Na manhã desta quarta (27) no Centro de Campina Grande-PB, um ‘Banquetaço’ distribuiu alimentos saudáveis e gratuitos para cerca de mil pessoas, em um protesto diferente, contra a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – Consea, segundo um dos dispositivos da Medida Provisória Nº 870, que extinguiu o órgão, publicada no último dia 02 de janeiro pelo novo Governo Federal.
O Banquetaço de Campina Grande foi organizado por um conjunto de entidades com representação no Consea Estadual da Paraíba ou que atuam na causa do direito humano à alimentação, como conselhos de nutricionistas, fóruns e redes de promoção da agricultura familiar e da agroecologia, além de estudantes e professores de nutrição e agroecologia de instituições de ensino da cidade. A manifestação se somou a outras que aconteceram por todo o país, em mais de 40 cidades e cerca de 20 capitais. Em Campina Grande o evento atraiu um grande público à Praça da Bandeira no Centro da cidade, com ato público, panfletagens e atrações culturais, além da partilha dos alimentos.
Os Banquetaços antecedem a votação da MP 870 que deve passar pelo crivo do Congresso Nacional nos próximos dias e chamou a atenção da sociedade para a importância de órgãos como o Consea e seu papel na definição de políticas públicas de promoção do direito humano à alimentação adequada.
Na abertura do Banquetaço em Campina Grande, Waldir Cordeiro, vice- presidente do Consea-PB e integrante da Articulação do Semiárido Paraibano – ASA Paraíba, lembrou da trajetória que deu origem ao Consea, seu significado e suas conquistas: “O Consea vem lá da luta de Betinho (o sociólogo Herbert de Souza) contra a fome, nos anos 1990, com o ‘Natal Sem Fome’. Mas nós não estamos tratando apenas de ter o acesso ao alimento, mas também da qualidade desse alimento e da garantia de uma produção agroecológica, diversa, livre de contaminantes, agrotóxicos e transgênicos. E como a comida de verdade chega nas escolas e nas mesas dos brasileiros. Esse é o recado que a gente quer passar”, disse.
Pratos vazios
Doações de famílias agricultoras da região de Campina Grande fizeram com que uma diversidade de alimentos fossem oferecidos no Banquetaço que teve mungunzá, xerém e cuscuz não transgênicos, bolos, biscoitos, sucos de frutas, chás, doces, macaxeira, geleias, queijo, tapiocas, cocadas e frutas.
As mesas com talheres e pratos vazios foram substituídas pelos alimentos, em um gesto simbólico pelos agricultores que fizeram a montagem do banquete. “Este ato se reveste de um simbolismo, pois ao mesmo tempo que estamos denunciando a extinção desse órgão, estamos também distribuindo alimentos produzidos graças às políticas que o Consea foi capaz de propor e articular”, afirmou Madalena Medeiros, do Centro de Ação Cultural – Centrac e da Comissão de Direito Humano à Alimentação do Consea-PB.
Anilda Batista é agricultora do Assentamento Oziel Pereira, município de Remígio-PB, ela faz parte da diretoria da EcoBorborema, uma associação que reúne agricultores feirantes do Polo da Borborema e vem sendo beneficiada com a oportunidade de vender sua produção de alimentos beneficiados como bolos, bejus e tapiocas para o Programa Nacional de Merenda Escola – PNAE, uma das políticas que surgiu da atuação do Consea. A agricultora deu seu depoimento: “Essas políticas fortaleceram muito agricultura familiar, inclusive as feiras agroecológicas como espaços permanentes para a gente vender a nossa produção. Nós que sabemos como essas oportunidades foram importantes para a nossa vida, sabemos que temos muito a perder com a extinção do Consea”, disse.
Em Campina Grande promoveram o Banquetaço o Consea PB, Articulação do Semiárido Paraibano – ASA Paraíba, Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, Conselho Regional de Nutricionistas – CRN 6, MOVER – Frente Social Progressista, curso de Nutrição da UniNassau, UniFacisa e Núcleo de Extensão Rural em Agroecologia da Universidade Estadual da Paraíba – NERA-UEPB e Plataforma Mercosul Social e Solidário – PMSS.