“Cheguei toda animada aqui. Passei a semana esperando por essa feira. Tenho quatro filhos, uma mãe e um marido em casa e a feira precisa ser grande. A família come muito. Essa semana fui no supermercado, mas deixei para fazer as compras das hortaliças e verduras aqui. Vou ficar fazendo isso daqui por diante. É a primeira feira agroecológica que participo”.
O depoimento empolgado é de Aluska Amaral, 40 anos, administradora e da equipe técnica do IFPB, campus Campina Grande. Ontem (20), os portões do IFPB foram abertos para a EcoBorborema montar uma feira agroecológica. A iniciativa ficará acontecendo todas as quartas-feiras e faz parte do projeto de extensão Quartas Semeando, coordenado pela professora de Geografia Márcia Gomes.
O clima era de alegria geral. E a feira estava bem bonita. As barracas cheias de produtos verdes, fresquinhos, saudáveis e saborosos. Tinha de tudo que uma feira agroecológica que se preza: alimentos in natura – frutas, verduras, hortaliças – e beneficiados – bolos, doces, tapioca, beiju, suco, café, polpa, macaxeira cozida com galinha de capoeira guisada… e até chips de batata inglesa e de batata doce, uma novidade nas feiras da EcoBorborema.
Outra pessoa que circulou na feira e comprou alguns produtos foi a professora de Química e coordenadora do Laboratório de Química e Processamento de Alimentos, Kátia Davi. “Como sou da área de alimentos, prezo muito pelos orgânicos. Faltava a gente ter esse espaço aqui. Ter matéria prima de qualidade é essencial pra nossa estrutura do ponto de vista nutricional. No laboratório, só controlo o tempo e a temperatura para fazer os alimentos aumentarem a vida útil. Não uso nenhum aditivo químico.”
Como a feira era festiva, teve um forrozinho pé de serra tocado pelos próprios alunos do Instituto e fala de várias pessoas representando as instituições envolvidas na realização dessa feira. Uma delas foi Gizelda Beserra, do Polo da Borborema, da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia e da CoopBorborema.
“As feiras agroecológicas são um fruto do projeto de construção da agroecologia que o Polo da Borborema tem há 27 anos, com assessoria da AS-PTA. Sempre acreditamos no trabalho em parceria e em rede. Hoje, o Polo da Borborema criou duas organizações para ampliar o acesso aos mercados dos agricultores: a EcoBorborema, que assessora as famílias agricultoras e certifica a produção orgânica. E tem também a CoopBorborema que tem a missão de ampliar o mercado dentro e fora do Estado”, apresentou as organizações por trás da produção de alimentos saudáveis e de verdade no território.
O Polo da Borborema é um coletivo formado por 13 Sindicatos de Trabalhadores/as Rurais do território da Borborema, mais cerca de 150 associações comunitárias, e a EcoBorborema e a CoopBorborema.
Na fala acompanhada pela comunidade escolar – técnicos/as, professores/as e estudantes – além dos/as feirantes, Gizelda faz uma descrição da agroecologia para quem, talvez, não saiba bem o que se trata: “Agroecologia é produzir sem violência à natureza, mulheres, jovens e crianças. É permitir que as mulheres saiam do isolamento social a que muitas estão na área rural. Nas feiras e nos espaços de representatividade, as mulheres são cerca de 90%”.
E terminou sua fala acrescentando que as iniciativas como essa feira que aporta no IF podem não existir nos próximos 10 anos por conta da chegada de uma grande ameaça ao território que são as indústrias de energia renovável. “Não somos contra esse tipo de energia, mas ao modelo que está sendo instalado que nos impede de seguir como nossas atividades enquanto agricultores e agricultoras familiares, que tem expulsado do campo as famílias, nos adoecido com doenças crônicas e graves, como a depressão, e tem afetado os animais e as plantas também”.
Feirantes – A jovem Thalia Jorge de França (26) é uma das seis feirantes que assume seu posto nesse novo espaço da EcoBorborema em Campina Grande. É a primeira barraca que Thalia pode chamar de sua, apesar de já trabalhar nas feiras agroecológicas do território há nove anos. E ela caprichou na diversidade e quantidade dos alimentos levados: banana prata, alface, coentro, coco verde, cebolinha, polpa de frutas, banana-maçã, brócolis, couve-flor, entre outros.
Além de Thalia, que vem de Alagoa Nova, a feira do IF tem famílias agricultoras de mais quatro municípios: Lagoa Seca, Esperança, Remígio e Massaranduba. A diversidade de municípios indica também uma diversidade de ambientes climáticos como o brejo, agreste e áreas mais secas.
“Esse mosaico de regiões implica numa oferta de alimentos que são produzidos em maior escala em cada ambiente deste. No brejo, que é uma área mais úmida, e no agreste, se produz mais frutas, hortaliças e raízes. E nas áreas mais secas, temos uma predominância de culturas do roçado, como milho, feijão e fava, e também de produtos de origem animal”, comenta Wagner Santos, assessor técnico da AS-PTA.
Um pouco mais sobre a EcoBorborema – “Para além de ser uma associação, a EcoBorborema é uma Organização de Controle Social (OSC) credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que garante, por meio de processos de certificação participativa das famílias agricultoras, que os alimentos vendidos nas feiras são, de fato, orgânicos”, acrescenta Wagner Santos, técnico da AS-PTA, organização parceria do Polo da Borborema, que é a instituição guarda-chuva da EcoBorborema.
Mas não são só as feiras de Campina que a EcoBorborema realiza. A lista abarca mais oito feiras semanais em oito municípios: Lagoa Seca, Massaranduba, Alagoa Nova, Areial, Esperança, Remígio, Arara e Solânea (Confira abaixo os locais, dias e horários dessas feiras).
QUARTAS
- Campina Grande, Estação Velha, a partir das 4h
- IFPB, a partir das 6h
QUINTAS
- Campina Grande, UEPB – Central de Aulas, a partir das 6h
SEXTAS
- Campina Grande, Catolé, Du Bu 4, a partir das 6h
- Massaranduba, em frente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a partir das 6h
- Esperança, ao lado do Sindicato dos/as Trabalhadores/as Rurais, a partir das 6h
- Areial, na praça central, a partir das 6h
- Remígio, na rua da Prefeitura, a partir das 6h
- Arara, ao lado da Igreja Matriz, a partir das 6h
- Solânea, no Sindicato dos dos/as Trabalhadores/as Rurais, a partir das 6h
SÁBADOS
- Lagoa Seca, ao lado do Mercado Municipal, a partir das 6h
- Alagoa Nova, ao lado da Câmara Municipal, a partir das 6h
OBS: Para saber mais sobre as feiras e as Quitandas Agroecológicas, espaço fixo de comercialização da produção das famílias agricultoras, acessa o insta @QuitandasdaBorborema