. Jaqueline é que vem trabalhando na seleção, no preparo das sementes e no seu armazenamento. Também cuida da catalogação de todas as sementes produzidas e as que chegam de outras famílias. Recentemente, Jaqueline foi considerada pelo Coletivo Triunfo como a Guardiã Mirim das Sementes Crioulas.
No projeto novo da família, a ideia é que o Banco seja também um local de visitação, de encontros e de estudos agroecológicos. Um espaço onde se pretendem receber estudantes de várias escolas técnicas e públicas, agricultoras e agricultores, jovens ou maduros, mas que também carregam a missão de ser um guardião de sementes crioulas.
Enquanto o Banco não se concretiza, a Casa de Sementes já está ativa e Silvestre, Terezinha e Jaqueline incentivam o empréstimo e a troca de sementes para aqueles que também querem promover agroecologia. Essa iniciativa vem apoiar a Campanha Plante Sementes Crioulas que retoma com força na região por meio do incentivo dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais, Cooperativas da Agricultura Familiar e do próprio Coletivo Triunfo. A Campanha tem como pontos prioritários o resgate e a conservação das sementes milho e feijão, as quais os estudos revelam uma enorme erosão genética, principalmente depois da entrada avassaladora do milho transgênico na região.
O trabalho assumido pela família é exemplar e de grande generosidade. A trajetória de construção da agroecologia é divida ao colocarem a serviço do Coletivo Triunfo todo o patrimônio genético que foram resgatando, selecionando e multiplicando ao logo desses anos.