O inverno desse ano foi bom para os agricultores e agricultoras familiares que produzem alimentos. Como é tradição, uma parte da safra – ou do lucro como os camponeses/as dizem – é separada para consumo da família no ano, outra para venda e outra para ser plantada novamente no ano que vem.
Para celebrar a boa colheita de 2022, mas também para defender as políticas públicas que protegem e valorizam as sementes crioulas, chamadas na Paraíba de sementes da Paixão, as famílias guardiãs desses materiais genéticos se reunirão por dois dias na semana que vem em Lagoa Seca.
A 1ª Festa da Colheita das Famílias Guardiãs das Sementes da Paixão da Borborema acontecerá nos dias 23 e 24 de agosto, na terça e quarta-feira da semana que vem. O primeiro dia vai ter a participação restrita das famílias guardiãs que integram a comissão de sementes do Polo da Borborema composta, principalmente, pelos sócios e sócias dos mais de 60 bancos de sementes comunitários espalhados pelos 13 municípios onde atua o Polo da Borborema.
A programação vai ser recheada de debates para promover reflexões sobre as políticas públicas locais e programas que promovem o acesso das famílias agricultoras às sementes da Paixão, adaptadas por gerações às características ecológicas do território.
As iniciativas, que serão analisadas sob o olhar e perspectiva dos principais interessados, são tanto promovidas pelo governo, como pela sociedade civil organizada. São elas: o Programa Municipal de Sementes do município de Lagoa Seca, o Programa Conselho no Roçado do Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) do município de Montadas e a mobilização de recursos do Sindicato de Alagoa Nova para a compra de sementes de milho da Paixão para evitar o abastecimento das famílias com sementes transgênicas ou contaminadas pela transgenia.
Ainda haverá a apresentação de uma estratégia comunitária adotada pela gestão de dois bancos de sementes – um na comunidade de Soares e outro em Guritiba, ambos em Queimadas, para superar a perda das sementes de milho pela seca dos últimos anos, quanto pela contaminação pela transgenia.
Na tarde do dia 23, haverá a socialização dos dados de 2021 do monitoramento dos estoques das sementes em todos os bancos comunitários. O monitoramento está sendo realizado a partir de uma técnica desenvolvida pela Universidade Federal da Paraíba, Campus de João Pessoa, departamento de Engenharia da Produção.
Por fim, haverá também um momento para definir as estratégias da campanha Não Planto Transgênicos para Não Apagar Minha História para mantê-la bem viva e com a mensagem afiada alcançando as famílias que ainda não estão na rede de guardiões e guardiãs do Polo da Borborema.
O segundo dia, 24, pela manhã, está destinado para o público em geral. Na praça da Matriz de Lagoa Seca vai ser montada uma feira com 13 barracas para venda, troca ou doação de sementes da Paixão, além dos produtos da agricultura familiar.
“Nesse momento, haverá também para quem estiver visitando a feira breves relatos das iniciativas debatidas no dia anterior e depoimentos dos gestores e gestoras sobre as estratégias de gestão dos bancos comunitários de sementes”, explica Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA que acompanha o tema das sementes crioulas.
Com celebração, debates, trocas de conhecimentos e de sementes, o Polo e a ASPTA pretendem chamar atenção do poder público e dos candidatos para as pautas importantes para a conservação, multiplicação e acesso das sementes crioulas por quem cultiva o solo. Afinal de contas, a alimentação saudável, livre de veneno, começa com o plantio de sementes que não dependem de produtos químicos e tóxicos para se desenvolver.
“No evento, vamos entregar uma carta destacando os princípios importantes para a construção de políticas públicas de acesso às sementes crioulas para os representantes das prefeituras e conselhos de desenvolvimento rural (CDR) que estiverem presentes”, acrescenta Euzébio Cavalcanti da Comissão de Sementes do Polo, da diretoria do Sindicato de Remígio e presidente do Conselho do município.
A 1ª Festa da Colheita das Famílias Guardiãs das Sementes da Paixão da Borborema tem o apoio da prefeitura de Lagoa Seca e das organizações de cooperação internacional que são parceiras da AS-PTA e do Polo: CCFD, ActionAid, Fundação Laudes e Misereor.
O Polo da Borborema é um coletivo formado por 13 sindicatos rurais e cerca de 150 associações comunitárias. Da ação do Polo que existe há 25 anos, nasceram a EcoBorborema, uma associação regional, e a CoopBorborema, uma cooperativa de alcance estadual, além de uma marca – a Do Roçado – de alimentos da agricultura familiar agroecológica que tem como carro-chefe o flocão produzido com o milho da Paixão.
A AS-PTA é uma organização da sociedade civil que assessora o Polo da Borborema na construção e consolidação do projeto político que defende o território como espaço da agricultura familiar agroecológica