Há mais de 10 anos o Programa de Agricultura Urbana da AS-PTA promove um encontro de final de ano, e 2019 não poderia ser diferente. No dia 16 de dezembro cerca de 130 pessoas se reuniram na Fundação Angélica Goulart em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, para trocar reflexões sobre suas ações e compartilhar sonhos futuros.
Entre amigos o dia se iniciou com a partilha do café da roça. Estiveram presentes agricultores, artesãos e representantes de diferentes organizações parceiras que diariamente lutam pelo direito de se plantar na cidade. Em seguida a Juventude Agroecológica iniciou a mística declamando o cordel de própria autoria:
As atividades começaram com a partilha entre amigos do café da roça, entre eles agricultores, artesãos e representantes de diferentes organizações parceiras que diariamente lutam pelo direito de se plantar na cidade. Em seguida a Juventude Agroecológica iniciou a mística declamando o cordel de própria autoria:
“Quem diria que no meio da cidade grande
Essa gente tão interessante
Não se deixaria acomodar
E ousaria plantar
Chega mais
Diz pra gente
Quem é tu e onde você ousa plantar?
Tem mulheres como a dona Maria, que acorda pra regar as plantinhas do seu quintal todo dia
E homens como o seu José
que cresceu no meio da plantação e de lá não arreda o pé
e muito, muito mais gente, que com a inchada na mão não cansa de lutar pela agroecologia e soberania alimentar
As juventudes também tão nessa
Com força e disposição à beça
Reconhecendo que essa luta é todo dia
Porque sem essas juventudes não tem agroecologia”
Foi o ponta pé para dar início a roda de conversa que teve como tema “Agricultura Urbana: facilitando o acesso a comida de verdade na cidade”. Os grupos Arranjo Local da Penha, Verdejar Sócio Ambiental, Arranjo de Guaratiba, Quintais produtivos da Colônia, Feira da roça de Vargem Grande, Casarão de Campo Grande, Nova Iguaçu e Rede Carioca de Agricultura Urbana apresentaram os resultados do ano, dialogando com a temática do abastecimento.
As falas, construídas a partir das vivências, valorizaram aspectos referente a fé, a força das plantas como elemento de cura; a importância das redes como espaços de união, das trocas de saberes, da força das mulheres e das juventudes; do desafio de não se consumir comida com veneno:
“Quando conheci comida de verdade, parei de me envenenar.”
“Temos que resistir porque a gente consegue plantar o que é bom na cidade.”
“Não é só o alimento saudável, é o amor que dedicamos.”
“Juntos chegamos lá, só não da pra desistir, juntos vamos resistir.”
“As experiências são vivas e inspiram outras todos os dias.”
“Não somos só plantadores de sementes, mas também de amores”.
“Conhecer comida de verdade é transformador.”
“Se a gente não colocar o nosso tempero, vamos ter que engolir do jeito que eles querem.”
“Agroecologia e democracia unindo o campo e a cidade!”
Na sequência da mesa, representantes das Articulações de Agroecologia Nacional (ANA) e do Rio de Janeiro (AARJ), do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDR), do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (Consea-Rio) e da ONG Capina, destacaram sobre os tempos sombrios que estamos vivendo referente a falta de apoios dos governantes e a necessidade de ancorarmos ação coletivas e continuadas nos territórios a fim de reivindicar o cumprimento das políticas públicas, da manutenção dos conselhos, do exercício da cidadania por meio do voto consciente, da proatividade na formulação de pautas e exigência de direitos, fortalecimento dos coletivos como espaço de resistência, celebrar as conquistas, o direito de ocupação dos espaços para plantar; a promoção de soberania alimentar via circuitos curtos como alternativa em contexto de mudanças climáticas e instabilidade econômica. Em resumo, trataram da abrangência da Agricultura Urbana em sua dimensão local e política.
Após essa roda de conversa foi servido um saboroso almoço com peixe fresco da própria localidade e com produtos da Feira da Reforma Agrária do MST e de outros produtores agroecológicos, reforçando a coerência do discurso com a prática.
Na parte da tarde foram oferecidas atividades diversas a fim de fortalecer a confraternização, os reencontros, conversas e brincadeiras. A coletiva Mulheres de Pedra apresentaram um desfile da diversidade com peças produzidas por elas mesmas, a FAG fez uma visita guiada pelo espaço mostrando o trabalho desenvolvido durante todo o ano com composteiras, uma feirinha de alimentos e artesanatos com Produtos da Gente foi montada e todos puderam visitar a instalação pedagógica composta por um varal de fotos e o lançamento de um podcast, feito em parceria com a juventude na qual valoriza o sentimento de ser agricultor na cidade. O encontro encerrou animado com música e a força das mulheres, dos jovens, dos agricultores e agricultoras urbanas.