É tempo de mobilização das redes organizadas entorno dos diversos temas ou identidades ligadas à agricultura familiar agroecológica. No dia 20 de agosto, foi a vez de jovens dos sete territórios, onde a ASA Paraíba atua, se encontrarem. Foi o dia de conversas sobre políticas públicas voltadas para as juventudes do campo e de elencar as propostas importantes que favorecem a permanência desse segmento no espaço rural com qualidade de vida.
No Centro de Formação Elizabeth e João Pedro Teixeira do Movimento dos Sem Terra (MST), em Lagoa Seca, no Agreste paraibano, o primeiro momento foi uma mística sob um céu azul com sol que afastava o frio trazido pelos ventos de agosto. Em círculo, vários jovens seguravam papéis com os temas que representam desafios para as comunidades rurais: o atual governo, racismo, parques eólicos e solares, fechamento das escolas, agrotóxicos, entre outros.
Um a um, em silêncio, começaram a rasgar os papéis. O primeiro foi o que tinha o nome do presidente. Na sequência da mística, uma música começou a soar: o mantra Vou banindo, com sons de tambor e uma letra que diz: “Espiral, espiral, espiral. Sugue o que há de ruim e leve todo mal. Vou banindo pela terra aiá. Vou banindo pelo fogo e ar. Vou banindo, vou banindo pra purificar. Vou banindo pra exterminar…”
Depois desse momento de limpeza, em círculo, foram proferidas palavras que representam os bons desejos para os próximos tempos. Por fim, o círculo começou a rodar para esquerda e o canto foi o do Formigueiro: “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga, não assanha o formigueiro”.
Após esse momento, foram dadas as boas vindas. “É muito bom essa reconexão com os múltiplos territórios da Paraíba. É a primeira vez que nos reunimos desde a pandemia. Mas, à distância, o GT de Juventudes da ASA não parou. Esse momento agora é importante para saber como vocês estão lendo esse momento que vivemos. Além de ser ouvida, a juventude precisa fazer diferença nos seus locais de vida”, anuncia Edson Posidônio, assessor técnico da AS-PTA e colaborador do GT de Juventudes da ASA-PB.
De forma descontraída, a conversa começou a se politizar. “Política é coisa de jovem?”, indaga Patrícia Sampaio, assessora técnica do Centrac, que também acompanha a dinâmica do GT Juventudes. “Quais candidaturas podem defender nossas causas?”, acrescenta.
Então, uma linha do tempo de 2003 até 2021 foi sendo montada com destaque para os fatos e marcos importantes para a defesa dos direitos das juventudes. O ano inicial não foi escolhido à toa. Em 2003, o primeiro ano da primeira gestão do campo democrático popular, foi quando ganhou mais pressão uma efervescência em prol da criação da Política Nacional da Juventude, que se desdobrou na criação da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional da Juventude e a consequente criação de programas e políticas direcionadas para esse público.
E assim, ano a ano, foi se delineando a história de conquistas das juventudes, inclusive, a juventude rural que em 2006 passou a ter uma política exclusiva e, no ano seguinte, foi criado o Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural, extinto pelo atual governo federal de 2020. Foram destacados os anos de 2008, 2011 e 2015 anos de Conferência Nacional de Juventude. Também se destacou o ano de 2016, quando houve a 1ª Marcha da Juventude do Polo da Borborema, na região agreste da Paraíba.
Ao passo que a linha do tempo comentada foi ganhando cada vez mais informações, se criava também uma contextualização do momento atual. Há uma luta de duas décadas ou mais até os dias atuais. Hoje, a situação é de negação de direitos e de desconstrução das políticas, planos e programas que se tornaram concretos a partir de muita articulação.
Em seguida, a conversa jogou luz nas candidaturas ao legislativo estadual e federal que já cumprem mandato e que concorrem novamente nessas eleições e que votaram contra os interesses do povo, como o impeachment de Dilma Rousseff, o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que congelou os gastos sociais por 20 anos, a Reforma Trabalhista, a Reforma da Previdência, a privatização da Eletrobrás e o Projeto de Lei chamado “Pacote do Veneno”. Todos eles estão identificados panfleto intitulado “As 6 grande traições da bancada ada Paraíba no Congresso Nacional” que foi distribuído com todas/os participantes.
E, para apresentar alternativas, foram levantados os nomes das candidaturas do campo progressista e que se alinham aos interesses dos povos do campo.
Houve a leitura da carta da ASA Brasil “Por um Semiárido Vivo”, seguida da construção de propostas consideradas importantes para criar condições favoráveis à permanência das/os jovens no campo, com oportunidades para terem sua própria renda e melhores condições de vida. Em duplas, as/os participantes levantaram as propostas.
Na Borborema, a juventude está se organizando entorno do enfrentamento da geração de energia renovável de forma centralizada. Os jovens estão mobilizados entorno da realização de encontros municipais e um encontrão da juventude em preparação à Feira Agroecológica e Cultural que irá denunciar os impactos desses empreendimentos à sucessão rural e à vida no campo.
Esses pleitos serão absorvidos no documento que a ASA-PB a ser entregue às candidaturas ao governo do Estado no encontro que será promovido pela rede no dia 09 de setembro. Na sequência, o grupo, em círculo se despediu com palavras-força que foram ditas para avaliar o evento e animar a caminhada das juventudes nos territórios.
O encontro estadual da juventude se insere nas ações de incidência política realizadas pela ASA-PB nesse período pré-eleições e tem o apoio da Rede ATER Nordeste de Agroecologia, um coletivo que agrega instituições de fortalecimento da agricultura familiar agroecológica que atuam em seis estados da região Nordeste. Da Paraíba, integram a Rede ATER NE, o Patac e a AS-PTA.