Em celebração ao Dia Internacional das Mulheres, a Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia do Polo da Borborema exibirá no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande, o vídeo-documentário Mulheres do Curimataú. O lançamento acontecerá em uma sessão única no dia 4 de março, às 18h. A sessão é gratuita e os ingressos serão distribuídos da plataforma do próprio teatro.
Roteirizado e produzido por Adriana Galvão, assessora técnica da AS-PTA, com direção, fotografia e edição de Marcelo Pedroso, o documentário conduz, com poesia, leveza e fortes depoimentos, os espectadores para dentro da jornada de mulheres rurais que enfrentam a cultura machista e as secas cada vez mais intensas. O ano passado, quando as imagens foram captadas, o índice de precipitação pluviométrica no território de Curimataú foi de 170mm, o menor registrado nos últimos 100 anos.
Os depoimentos de quatro mulheres são entremeados por paisagens e cenas rurais de muita beleza, como a pintura de uma cisterna de 52 mil litros, uma das tecnologias que iniciou uma nova fase para a vida das mulheres agricultoras e suas famílias. Ao longo de quase meia hora, Ednalva Martins Gomes, Maria Helena Silva Barbosa, Marília Barbosa e Verônica de Macena – todas moradoras de Solânea – testemunham a transformação pela qual vem passando o Semiárido ao longo das últimas duas décadas a partir da construção de políticas e programas públicos que favorecem a convivência com as características ecológicas da região.
“Foi juntando a cisterna, feijão e artesanato. Foi juntando tudo e junto a gente foi construindo um mundo mais colorido. Naquela época eu tinha uma vida, eu dizia até assim: ‘a vida da gente é que nem um filme em preto e branco. Não tinha cor”, dispara uma das protagonistas, Maria Helena Silva Barbosa.
“A semente tá sendo lançada e quando a semente é lançada, a gente tem que fazer o quê? A colheita!”, anuncia Verônica Macena, referindo-se ao movimento de empoderamento das mulheres rurais que tem se expandido cada vez mais por meio de um trabalho consistente e permanente realizado pelos sindicatos rurais dos 13 municípios que formam o Polo da Borborema. Além dos sindicatos, o Polo congrega mais de 150 associações comunitárias, a EcoBorborema, a CoopBorborema e tem assessoria da ASPTA.
A narrativa – A primeira imagem do documentário é impactante. Uma área com terra descoberta de vegetação, com solo de aparência seca e pedregoso e uma mulher caminhando nela. É Maria Helena que apresenta o terreno como seu roçado. Enquanto caminha, fala: “Aqui foi plantado tudo. Plantemo milho, plantemo o feijão, plantemo a fava. Tudo isso aqui foi plantado. Só que como foi o inverno pouco, nada deu. Toda safra que a gente conseguiu fazer foi cinco quilos de feijão macassar e ainda foi um inverno curto. Essa aqui é a realidade da gente. Se bem me lembro a dois ou três anos atrás a gente fez 11 sacos de feijão, bem 16 sacos de milho, fava fizemos seis sacos, sem falar de jerimum, quiabo, melancia. Até girassol a gente plantava aqui. Até o ano passado eu me alimentava do feijão que fiz aqui. Mas nesse ano, a gente não teve muita oportunidade, nem teve a plantação de girassol que a gente gosta de enfeitar o roçado com girassol”.
Apesar do desalento da perda da produção, o vídeo não deságua na tristeza e lamentação. Pelo contrário, o tom é de superação e enfrentamento não só das condições climáticas adversas, mas também da cultura machista. E esse enfrentamento duplo foi capaz de empoderar as mulheres a partir não só do acesso às tecnologias que armazenam a água das chuvas e reaproveitam as já servidas – água de pias e chuveiro -, como também do acesso ao conhecimento e da valorização do saber popular que elas possuem. “Quero ter mais conhecimento para poder passar para o povo como a gente faz”, afirma Nalva Martins, liderança na sua comunidade.
“Antes eu nem falava e eu soubesse que vocês iam gravar, eu me escondia. Inventava qualquer coisa para não ficar na frente de uma câmera, mas desde daquelas descobertas, foi uma coisa que veio de bom para mim”, pontua Marília Barbosa, reconhecendo a transformação que sua vida passou a partir das reuniões que começou a frequentar à revelia da sua família no início.
“A seca de lá pra de hoje, a diferença é meio grande”, sustenta Verônica numa comparação inevitável entre períodos muito marcantes de secas. Um deles foi entre 1989 e 1993, quando o Semiárido brasileiro atravessou mais uma grande estiagem. Em 1994, foi lançado pela TV Viva e Zarabatana, o documentário Viúvas da Seca, que marcou época e definiu em duas palavras a difícil lida das mulheres rurais que permaneciam na aridez quando seus companheiros migravam em busca de trabalho e renda.
Não tem como ver o Mulheres de Curimataú e não lembrar do célebre Viúvas da Seca, filmado no sertão de Pernambuco, e repleto de depoimentos fortes e cortantes, que denunciam a devastação da seca numa época sem políticas públicas direcionadas para as famílias agricultoras.
Felizmente, a comparação das realidades mostra uma transformação social tão grande quanto a distância percorrida pelo homem quando chegou na Lua. Mesmo que, nos dias atuais, as políticas públicas, construídas em parceria entre Estado e sociedade civil organizada, estejam desidratadas pelos governos que sucederam Dilma Rousseff.
Mulheres do Curimataú foi produzido com apoio do CCFD Terra Solidária e encontra-se dentro das ações do projeto Borborema Agroecológica que que faz parte das onze iniciativas executadas no âmbito do projeto Gestão do Conhecimento para a Adaptação da Agricultura Familiar às Mudanças Climáticas (INNOVA AF), financiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrário (FIDA) e executado do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Mulheres do Curimataú
FICHA TÉCNICA
As Mulheres:
As Mulheres:
Ednalva Martins Gomes
Maria Helena
Marília Barbosa
Verônica de Macena
Roteiro e Produção: Adriana Galvão
Direção, Fotografia e Edição: Marcelo Pedroso
Som: Catherine Pimentel
Finalização de Imagem: Beatriz Lins
Motorista: Daniel Mário
Comunicação: Camila Queiroz
Músicas: Quinteto Armorial