A afirmação é de uma liderança do Polo da Borborema ao final de uma visita com 18 sindicalistas do Rio Grande do Sul na Paraíba
“Para nós é uma riqueza saber que, entre os 5 mil e poucos sindicatos [de trabalhadores e trabalhadoras rurais do Brasil], além de nós, tem vocês com o compromisso, pensamento e espírito não só político, mas de militantes em defesa da luta da agricultura familiar. É difícil encontrar grupos com essa mentalidade de procurar fazer um sindicalismo numa perspectiva diferenciada, apostando na diversificação da agricultura familiar”, dispara Manoel Oliveira, conhecido como seu Nequinho, do Sindicato de Alagoa Nova, na roda de avaliação do intercâmbio com sindicalistas do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, que aconteceu de terça a quinta-feira da semana passada (de 22 a 24), na Borborema paraibana.
Foram três dias de muita conversa, visita de campo e observação das estratégias, princípios e ações do Polo da Borborema para mobilizar as mulheres, jovens e homens que se dedicam a cultivar a terra e criar animais no território que reúne uma diversidade de climas – brejo, agreste e uma região mais árida chamada de Curimataú – e uma diversidade de estratégias produtivas da agricultura familiar.
O começo e o encerramento do intercâmbio aconteceram na sede do Polo da Borborema e, nas demais manhãs e tardes, o grupo de 18 gaúchos e gaúchas visitou o Sindicato de Remígio e Queimadas, as comunidades Soares, em Queimadas, e Benefício, em Esperança, conheceu o complexo onde fica o Banco Mãe de Sementes da Paixão, a Unidade de Beneficiamento do Milho da Paixão e a Cozinha Escola.
O trabalho com as crianças, jovens, mulheres e guardiões e guardiãs da biodiversidade foram os temas principais apresentados. Em cada estação temática, as histórias eram contadas a partir de diretores sindicais, que traziam um olhar baseado em leituras e reflexões coletivas. E também havia espaços para que as pessoas das comunidades contassem um pedacinho dessa história através de seus depoimentos cheios de verdade e com jeitinhos próprios de falar que arrancavam sorrisos dos/as visitantes e animavam não só o ambiente, mas os corações desejosos de contribuir com a transformação social no país.
Era tanto a ser apresentado que dois dias para as visitas em campo pareciam insuficientes para quem está na lida diária dos 13 sindicatos envolvidos no Polo da Borborema. Por outro lado, para os visitantes, era tanto volume de informação que o grupo se sentia saciado e se dizia encantado quando agradecia a acolhida e se despedia dos anfitriões do momento.
As atenções dos visitantes estavam voltadas para questões como a integração da ação dos 13 sindicatos do Polo a partir de um projeto político de fortalecimento da agricultura familiar no território, a mobilização das mulheres, a sucessão rural, como fazer para as pessoas participarem de atividades coletivas, para entender os papeis do Polo, dos sindicatos e da AS-PTA nesta ação conjunta no território, como se dá a gestão de projetos e da equipe do Polo, entre outros elementos dos campos metodológico, de governança e político que permeiam a ação sindical.
Os visitantes – No grupo, havia pessoas da Associação Regional Sindical do Litoral Norte gaúcho e lideranças dos sindicatos que fazem parte dessa Regional. Homens, mulheres e jovens, que além do papel representativo que exercem nos sindicatos também são agricultores e desenvolvem diversas atividades no campo como o turismo rural e o artesanato. A visita ao Polo da Borborema representa um módulo da formação em Agentes de Desenvolvimento Regional que o grupo está fazendo.
Uma das intenções que move o coletivo é, justamente, transformar a prática sindical no litoral norte do Rio Grande do Sul. A região se destaca por ter uma grande quantidade de famílias agricultoras envolvidas com agroecologia e produção orgânica. “Essa caminhada formativa promove oportunidades para que o grupo construa percepções para ler seu território”, comentou Gustavo Martins, que facilita o processo formativo. “É um grupo interessado numa ação representativa, mas também numa ação prática, como organizar a produção agroecológica, a comercialização…”, comentou Raimunda Oliveira, da Escola de Formação Nacional da Contag (Enfoc), que está apoiando esta formação.
Na última plenária do intercâmbio, foi organizada uma devolutiva para os anfitriões de alguns aspectos que chamaram a atenção do grupo de visitantes. Foram citadas questões como: a democratização do poder e a definição de papeis entre a AS-PTA, organização que presta assessoria técnica e política ao Polo da Borborema – uma articulação de 13 sindicatos e associações comunitárias; a conexão entre a formação das crianças com o trabalho com a juventude; o espaço de autonomia dado aos jovens envolvidos nas ações e nas diretorias dos sindicatos; a importância dos Bancos de Sementes Comunitários diante não só das estiagens mas como uma estratégia de proteção contra o avanço da transgenia; o poder de organização que “faz acontecer mesmo quando não existe condições favoráveis”, entre outros pontos.
Depois, Gustavo fez uma pergunta direcionada aos integrantes do Polo da Borborema e da AS-PTA, organização que presta assessoria técnica e política ao Polo da Borborema: “Para vocês, qual a importância do Polo nos acolher como um território que está revisitando seu processo de ação sindical?” Provocado pela pergunta, seu Nequinho fez a fala que abriu este texto, sendo seguido por outras pessoas como Giselda Beserra, da diretoria do Sindicato de Remígio e da coordenação política do Polo: “Ficamos muito felizes por semear essa experiência de articulação regional para outros lugares”. E sustenta: “Sindicato é lutar junto, gritar junto. É tá na base.”
Além de ser composto por 13 sindicatos, o Polo reúne cerca de 150 associações comunitárias e gerência uma Associação Regional, a EcoBorborema, e uma cooperativa regional da Agricultura Familiar, a CoopBorborema.