Maria Eliane Pereira da Silva tem 45 anos e vive no Sítio Meia Pataca, no município de Esperança-PB, em uma propriedade de dois hectares que divide com o filho, que mora em uma casa ao lado. Há cerca de um ano, a agricultora conquistou sua cisterna para produção de alimentos de 52 mil litros pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) executado na região pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e pela Articulação do Semiárido Brasileiro, na parceria com o Polo da Borborema e seus 13 sindicatos de trabalhadores rurais que atuam pelo fortalecimento de um território agroecológico há mais de 20 anos.
Eliane conta que passava por um momento muito difícil na vida quando a tecnologia de captação de água de chuva chegou: “Estava com a cabeça muito pesada, também era muito tímida, tinha perdido muito peso”. A agricultora conta que depois da cisterna passou a cultivar hortaliças e plantas medicinais que antes a pouca água do barreiro que tinha não permitia plantar.
“Melhorei minha alimentação, a timidez, hoje já dou depoimentos, antes eu mal falava, aumentei um pouco mais meu peso e ocupo a minha cabeça cuidando das minhas plantas, hoje muito pouco do que consumo, eu compro fora”. Vender o que produz ainda não está nos planos de Eliane, mas ela explica que troca com os vizinhos verduras e plantas medicinais por restos de alimentos para a criação de porcos e galinhas que iniciou com o recurso de cerca de três mil reais que o P1+2 Fomento disponibiliza, para famílias socioeconomicamente mais vulneráveis e, de preferência, chefiadas por mulheres. Ao serem contempladas com o fomento, cada família constrói seu projeto de acordo o potencial de sua propriedade e do seu desejo de fortalecer seu sistema de produção vegetal ou animal.
Maria Eliane passou por mais uma experiência nova, pela primeira vez deixou a casa para uma viagem a outro estado. Ela foi uma das 30 pessoas a participar da visita de intercâmbio que aconteceu nos dias 17 e 18 de setembro com agricultores e agricultoras de cinco comunidades de Esperança, ao município de Lajes Pintadas, no Sítio Serra Verde.
A visita aconteceu em duas propriedades, a da família de Lenielson Felipe da Silva e Daiane da Silva Lima contemplada com a cisterna do tipo enxurrada. Com o recurso do fomento do Programa, a família investiu na produção de hortaliças, na implantação de um pomar com maracujá, mamão, pinha, graviola, caju e a criação de suínos. A outra experiência foi a de José Francisco Lopes, que reflorestou a propriedade por onde passaram oito gerações de sua família, criando uma agrofloresta e hoje está iniciando uma experiência com meliponicultura para a preservação de espécies de abelhas locais e conscientização dos meleiros para evitar a morte das abelhas, além da comercialização do mel e de mudas de plantas frutíferas e nativas.
O grupo visitou ainda, na mesma comunidade, uma unidade de produção de polpa de frutas comunitária, que está sendo revitalizada com apoio do Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos – Seapac, responsável pelo P1+2 na região e integrante da Articulação do Semiárido Potiguar. Das 100 famílias que vivem em Serra Verde, mais da metade já foi beneficiada com cisternas de produção.
O intercâmbio faz parte do processo de formação e mobilização com as famílias e suas organizações, que passam a atuar em rede. “É uma oportunidade não só de aprenderem com as experiências das famílias que passaram pelo P1+2 como também para a troca de conhecimento. O grupo do Rio Grande do Norte já manifestou a vontade de vir a Paraíba também conhecer as experiências daqui”, explica José Camelo da Rocha, do Núcleo de Recursos Hídricos da AS-PTA.
“Nós, os pobres, fomos ensinados que só existe um tipo de riqueza, aquela que compra carros, por exemplo, mas quando você deixa de comprar um alimento porque já produz, você está fazendo uma poupança e gerando riqueza”, comenta Damião Santos de Medeiros, coordenador do Núcleo Trairi, do Seapac. “A gente está bebendo muito das experiências do Polo da Borborema, principalmente no tocante às feiras agroecológicas. Também estamos trazendo profissionais das universidades para fazerem um trabalho nas comunidades tanto com a psicologia de escuta, principalmente das mulheres, e também na nutrição, sobre a conscientização do alimento saudável, a vida precisa ser em harmonia, não só no meio ambiente, mas também entre as pessoas”, completou.
A agricultora Maria Betânia Pereira, de 42 anos, do Sítio Meia Pataca, também integrou o grupo de visitantes e estava viajando pela primeira vez, assim como Eliane, ela ficou empolgada com o que viu e já está cheia de planos para aumentar sua produção e criação para passar a participar da Feira Agroecológica de Esperança: “Achei tudo muito lindo aqui. Depois da minha cisterna, melhorou muito, passei a plantar verduras e frutas que eu antes tinha que comprar, meu plano é aumentar mais a minha produção, cercar minhas galinhas e levar para a venda na feira. Estou muito satisfeita, essa cisterna para mim é a maior riqueza do mundo”, avaliou.