Assessoria técnica e agroecológica no manejo do solo e ideias para produtos da sociobiodiversidade foram alguns dos temas conversados entre equipe e agricultoras(es) familiares e quilombolas do território do Maciço da Pedra Branca
Nesta última semana, colocamos o pé na terra, a máscara no rosto e seguimos em direção às áreas de produção agrícola que ficam no território do Sertão Carioca. Seguindo todos os protocolos de segurança frente à situação de Covid 19, visitamos os Sistemas Agroflorestais (SAFs) no Quilombo Cafundá Astrogilda e no Quilombo do Camorim, localizados na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
A ação faz parte de dois projetos que são realizados pelo Programa de Agricultura Urbana da AS-PTA no Rio de Janeiro, o projeto Sertão Carioca: Conectando Cidade e Floresta e o projeto Redes Locais De Produção e Abastecimento Alimentar: Fortalecendo laços de produção, comercialização e consumo de alimentos saudáveis, mais conhecido como Arranjos Locais.
Ingrid Pena, coordenadora geral do projeto Sertão Carioca destaca que, apesar das dificuldades decorrentes do momento da pandemia, as atividades de campo são indispensáveis, “Elas ajudam a identificar demandas e estreitar os laços com as comunidades participantes. A atividade também ajuda a traçar as estratégias e pensar nos melhores caminhos para desenvolvermos as ações” destacou.
Quilombo do Camorim
A visita começou no Quilombo do Camorim. O território foi reconhecido pela Fundação Palmares, em 2014, como área de remanescentes de negros escravizados, e, em 2018, teve uma área identificada como Sítio Arqueológico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artsítico (IPHAN).
No Camorim, fomos recebidos pela liderança quilombola Adilson Almeida, da Associação Cultural do Quilombo do Camorim (ACQUCA), grupo representativo do Quilombo do Camorim no Projeto Sertão Carioca.
Lá, andamos por uma verdadeira floresta em pé que inclui espécies nativas, frutíferas como citrus, cajá e cambucá e também temperos, ervas medicinais e plantas alimentícias não convencionais. Adilson conversou conosco sobre o trabalho de educação ambiental com crianças que realiza em parceria com escolas, compartilhou desafios e também boas ideias para o espaço da horta comunitária.
Renata Souto, assessora agrícola do projeto, foi a educadora responsável por organizar a horta junto com a comunidade em 2015, destaca que a visita busca apoiar e incrementar o trabalho que já existe por lá. “A comunidade já desenvolve o manejo agroecológico e a produção de mudas e temperos. Nossa ideia é incentivar a produção, e incluí-la dentro da linha de produtos da sociobiodiversidade que vamos construir” destaca Renata.
Temperos e outros produtos de fácil beneficiamento estão previstos para comercialização e integrarão a linha de produtos da sociobiodiversidade, ação que faz parte da campanha Produtos da Gente, também realizada por meio do programa de AU da AS-PTA.
Quilombo do Cafundá Astrogilda
Em Vargem Grande, no Quilombo Cafundá Astrogilda, território que também foi reconhecido pela Fundação Palmares, em 2014, como área de descendentes de quilombolas, o cuidado com a terra e a agricultura são heranças de toda essa ancestralidade presente no território até hoje.
A banana cultivada no Maciço já ganhou um prêmio, sendo reconhecida como maravilha gastronômica do Rio de Janeiro, e a comunidade do Quilombo Cafundá Astrogilda é grande produtora dessa delícia gastronômica. Diante de uma grande diversidade de espécies nativas medicinais no meio da floresta, reforçamos a necessidade de apoiar o manejo do solo e a logística da comercialização da produção.
Fomos visitar o quintal da Tati, espaço com enorme diversidade de plantas ornamentais, medicinais, ervas para temperos e grande criatividade na organização do local, incluindo itens de artesanato feitos por sua filha. Conversamos sobre maneiras de beneficiar as ervas para chás e a comercialização de mudas feitas por ela.
Outros temas de assessoria técnica identificados foram o manejo de pragas, as doenças no bananal e a necessidade de incremento da produção com equipamentos simples para realizar a irrigação.
Adilson Mesquita Júnior, que é bisneto da matriarca Astrogilda, que dá nome à comunidade, acompanhou nossa visita.
Ele conta que são duas as principais demandas que identifica em seu território: apoio técnico e a permanência das novas gerações no trabalho da agricultura urbana. Adilson Jr, que possui um quintal rico em biodiversidade com pimenta, maracujá, inhame, café, palmito de pupunha, abacate, juçara, cana, graviola e banana destaca que “a visita permitiu conversar sobre o projeto e mostrar a proposta de trabalho. Permitiu também que a gente, que mora aqui no território, pudesse falar sobre a forma como a gente faz agricultura e com isso ajudar a pensar como devem ser as ações para cá” destacou Adilson, que é estagiário do projeto e estudante do curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Letícia Ribeiro, assessora agrícola da AS-PTA, destaca que a visita permite interação, troca de conhecimento e de informações. “Ir para o local é muito importante para pensar o que vamos desenvolver. A visita ajudou a gente a fazer um diagnóstico das unidades produtivas e identificar algumas necessidades, como adubação, calagem e adoção de algumas práticas de manejo”.
No plano de trabalho do projeto Sertão Carioca, a visita compõe o eixo ambiental das ações, e ajuda na coleta de informações para a implantação de 30 unidades agroflorestais / hortas florestas, visando a ampliação do elemento arbóreo nativo nas comunidades situadas no Parque Estadual da Pedra Branca e em sua zona de amortecimento.
Já no plano de trabalho do projeto Arranjos Locais o objetivo é fortalecer os mercados e promover a saúde e a soberania alimentar através da agricultura urbana nas favelas, quilombos e comunidades da cidade do Rio de Janeiro de modo participativo.
Apoios e Patrocínios
O Projeto Sertão Carioca: Conectando Cidade e Floresta é realizado pela AS-PTA, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Já o projeto Redes Locais de Produção e Abastecimento Alimentar: Fortalecendo laços de produção, comercialização e consumo de alimentos saudáveis tem apoio da Misereor. Ambos são realizados por meio de parcerias comunitárias que intervêm no planejamento e na tomada de decisões das iniciativas.