As cerca de 200 famílias produtoras de batata inglesa agroecológica da região da Borborema na Paraíba estão com os seus estoques de batata semente garantidos para o período de chuva do ano que vem. Um total de 30 toneladas de batata-semente da variedade Electra está armazenado em três contêineres refrigerados em Esperança-PB. As sementes vão beneficiar agricultores que trabalham em bases agroecológicas dos municípios de Areial, Arara, Esperança, Massaranduba, Montadas, Lagoa Seca, Lagoa de Roça, Remígio e Puxinanã.
As sementes foram adquiridas e os contêineres alugados com recursos do Governo do Estado da Paraíba por meio da Secretaria de Estado da Defesa Agropecuária e da Pesca – SEDAP. A conquista veio por meio da mobilização da Comissão Territorial da Batata Agroecológica, formada desde 2011, pelo Polo da Borborema, articulação de sindicatos de trabalhadores rurais de 14 municípios da região, e por entidades como a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, Emater, Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Instituto Nacional do Semiárido – INSA, Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba – Emepa e Banco do Nordeste do Brasil – BNB.
A comissão territorial tem promovido debates e ações para a revitalização da cultura da batata agroecológica na região, que havia sido uma cultura de renda no passado, mas devido ao uso intensivo de agrotóxicos e adubos químicos, associado às políticas de crédito da época, culminou no enfraquecimento dos solos e trouxe prejuízos para os agricultores. Para isso, vem realizando visitas de campo, oficinas, intercâmbios, pesquisas e seminários, além de estimular a comercialização em mercados institucionais (Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE) e nas feiras agroecológicas.
Nelson Anacleto, liderança do Polo da Borborema e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca, explica que nos últimos anos, as secas sucessivas deterioraram os estoques de batata semente dos agricultores. “Por isso vínhamos em um diálogo com o Governo do Estado buscando um apoio para a renovação dessas sementes”.
De acordo com Wagner dos Santos Azevedo, bolsista do INSA na região da Borborema, em 2016, um processo de experimentação com uma nova variedade de batata, a Electra, animou os agricultores com o desenvolvimento dessa variedade em campo: “Muitos agricultores já iniciaram a mudança de suas sementes, onde compraram aos próprios agricultores experimentadores. Em 2017 mais 95% da sementes cultivadas eram da variedade Electra”, explica.
Élida Correia, professora do Curso de Agroecologia e de Técnico em Agropecuária, Campus II da UEPB e do Centro Vocacional Tecnológico de Agroecologia e Produção Orgânica: Agrobiodiversidade do Semiárido – CVT integra a Comissão da Batata Agroecológica e fala sobre o papel da academia na Comissão Territorial: “Nós prezamos muito por estar neste espaço e tentamos dar conta das demandas dos agricultores que chegam na Comissão, por exemplo, com o monitoramento da qualidade da batata semente, oficinas demonstrando quais as principais doenças e quais as formas de manejo ecológico para o agricultor não ter prejuízo econômico. Para o ano que vem, estamos estudando formas de produção de mini tubérculos, como uma alternativa de custo mais baixo para que o agricultor não fique dependente da semente distribuída pelo governo, fique autossustentável. Esses resultados nós vamos apresentar na Comissão no próximo ano”, disse.
Em 2017, segundo levantamento da Comissão Territorial da Batata Agroecológica, cerca de 25 famílias produziram mais 25 toneladas de batatinha no Agreste da Borborema. Deste montante, oito toneladas foram armazenadas como sementes.
Nelson Anacleto explica que a Comissão Territorial da Batata cobrou ao Governo do Estado e conseguiu assegurar a compra das sementes de batata e garantir sua refrigeração. “Após três ou quatro rodadas de negociações, esperávamos que essa batata chegasse a tempo do plantio, que é o mês de maio, mais tardar dia 20 de junho. Mas ela chegou no final de julho e já germinando, com muitas sementes podres, o que fez os agricultores se recusarem a receber as sementes. Então, após nova negociação, o Estado assumiu o ônus de chamar a responsabilidade para a empresa e no final de outubro, a batata chegou, agora com boa qualidade”.
Como as sementes chegaram em sacos de nylon, a comissão ficou com a responsabilidade de providenciar 1.000 caixas plásticas para que as sementes assim possam ser refrigeradas. Benélio Francisco de Araújo, Gerente Executivo de Abastecimento e Pesca da Sedap, explica que os recursos investidos na compra das 30 toneladas de batata semente vieram do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza no Estado da Paraíba – Funcep/PB e que a ideia do Governo é, com base nessa articulação formada na Borborema, estimular a produção dessa e de outras culturas importantes para a agricultura familiar na região em outras do estado: “A ideia é a partir dessa experiência, criar um polo produtivo dessa cultura e de outras para irradiar para outras regiões”, disse.