No calendário oficial, o dia 13 de maio é o dia da abolição da escravatura. No entanto, movimentos anti-racistas têm realizado críticas e reflexões sobre essa data, pois, ela não representou o fim da exploração dos(as) trabalhadores(as) negros(as). Além disso, até hoje a população negra permanece marginalizada, excluída de processos de socialização e afastada do protagonismo dos sistemas de poder.
Os quilombos representam uma das formas de resistência ao sistema escravocrata. A agricultura praticada pelas comunidades quilombolas é uma das raízes do que hoje entendemos como a agricultura camponesa no Brasil. Era a base para as metodologias de resistência, sendo para subsistência (alimentação e saúde), e também para o desenvolvimento de relações econômicas e políticas, através das redes de comércio com as cidades dos produtos oriundos da terra.
A agroecologia no Brasil e em outros países da América Latina tem como base esse passado de luta.
Além disso, visões de mundo racistas são reforçadas e acabam por validar a perda de direitos, colocando em risco a reprodução de suas vidas, culturas, histórias e memórias. No Brasil contemporâneo, a luta pela demarcação de terras quilombolas e o acesso às políticas públicas que possam fazer a reparação histórica à escravidão ainda são escassas.
Nesse contexto, a luta anti-racista e a agroecologia se entrecruzam. A agroecologia reconhece que práticas tradicionais de agricultura carregam visões de mundo ecológicas, e que são mantidas e preservadas graças à resistência e práticas das comunidades quilombolas.
Ao mesmo tempo, a luta anti-racista enriquece e abre os caminhos dos movimentos e das redes de agroecologia. Os valores civilizatórios afro-brasileiros se mantém resistindo e inventando outros modos de produção alimentar e de organização da vida coletiva. Além disso, amplia a capacidade técnica e organizativa da agroecologia.
Na cidade do Rio de Janeiro, a cosmovisão e as práticas das comunidades quilombolas e negras dos Quilombo Dona Bilina, Quilombo Cafundá Astrogilda e Quilombo do Camorim integram as práticas culturais da comunidade à natureza, produzindo alimentos e ajudando na conservação ambiental do Parque Estadual da Pedra Branca, uma área preservada do bioma da Mata Atlântica.
Preservar uma área como essa, em uma metrópole com forte incidência do racismo e da especulação imobiliária – onde toda área natural é transformada em prédio, condomínio, shopping ou garagem – tem sido uma ação de resistência, cujo protagonismo é feito pelas famílias que vivem na região.
Por isso, nesse 13 de maio, reafirmamos que a agroecologia e a luta anti-racista se entrecruzam. Sem combate ao racismo não há agroecologia!
O Projeto Sertão Carioca: Conectando Cidade e Floresta, realizado pela AS-PTA em parceria com as comunidades quilombolas do Quilombo Dona Bilina, Cafundá Astrogilda e Quilombo do Camorim tem o patrocínio da Petrobrás, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.