Nos dias 24 e 25 de maio passado, foi iniciada a produção em maior escala de batatas sementes a partir da técnica dos brotos e minitubérculos
No território do Polo da Borborema, há um trabalho de décadas para resgatar a cultura da batata inglesa, que na primeira metade do século 20 teve muita força na região. Um dos motivos do declínio foi a grande vulnerabilidade das batatas às doenças.
Para que as famílias mantenham seu estoque de sementes sadio, é preciso o apoio do poder público em duas frentes. Tanto na disponibilização de um ambiente refrigerado para guardar as sementes de uma safra para outra, quanto na constante renovação do estoque de sementes.
No entanto, esse apoio público não estava sendo oferecido há anos. Para driblar a falta, a AS-PTA e o Polo da Borborema conseguiram apoio da Fundação Laudes, que tornou possível a própria produção de sementes de batatas. Um feito há muito esperado no território.
Por um lado, as famílias passaram a ter as condições favoráveis ao armazenamento do material genético de uma safra para outra a partir da aquisição de uma câmara frigorífica, que funciona com energia solar.
Por outro, foi confeccionada uma estufa com tela anti-insetos para criar um ambiente protegido e controlado, ideal para geração das sementes sadias. E também foram comprados materiais como bandejas, potes, substratos para o plantio e, é claro, as batatas sementes e os minitubérculos com brotos para iniciar a multiplicação.
Essa infraestrutura deu um novo ânimo na ação de pesquisa em torno do cultivo da batatinha realizada desde 2014. A ação une o conhecimento prático das famílias agricultoras ao conhecimento científico produzido na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), campus Lagoa Seca.
Essa aproximação com a UEPB foi essencial para agregar outro aliado à luta para retomada da cultura da batatinha: o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), ligado à Secretaria da Agricultura do Governo do Estado de São Paulo. O IAC tem desenvolvido uma técnica que torna mais acessível a produção das sementes da batata a partir do plantio dos brotos do tubérculo antes descartado como material sem valor.
De pesquisa em pesquisa – De 2014 até os dias atuais, a UEPB desenvolveu uma série de pesquisas para identificar as principais doenças que acometiam as batatas sementes das famílias agricultoras, outras para testar as caldas alternativas para limpar as batatas adoecidas e ensaios para verificar formas de reprodução das batatas em ambientes protegidos, como estufas com telas anti-insetos que são os propagadores das doenças das batatas, e também em ambientes naturais.
Parte desses estudos, sobretudo aqueles referentes à produção de batata semente, foram partilhados num seminário de formação que aconteceu nos dias 24 e 25 de maio. Nesses dois dias, guardiões e guardiãs das sementes da Paixão, de cinco municípios dos 13 que compõem o Polo da Borborema, e mais universitários, que fazem parte do grupo de pesquisa coordenado pela professora Élida Barbosa Correia, conheceram e aprofundaram a técnica de plantio de batata a partir dos brotos.
Desenvolvida pelo pesquisador do IAC, José Alberto Caram, a técnica se destaca pelo baixo valor de investimento e por proporcionar um intervalo maior na compra de novas sementes.
Após ter sido testada na UEPB em ambiente telado com substrato orgânico, chegou a vez de ampliar a experiência e produzir uma escala maior de sementes para cultivo no período chuvoso do ano que vem pelas famílias agricultoras agroecológicas envolvidas nas dinâmicas da rede de sementes do Polo da Borborema.
Um grande passo – A técnica foi ensinada pessoalmente pelo pesquisador Caram para os/as participantes do seminário. No dia 24, foi a parte teórica e, no seguinte, todos botaram a mão na massa. Ou melhor, nos substratos orgânicos que serão testados para ver em qual deles o broto da batata teve melhor desenvolvimento.
Foram usados os substratos de pó de fibra de coco, húmus de minhoca e resíduo de biodigestor. Também fizeram misturas de substratos para ver qual a resposta que será obtida.
“Vou pedir a Deus que o que dê melhor seja o do biodigestor que vem do esterco do curral. É mais fácil de encontrar. Fazer experimentos é uma coisa. Com um montinho se faz. No roçado, a escala é outra”, comentou seu Joaquim.
Além de ser experimentos, os plantios também têm a função gerar os minitubérculos que servirão de semente. Para tanto, haverá um longo trabalho que envolve algumas etapas que terão o envolvimento constante dos/as agricultores/as familiares. A primeira delas, acontece na estufa telada antiafídica com 105 metros quadrados, construída no terreno ao lado da sede do Polo da Borborema, em Esperança.
Dentro dela, serão postos os brotos plantados nos substratos orgânicos para a geração dos minitubérculos básico ou geração zero, que significa a primeira geração da semente.
Segundo Caram, a entrada do material germinativo no território na forma de broto com cultivo no telado é a “maior segurança sanitária que se pode oferecer”. O pesquisador explica: “O broto representa uma redução no risco de movimento de micro-organismo do solo. Porque, embora ele esteja em contato com o tubérculo, não está carregando toda aquela massa de micro-organismo de solo agregado no tubérculo, solo de outra região.”
Dos brotos, nascerão os minitubérculos que, no ano que vem, já estarão com novos brotos que servirão como novas sementes. Os minitubérculos seguem para o roçado e os brotos, que foram retirados, vão para o telado para a produção de novos minitubérculos. “Assim, você repõe o número de broto recebido no ano passado. E assim sucessivamente. É o ciclo. E isso vai dar essa independência para vocês”, explica Caram.
Entusiasta da técnica e muito empolgado pela oportunidade de compartilhá-la pessoalmente com os guardiões e guardiãs de sementes do território, Caram faz um prognóstico alvissareiro com relação à produção das batatas sementes:
“Os minitubérculos serão distribuídos para produtores que nunca tiveram essa oportunidade de ter material básico e com acessibilidade econômica. Então, não tem a preocupação de estar guardando todo ano a menorzinha, na seleção negativa que ele faz, porque as maiores vão para consumo, pro mercado”, conta ele explicando que selecionar sempre as menorzinhas significa guardar o pior material para semente.
E ainda tem outro ponto que Caram prevê e que pode gerar uma oportunidade de negócio: “A produção no telado vai fornecer as batatas sementes não só para o produtor, mas para vender para fora da região como batata semente orgânica que é a característica de vocês.”