Quem mora no semiárido já sabe que cada gota de água precisa ser armazenada, zelada e reutilizada para garantir qualidade de vida a todos que ali vivem. Em algumas regiões da Borborema, esse recurso é conhecido como “uso da água servida”, cuja ciência geralmente fica a cargo das mulheres. Com base em um conjunto de conhecimentos passados de mãe para filha, as mulheres conseguem multiplicar os usos da água: a da lavagem do feijão vai para o pezinho de planta medicinal; aquela usada na pia segue para os pés de frutas do quintal; a do tanquinho é aproveitada na lavagem do banheiro e no vaso sanitário. Assim, classificadas por seu uso anterior e por sua qualidade, as águas são reutilizadas e vão girando a engrenagem da vida, enquanto as águas mais limpas e zeladas são utilizadas para beber e cozinhar.
As práticas de reúso da água são bem antigas e têm sido exercitadas em todo o mundo. No entanto, no semiárido brasileiro, dois fenômenos têm nos levado a pensar e planejar de forma mais estruturada o reúso das águas. De um lado, temos a construção de mais de um milhão de cisternas para armazenamento de água para beber por meio dos programas executados em parceria com a ASA Brasil e outras instituições, disponibilizando água potável na porta de casa e melhorando a qualidade de vida de inúmeras famílias. De outro lado, temos comunidades rurais dessa mesma região que vivem, em seu dia a dia, os efeitos das mudanças do clima e o agravamento da escassez desse recurso. Assim, há uma necessidade cada vez maior do uso racional e eficiente da água, tal como as mulheres do semiárido já fazem há muitos anos para controlarem as perdas e desperdícios.
O tratamento das águas servidas vem ganhando centralidade no planejamento e na gestão das águas, e seu uso vem sendo aprimorado também na agricultura. Toda água utilizada no funcionamento da casa, uma vez tratada, pode ser reutilizada no plantio de grãos e frutas, na manutenção de plantas forrageiras ou nos viveiros de mudas. A reutilização da água gera muitos benefícios: movimenta a economia, pois quando aumentamos a eficiência de seu uso, aumentamos a produtividade na produção de alimentos; melhora o ambiente, já que além de otimizar seu uso, as águas chegam com maior quantidade de matéria orgânica, melhorando a qualidade do solo (mais água disponível aumenta também a biodiversidade); melhora a saúde da família e dos animais, já que água não corre mais em valas, sem tratamento.
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Cartilha – Reúso da Água Servida