Refletir sobre a Rede de Guardiãs e Guardiões de Sementes Crioulas e sua identidade foi um dos fios condutores do primeiro encontro de 2020 da Rede Sementes da Agroecologia (ReSA), realizado nos dias 27 e 28 de fevereiro na Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA). Fruto da luta por uma educação pública e popular, a Escola foi construída há mais de 12 anos dentro do Assentamento Contestado, município da Lapa, região centro sul do Paraná.
Mesmo diante de uma desafiadora conjuntura – tanto a âmbito nacional quanto estadual – 16 organizações e coletivos de diferentes regiões do estado se reuniram, desenhando ações e planejamento para o ano de 2020. Junto aos momentos de reflexão e proposição de atividades, celebrar a resistência das famílias agricultoras, dos povos e comunidades tradicionais, que mantém vivas as sementes crioulas e sua cultura alimentar.
Na pauta do cenário nacional, o adiamento da votação pelo Supremo Tribunal Federal da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5553, que trata sobre a isenção fiscal do setor de agrotóxicos (com redução do ICMS e isenção total de IPI, leia mais aqui) e a consulta pública sobre a construção da Política Nacional de Recursos Genéticos para a Alimentação e Agricultura (PNRGAA).
Olhando para o estado, diálogo sobre acesso aos bancos de sementes coordenados pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa-PR), a fusão de órgãos de pesquisa e extensão rural do Paraná, sendo colocado em prática desde 2019 e já em vigor, onde o Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA), a Companhia de Desenvolvimento Agropecuária do Paraná (Codapar), IAPAR e Emater se tornaram o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná.
As sementes que promovem encontros
Momento político mais importante para a ReSA, as festas e feiras de sementes crioulas significam uma oportunidade de diálogo e troca de experiências com a sociedade, tanto com quem vive no campo quanto nos centros urbanos. Articuladas por diversas organizações da sociedade civil, reúnem centenas de famílias agricultoras de toda região sul, especialmente do estado do Paraná.
Ao longo de 2020 estão previstas mais de 25 festas e feiras municipais e a realização da 18ª Feira Regional de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade no município de Fernandes Pinheiro (PR), que já está com data marcada – entre os dias 14 e 15 de agosto.
Neste ano, a 33º Romaria da Terra do Paraná, convocada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), ocorrerá ao final da feira regional, no domingo, 16. Em diálogo com o lema da Campanha da Fraternidade – “Fraternidade e vida: dom e compromisso”, o objetivo é celebrar a vida e a resistência de milhares de famílias agricultoras, povos indígenas e comunidades tradicionais que trazem a semente crioula como símbolo de sua luta. A mobilização nos territórios já começou e os encontros municipais serão momentos de preparação para a feira regional, culminância de um longo processo organizativo da sociedade civil em parceria com prefeituras, cooperativas, grupos e coletivos.
Em 2019, foram mais de 100 expositores/as da agricultura familiar vindos de 60 municípios e aproximadamente quatro mil visitantes, que se reunirem em Rebouças (PR), partilhando estratégias para a conservação da agrobiodiversidade de seus territórios.
A missão da ReSA é articular as diversas iniciativas de conservação, melhoramento, produção, comercialização e troca de sementes, trabalhando pela manutenção do direito de camponesas e camponeses, famílias agricultoras, povos indígenas e comunidades tradicionais, que tenham compromisso com o fortalecimento da Agroecologia nos territórios, no acesso e preservação de suas sementes. As ações caminham em direção ao fortalecimento e inserção nos espaços de luta política.