Ao mesmo tempo em que a Feira Agroecológica e Cultural da Juventude mostra a diversidade de alimentos saudáveis produzidos no território, os/as jovens denunciarão os danos provocados por essas indústrias para quem é do campo e também da cidade
Depois de exatos sete meses que suas mães, avós, tias… foram às ruas afirmar em alto e bom som que a ‘Borborema Agroecológica não é lugar de parques eólicos e de usinas solares’, quem volta ao espaço público são os jovens das famílias agricultoras. No próximo dia 2, eles e elas vão realizar, na praça da Bandeira, no centro de Campina Grande, cidade polo do território da Borborema, a IX Feira Agroecológica e Cultural da Juventude Camponesa.
Além dos/as feirantes, cerca de 500 jovens do campo sairão dos sítios, comunidades e assentamentos de nove municípios – Solânea, Arara, Remígio, Esperança, Areial, Montadas, Lagoa Seca, Alagoa Nova e Queimadas – para ocupar a praça e chamar a atenção da sociedade para os perigos trazidos pelas indústrias geradoras de energia a partir dos ventos e do sol.
“A feira terá dois objetivos principais. Um é a comercialização dos produtos agroecológicos produzidos pelos jovens. Será um espaço para dar visibilidade ao trabalho dos jovens agricultores em suas propriedades. E o outro é dialogar com a sociedade quais os nossos anseios, as nossas bandeiras de luta. Estamos aí com uma problemática muito forte que é a chegada de grandes parques eólicos e usinas solares. Entendemos, enquanto juventude, que esse modelo de energia renovável não é benéfico para agricultura familiar”, sustenta Adailma Ezequiel, da Coordenação da Juventude.
E complementa: “No nosso território, as famílias agricultoras têm pequenos pedaços de terra que se forem ocupados por usinas solares, aerogeradores, impedem que o/a jovem produza os alimentos e criem seus animais. Isso prejudica a vida no campo e também a quem mora nas cidades, porque diminuindo a produção no campo, a cidade também vai sentir.”
O alimento agroecológico, livre de agrotóxicos e de transgenia, produzido no território de atuação do Polo da Borborema chegam para a população urbana via feiras livres, feiras agroecológicas e Quitandas da Borborema, instaladas em cinco municípios da região – Esperança, Remígio, Lagoa Seca, Queimadas e Solânea.
IX Feira Agroecológica e Cultural – Toda primeira sexta-feira do mês, a praça da Bandeira já é palco de uma feira agroecológica organizada pelo projeto Territórios Livres da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e a edição de dezembro vai ser bem festiva e grandiosa com a presença das juventudes rurais. A quantidade de barracas vai ter um reforço de mais 17 com oferta de alimentos in natura e beneficiados produzidos pelos jovens.
Na animação da feira, além do forrozinho pé de serra assegurado pelo trio Acauã, vai ter batuques de maracatu, roda de capoeira e ciranda. Para tornar ainda mais concreto o discurso da juventude, na praça haverá também uma maquete de uma propriedade rural rodeada dos imensos aerogeradores, simulando o ambiente rural a partir da chegada dos parques eólicos.
Também será montada uma exposição fotográfica para aproximar quem for à praça da realidade das comunidades rurais onde se instalam as indústrias energéticas. Nas fotos, imagens de casas rachadas e fechadas, com cisterna também rachada. Esse conjunto mais parece uma propriedade abandonada, mas não é.
Trata-se apenas de um espaço ao redor da casa que a família deixou de usar com medo de vazamento de corrente elétrica e choques, além de acidentes provocados por quebras das torres sem manutenção, como já aconteceu em comunidades rurais da cidade de Caetés, no agreste pernambucano.
A instalação e exposição vão reforçar o discurso dos jovens que, entre um forró pé de serra e os acordes do maracatu, vão denunciar uma realidade desconhecida por quem mora nos centros urbanos. Inclusive, vai ser dito também que a produção de energia de forma centralizada implica na redução da produção de alimentos, o que afeta diretamente a vida de quem vive no campo e nos centros urbanos, uma vez que 70% da comida que alimenta os brasileiros/as vêm da agricultura familiar.
Os jovens rurais também vão dizer que não são contra as energias renováveis. Mas, contra o modelo de produção dessa energia, que instala verdadeiras indústrias nos quintais e roçados de suas pequenas propriedades.
“Somos a favor da energia renovável, mas de uma energia que seja produzida de forma descentralizada que vai fazer com que nós nos afastemos de nossas raízes, de nossas culturas enquanto famílias agricultoras agroecológicas”, frisa Adailma.
No ato dessa sexta, a juventude camponesa também vai dizer que não é eles quem deve pagar a conta do aquecimento global e que querem uma política pública que leve para seus telhados placas solares para produção de energia para a família. Assim como vem sendo feito em países europeus, como a Alemanha.
O território da Borborema é uma das mais importantes zonas agroecológicas do Brasil pela quantidade de famílias envolvidas na produção de alimentos saudáveis, pela diversidade de iniciativas realizadas pelos jovens, mulheres, homens, crianças e pela capacidade de produção de alimentos livres de agrotóxicos e transgenia.
Só para ter uma ideia da capacidade de produção de alimentos dessa região, nas cinco entregas de cestas agroecológicas organizadas pelo Polo da Borborema, de 2020 até julho desse ano, foram doados 119 toneladas de alimentos agroecológicos que saíram dos quintais, roçados e cozinhas das famílias agricultoras. Esses alimentos mataram a fome de cerca de quatro mil famílias e 20 mil pessoas por alguns dias.
As iniciativas ou projetos, que envolvem aproximadamente 5 mil famílias agricultoras de 13 municípios, são realizados pelos sindicatos rurais que integram o Polo da Borborema, um coletivo formado por 13 sindicatos e cerca de 150 associações comunitárias. A organização das famílias agricultoras agroecológicas promovida pelo Polo deu origem a uma Associação Regional, a EcoBorborema, e a uma cooperativa estadual, a CoopBorborema. O Polo tem a assessoria da ONG AS-PTA.