Agricultores, em sua maioria jovens, dos municípios de Remígio, Esperança, Areial, Alagoa Nova, Montadas, Lagoa Seca, Queimadas e Solânea se reuniram durante o Seminário Regional de Rearborização, que aconteceu no dia 16 de abril, em Lagoa Seca. O objetivo foi de fazer uma reflexão sobre o papel das árvores para a agricultura familiar e o papel da rede de viveiros na Borborema nos últimos dez anos.
No primeiro momento, dedicado à reflexão sobre o papel das árvores dentro das propriedades rurais, cada participante foi convidado a pegar uma muda que estava no espaço e falar sobre suas características, sua importância e o sentido que esta planta tem para a natureza e para a agricultura. Foram lembrados os usos: medicinal, sombreamento, adubação do solo, prevenção à erosão, produção de oxigênio, abrigo e alimento para os animais, plantas forrageiras, produtos cosméticos, plantas inseticidas, cercas vivas, quebra vento, lenha e alimento para as famílias.
Em seguida, foram levantadas as ações realizadas no âmbito da rede de viveiros ao longo dos últimos 10 anos. A jovem Adailma Ezequiel, do Sítio Capoeiras, em Queimadas, lembra que é na coleta de sementes onde começa todo o trabalho: “Primeiro lançamos a semente para passarmos por todas as etapas e depois os resultados convivemos e resistimos à seca”.
Os presentes refletiram sobre os efeitos negativos que o processo de desmatamento tem trazido para o meio ambiente e para a vida dos agricultores. Degradação e enfraquecimento do solo; ausência de chuvas; extinção de animais e de espécies nativas; aumento das pragas; baixa produtividade; aumento da temperatura e desorganização do clima; aumento da evaporação; desaparecimento das fontes de água e assoreamento dos rios foram os principais efeitos negativos levantados.
Após o levantamento dos efeitos negativos da desarborização, a partir da análise da cadeia alimentar, os participantes foram motivados a refletir o efeito inverso, o que aconteceria se no local regenerasse uma matinha. Nesse exercício, o ponto que chamou mais a atenção dos agricultores foi perceberem a razão da ida dos insetos para o roçado: “Os insetos sempre existiram, mas os espaços deles foram retirados a partir da retirada das árvores” diz a agricultora Rosilda dos Santos Lima, do Sítio Furnas, município de Montadas-PB. A partir da análise hipotética, foram levantados casos específicos de desmatamento em propriedades e suas consequências.
Para seu José Leal, do Sítio Floriano, em Lagoa Seca, entre as consequências que vivenciamos hoje pela retirada das árvores está a invasão dos animais às residências: “hoje encontramos em casa cobras, escorpiões, caranguejeiras, manés mago, imbuás, por que o homem destruiu a moradia deles, então eles vem para as casa procurar abrigo”, analisa o agricultor.
Uma nova rodada de conversa foi estimulada para que os participantes trouxessem experiências de arborização bem sucedidas e seus ensinamentos, bem como os impactos positivos que as árvores têm trazido para os agroecossistemas como o plantio de espécies forrageiras e o aumento da oferta de alimentos para os animais, o consórcio de árvores com as criações e os roçados consorciados com árvores; aumento da qualidade do solo e da produtividade; resgate de plantas e animais nativos; conservação das fontes de água; preservação das margens dos barreiros.
Rede de Viveiros
Atualmente existem quatro viveiros em funcionamento, três municipais em Esperança, Solânea e Alagoa Nova e um regional no Centro Agroecológico São Miguel – Casm, no Distrito de São Miguel, em Esperança. Além desses, existe uma rede de Jovens Viveiristas que por sua vez produz mudas para a arborização das propriedades e também para a comercialização, garantindo a geração de renda. Os viveiros cumprem um papel de distribuição de mudas, reflorestamento, troca de conhecimento e valorização das plantas, além de garantir o resgate das espécies nativas da região e propagar o conhecimento a respeito delas.
Ao final do encontro foram tirados encaminhamentos como: o fortalecimento da Comissão de Cultivos Agroflorestais dentro do Polo da Borborema por meio das visitas de intercâmbio que promovam inovações como cercas vivas, bosques, campos de palma consorciado, etc.; aproximação da rede de viveiros com o projeto Centro Vocacional Tecnológico de Agroecologia e Produção Orgânica: Agrobiodiversidade do Semiárido (CVT) da Universidade Estadual da Paraíba com experimentos no campo dos citrus e atividades de formação de podas, manejo integrado de pragas e doenças na citricultura, medidas de prevenção e controle, análise de solo e correção.