Em tempos de pandemia e, consequente, maior agudização das condições de vida, acirramento da fome e dificuldade de abastecimento, o programa de Agricultura Urbana da AS-PTA em parceria com organizações e coletivos atuantes na região metropolitana do Rio de Janeiro têm se dedicado à realização de ações emergenciais para doação de alimentos agroecológicos às famílias que estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Por meio dessa iniciativa tem sido possível a realização da compra direta da agricultura familiar e urbana – produtora de alimentos agroecológicos, sem venenos e que respeita às culturas locais e as realidades territoriais. Essa aquisição fortalece o escoamento das colheitas que também vem sofrendo com os impactos da pandemia, já que muitas agricultoras não estão conseguindo vender seus produtos nas feiras regulares, perdendo parte importante da renda.
Em cada ocasião em que foram montadas, as cestas trouxeram uma diversidade de alimentos que, em função da época, foi-se construindo diferentes arranjos alimentares. Na última entrega, cada cesta continha: arroz, feijão, farinha de mandioca, fubá, canjiquinha, café, hortaliças – como alface, couve, espinafre, salsa, coentro – frutas – banana, abacaxi, manga, limão galego – raízes, tubérculos e frutos – aipim, batata doce, abóbora, jiló – ervas alimentícias, temperos e ervas medicinais, a mais diversificada expressão da agricultura familiar agroecológica.
Nos últimos meses, foram entregues cerca de 4.000 cestas, contendo cerca de 12 quilos de alimentos cada, alcançando um total de 48 toneladas de alimentos saudáveis e 2 mil unidades de produtos de limpeza para as famílias, contribuindo para promoção da saúde nesse momento de crise.
A partilha do alimento saudável contagiou as agricultoras e agricultores. Conscientes da crise sanitária e econômica, e a importância do papel social que cumprem na produção de alimentos, muitos acabaram oferecendo maior quantidade do que lhes foi comprado.
Outro diferencial que vale destacar é a estratégia que as comunidades adotaram para fazer suas entregas das cestas solidárias. No formato de Feira livre, os gêneros alimentícios foram organizados em lugares que até então eram encarados apenas como “de passagem”. Essa iniciativa acabou promovendo o encontro mais próximo das agricultoras, agricultores, moradores voluntários aos beneficiários da comunidade, transformando esses espaços em referência de abastecimento de alimentação saudável. A dinâmica adotada deu autonomia às famílias para escolher quais alimentos iriam levar, resgatando saberes e criando vínculos.
Diversidade de alimentos, diversidade de atores – O exercício da solidariedade contagiou o envolvimento e a participação de muita gente na montagem das cestas. Voluntários de 9 territórios da cidade sendo estes: Favela do Grotão e Engenho da Rainha na Serra da Misericórdia, Quilombos do Camorim, Cafundá Astrogilda e Dona Bilina no Maciço da Pedra Branca, Quintais Produtivos da Colônia Juliano Moreira em Jacarepaguá, Horta da Brisa em Pedra de Guaratiba, Vargem Grande, Campo Grande e favela Tavares Bastos no Catete – se juntaram para organizar a logística da acolhida, montagem, pesagem, separação e entrega desses alimentos.
Não há como não destacar nessa rede, o protagonismo das mulheres que elaboraram toda a gestão do processo de distribuição, da colheita até as mesas, passando pela mobilização e articulação dos moradores das comunidades. São elas que mais uma vez assumem o papel de cuidado e liderança, que conhecem as realidades de suas vizinhas e identificam as famílias que mais precisam. Ao mesmo tempo que são elas as mais prejudicadas e vulneráveis pela crise, pois se encontram muitas vezes desempregadas, chefes de família e na linha de frente do combate a covid-19.
Por sua vez a juventude chega no apoio da comunicação popular. Com celular na mão, realizam registros feitos em forma de fotografia, vídeos e áudios traduzindo em sons e imagens a riqueza que foi a ação.
O exercício da montagem das cestas até sua distribuição foi rico em ensinamentos. A cidade e as suas comunidades responderam prontamente aos problemas causados pela pandemia. Recolocou no centro do debate a cidade que queremos e como podemos, de forma coletiva e solidária, construir condições de fazer encurtar os caminhos de quem produz e de quem precisa de um alimento saudável.
Essa ação foi realizada pela articulação dos Arranjos Locais: AS-PTA, CEM, Verdejar, Levante Popular da Juventude, Feira da Roça, Fundação Angélica Goulart, ABIO, UNACOOP, MST, Feira Agroecológica de Campo Grande, Quintais produtivos da Colônia e agricultoras e agricultores da Rede Carioca de Agricultura Urbana