Pouco valorizadas pela sociedade e ciência, as trabalhadoras do campo e cidade possuem papel central na defesa da agrobiodiversidade.
Elas, há diversas gerações, selecionam, produzem, armazenam, preservam e adaptam sementes crioulas, num trabalho de pesquisa e prática diárias. São trabalhadoras do campo, da cidade e da floresta que resistem a um modelo de agricultura estruturado em commodities e sob controle de grandes empresas que se impõe contra o meio ambiente, contra a saúde e a soberania alimentar da população. Mulheres agricultoras familiares, assentadas da reforma agrária, de povos indígenas e de comunidades tradicionais que possuem um papel fundamental para garantir que sementes de grãos, de hortaliças, de frutas, flores, medicamentos e outras variedades tenham sua riqueza genética e nutricional resgatadas e preservadas. Conhecimento compartilhado e que ganha ainda mais vida em coletivos auto-organizados pelas próprias mulheres.
Com a importância da preservação da biodiversidade e dos diversos ecossistemas e a centralidade da oferta de alimentos de qualidade – ainda mais em tempos pandêmicos – o papel desempenhado por mulheres guardiãs deveria ser amplamente valorizado pela ciência e sociedade em geral. Infelizmente, não é o que ocorre. A visibilidade do trabalho de mulheres guardiãs de sementes fica, por muitas vezes, circunscrita aos coletivos de agroecologia, redes de comércio local ou à esfera privada de relações da guardiã.
Com a perspectiva de trazer visibilidade e valorização ao trabalho destas mulheres, a Rede Sementes da Agroecologia (ReSa) realiza no dia 11 de março, às 19h, o Festival Guardiãs de Sementes do Paraná – preservação da vida pelas mulheres. A agenda online soma-se ao conjunto de atividades virtuais realizadas na semana do Dia Internacional das Mulheres, celebrado em 08 de março.
Para ter uma ideia, as mulheres guardiãs que participam do festival produzem uma rica e ampla gama de variedades essenciais para uma cadeia alimentar nutritiva e diversa. São raízes e grãos como batata doce, cenoura, açafrão, gengibre, feijões e arroz; legumes e folhosas como couve flor, alface, ora pro nobis e rúcula; frutas como banana, melão, melancia e pitanga; chás e flores, que além de serem comestíveis são variedades essenciais para atrair insetos polinizadores, como a abelha, e fundamentais para produzir alimentos e remédios naturais.
A atividade ainda marca o lançamento da publicação de mesmo nome. Elaborado por guardiãs e mulheres integrantes da ReSA, a publicação reúne textos que buscam estabelecer a relação entre as guardiãs e os temas circunscritos à prática com as sementes crioulas – agroecologia, direitos e legislação, guardiãs urbanas, auto-organização, contaminação genética e políticas públicas. O material traz ainda receitas de alimentos sugeridas pelas guardiãs, medicamentos naturais e cuidados com a saúde e meio ambiente.
Atrações
O Festival trará para o espaço da web mulheres guardiãs de várias regiões do estado. “Vocês poderão ver várias guardiãs falando sobre experiências concretas – tanto do campo quanto da cidade – na produção de alimentos e multiplicação de sementes em diversas regiões do Paraná, sempre atentas e preocupadas com a legislação, mas também na luta como processo legal para contemplar o trabalho das guardiãs na defesa da biodiversidade”, aponta a integrante da ReSA e agroecóloga da Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (Assesoar), Janete Rosa Fabro, em referência ao trabalho de incidência no legislativo e executivo por organizações e coletivos de defesa da agrobioversidade.
As guardiãs ainda trarão relatos sobre processos organizativos em torno de coletivos, grupos e redes, em diferentes regiões, seja em hortas comunitárias na cidade e na área rural.
Um dos destaques do festival é o relato sobre a produção de alimentos nativos do Paraná. São mulheres do litoral que trazem uma experiência rica de produção de frutas nativas pouco presentes nos mercados. Outro destaque é o trabalho feito por guardiãs que residem em perímetro urbano. Contrariando a ideia de que a cidade não pode produzir alimentos, as guardiãs urbanas têm feito um importante trabalho de resgate de sementes crioulas, além de visibilizar as relações que a cidade e o campo estabelecem. “Vamos ouvir guardiãs urbanas que em pequenos lotes, até vasos, multiplicam e resgatem sementes. Um trabalho fundamental para a sociedade. É através desse trabalho que nós temos a nossa base alimentar no país”, reforça Janete.
Festival Guardiãs de Sementes do Paraná – preservação da vida pelas mulheres
Dia 11 de março (quinta-feira), às 19h
:: A atividade pode ser acompanhada pelo facebook da ReSA e das organizações integrantes da Rede
https://www.facebook.com/Resagroecologia