Em 2015 agricultoras urbanas e culinaristas se organizaram em uma cozinha feita de paletes, na beira da estrada com pouca infraestrutura. Mas, tendo a criatividade e o trabalho coletivo como temperos, criaram receitas e desenvolveram uma diversidade de produtos.
Em 2015, no acampamento Marli Pereira, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) na cidade de Paracambi, região metropolitana do Rio de Janeiro, agricultoras se reuniram na luta pela terra e pela necessidade de geração de renda e autonomia.
Buscando por mais espaços de formação, as agricultoras participaram de oficinas e intercâmbios oferecidos por instituições parceiras como a Escolinha de Agroecologia de Nova Iguaçu.
Em uma visita para troca de experiências com a organização comunitária Verdejar Socioambiental, que tem atuação nos complexos de favela na Serra da Misericórdia, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, elas conheceram a chaya, uma Planta Alimentícia Não Convencional (PANCS), originária da América Central e trazida para o Brasil. Com a estaca da planta na mão, que receberam de presente durante a visita, voltaram para o acampamento e fizeram seu plantio, que transformou para sempre a história do coletivo. Assim nascia então o Empório da Chaya.
Aos poucos o território que se encontrava em um período de seca e com pouca produção, foi sendo tomado pela chaya. Com pés em abundância as mulheres decidiram beneficiá-la elaborando diversas receitas. O foco era comercializar na Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, organizada MST e realizada, em todo final de ano, no Largo da Carioca, na cidade do Rio de Janeiro.
Com o evento, o coletivo começou a ganhar visibilidade. Suas integrantes fizeram uma participação no programa de televisão Amor de Cozinha, apresentado pela eco chef Regina Tchelly, no canal Futura, e conquistaram o prêmio Consulado da Mulher, voltado para coletivos de mulheres empreendedoras. Além de um valor em dinheiro, elas também ganharam eletrodomésticos para equipar a cozinha do acampamento.
Com o aumento da demanda houve a necessidade do coletivo encontrar mais espaço para produção que vinha sendo realizada na beira da estrada. Arrendaram um lote próximo ao acampamento e nele trabalharam no cultivo de uma agrofloresta. Porém, ainda nesse espaço, surgiram dificuldades com relação à infraestrutura, como, por exemplo, o acesso à água. Atualmente, as mulheres se organizam no bairro BNH, na serra de Engenho Gurgel, também em Paracambi.
Nesse novo lugar, o grupo cresceu. Somaram-se às mulheres moradoras do Gurgel, e, juntas, estão produzindo plantas e receitas, explorando principalmente o uso de PANCs. Todos os domingos, montam uma barraca em frente ao sítio para vender todas as delícias feitas pelas mãos das agricultoras. Elas ainda pretendem oferecer oficinas e realizar atividades de ecoturismo no local.
Além disso, elas se articulam em redes, contando com a parceria de outras instituições que também sonham com a construção da segurança e da soberania alimentar, com a luta pela terra e com o protagonismo das mulheres.
Áurea Regina, liderança comunitária e uma das fundadoras do Empório conta: “A gente ainda continua na luta pela terra de alguma forma, porque todas nós ainda temos o sonho de ter a nossa propriedade e trabalhar nela, viver dela, e estamos lá nessa luta com as novas mulheres, com novas perspectivas, novos objetivos, e esse é um pouco da nossa história. As primeiras receitas com a chaya foram criadas para a participação na feira, mas hoje vendemos em vários outros espaços como a feira de Nova Iguaçu, de Paracambi, Seropédica. Em um momento de crise hídrica e que havia demanda de produtos, a chaya foi uma alternativa para o nosso coletivo de mulheres.”
As referências para a produção foram muitas: desde o suco oferecido na visita de intercâmbio até a adaptação de receitas vistas na televisão.
Atualmente, elas oferecem uma diversidade de produtos da gente e todos estarão reunidos, em breve, em um caderno de receitas.
A AS-PTA, por meio do projeto REDES LOCAIS DE PRODUÇÃO E ABASTECIMENTO ALIMENTAR: Fortalecendo laços de produção, comercialização e consumo de alimentos saudáveis, que conta com o apoio da MISEREOR, tem apoiado a autonomia das mulheres.
Nesse período, estamos organizando uma publicação que visa organizar e sistematizar as receitas e os conhecimentos de modo a apoiar suas estratégias de comunicação e comercialização. O projeto prevê potencializar as ações agroecológicas desenvolvidas na região metropolitana do Rio de Janeiro promovendo o fortalecimento local, autonomia e direito à alimentação saudável.