A celebração da 10ª edição da Marcha pela vida das Mulheres e pela Agroecologia e realização da 2ª Marcha da Juventude Camponesa do Polo da Borborema, com a temática do racismo e da identidade racial; a promoção da 7ª Feira Agroecológica e Cultural da Juventude Camponesa; a inauguração da rede de Quitandas da Borborema e a luta vitoriosa pela permanência da categoria do segurado especial na Reforma da Previdência foram os principais avanços apontados pelas lideranças do Polo da Borborema, em seu evento de balanço, realizado nos dias 11 e 12 de dezembro, em Campina Grande-PB.
Durante os dois dias de evento, os representantes dos 13 sindicatos de trabalhadores rurais que compõem o Polo, refletiram sobre o que move o movimento sindical que conduzem e o que significou o ano de 2019 em termos de avanços e desafios na sua trajetória de 25 anos de atuação em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. “Não se faz sindicalismo sem olhar para o outro com o coração. Tratar como nós temos tratado de temas tão importantes como o enfrentamento ao racismo, a LGBTfobia, ao abuso e a exploração sexual de crianças, faz de nós um movimento sindical extremamente inovador”, avaliou Roselita Vitor, liderança da coordenação do Polo e do município de Remígio-PB.
Juventude nos sindicatos
Questões como o feminicídio, a violência no campo, o combate aos agrotóxicos, os cortes nas políticas públicas, o fechamento das escolas do campo, a perda de direitos e as eleições municipais de 2020, foram lembrados como desafios a serem enfrentados no ano que se inicia. Os jovens presentes no encontro lembraram que se em anos passados, a participação da juventude no espaço do sindicato aparecia como desafio, hoje ela já está sendo lembrada como um dos avanços.
Eles também colocaram a implantação da educação em tempo integral nas escolas dos municípios, como um tema a ser enfrentado no ano que vem: “Não só porque retira o tempo do jovem de se dedicar à agricultura, mas porque precisamos analisar que educação é essa que está sendo passada para o jovem do campo”, pontua Matheus Silva, 20 anos, do Sítio Videl, em Solânea e da Comissão Executiva de Juventude do Polo da Borborema.
A partir da reflexão do encontro sobre sindicalismo realizado em agosto de 2019, os participantes do evento revisaram os compromissos assumidos e socializaram o que havia sido realizado e o que ainda poderia ser feito no caminho para o aperfeiçoamento da ação sindical pautada no protagonismo das famílias agricultoras e na valorização do seu conhecimento e suas experiências. “Esse ano nós nos reunimos e pedimos licença para ‘entrar na cozinha’ um do outro, para aprofundar o debate interno sobre a nossa atuação”, explicou Nelson Ferreira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca-PB e da coordenação do Polo.
Sindicato de portas abertas
Um dos principais resultados do encontro realizado em agosto foi a criação da Campanha “O Sindicato está de portas abertas e conta com você”, uma resposta do movimento sindical da região à ofensiva conservadora e onda de boatos de que os sindicatos iriam fechar. “Eles acharam que o sindicato era só previdência, e como eles queriam acabar com a previdência pública, acharam que os sindicatos iam acabar. Tudo que estamos vendo aqui é um recado de que os sindicatos da Borborema continuam fortes”, disse Manoel Oliveira, conhecido como ‘Nequinho’, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova-PB e da coordenação do Polo.
A campanha, que foi oficialmente lançada no evento de balanço, é composta por materiais educativos como banners, folders, panfletos, posts para redes sociais, calendários e agendas que trazem informação sobre os serviços prestados pelos sindicatos do Polo e o conjunto da sua ação nos mais variados espaços organizativos como conselhos de políticas públicas ou nas redes como a Articulação do Semiárido Brasileiro e a Articulação Nacional de Agroecologia, bem como a diversidade de assuntos trabalhados por meio das redes temáticas territoriais (criação animal, recursos hídricos, saúde e alimentação, juventude, infância e educação, cultivos agroflorestais e sementes).
O lançamento ocorreu na manhã do dia 12 de dezembro, com uma peça de teatro encenada por jovens da Comissão Executiva de Juventude do Polo. Em seguida, foram eles também que puxaram uma reflexão em grupos de trabalho a partir de duas questões: ‘como os sindicatos do Polo veem o movimento da juventude no território?’ e ‘quais os desafios para o trabalho com a juventude nos municípios?’.
Os jovens tiveram espaço para falar de suas inquietações e avaliar como tem se dado o trabalho com a juventude na região. “Não queremos tomar o lugar de um presidente de sindicato, não, até porque a gente tem muito o que aprender ainda”, afirmou Edson Johnny, 25 anos, do Sítio Umbu, em Esperança e integrante da coordenação do Polo e da direção do sindicato. “Quando a gente fala que é importante ter dirigentes jovens, LGBTs, não é porque ele ou ela, são melhores do que ninguém, mas só quem é, sabe das demandas, das violências e dos preconceitos que sofrem”, lembrou Rute Maria Albuquerque, 19 anos, do Assentamento Queimadas, em Remígio-PB e da Comissão de Juventude do Polo.
Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia
Na tarde do último dia, as mulheres realizaram uma mística lembrando os alarmantes números de feminicídio e outras tantas violações que acontecem. O momento marcou o lançamento da 11ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que acontecerá no dia 12 de março de 2020. As lideranças femininas do município de Remígio, que abrigou a marcha de 2019, fizeram a entrega simbólica da marcha às mulheres de Esperança-PB que receberá a nova edição.
“A Marcha acontece todos os dias em nossas vidas, em nosso sindicato, na comunidade, na associação. Mas a gente tem um dia para levantar essa bandeira, um dia para a gente ir as ruas e mostrar para a sociedade, para a gente dizer que o mundo que a gente quer não é esse, com tanta violência. Mas dizer que queremos um mundo de igualdade para todos e que as mulheres possam se sentir protegidas, inclusive dentro de suas casas, onde também acontece a violência. Então é pela vida das mulheres e pela agroecologia que nós de Esperança recebemos a Marcha em 2020”, falou Marizelda Salviano ao receber o estandarte de Marcha.