Parceiro histórico da AS-PTA na Paraíba, o coletivo de 13 sindicatos rurais mobiliza cerca de 9 mil famílias nas ações de construção da agricultura familiar de base agroecológica e de convivência com o Semiárido
Nos dias 9 e 10 de abril, o Polo da Borborema reuniu coordenação, sindicalistas, lideranças comunitárias para refletir sobre a organização e mobilização das famílias agricultoras no território da Borborema Agroecológica. Outro objetivo do encontro, que aconteceu em Lagoa Seca, foi planejar as principais atividades de 2024.
O primeiro dia foi dedicado a olhar para a dinâmica de seis comissões temáticas – Cultivos Agroflorestais, Criação Animal, Saúde e Alimentação, Recursos Hídricos, Sementes e Mercado. Estas comissões tratam-se da forma descentralizada em que o Polo mobiliza pessoas em torno do tema de interesse para a construção da agroecologia no território.
Como disse Luciano Silveira, da AS-PTA, as comissões são redes de agricultores/as experimentadores/as que atuam coletivamente pondo suas capacidades de criação, luta e perseverança a serviço do projeto político construído pelo Polo e pela AS-PTA há quase três décadas no território.
“Essas experiências são nossas sementes para gente seguir crescendo e ampliando nossa ação no território. É fácil? Não. Mas trabalhando de forma coletiva, avançamos”, destaca.
Para conhecer os resultados de cada comissão, os/as participantes do encontro percorreram seis instalações pedagógicas. Em cada temática, um mundo de atividades para as diversas linhas de ação. Na apresentação, lideranças do Polo e integrantes das comissões demonstraram conhecimento de quem vive o que fala.
Além dos resultados quantitativos de 2023, muitas falas testemunhavam aqueles resultados que não se mede em números, mas se percebe numa leitura de contexto e de passagem do tempo. “Estamos perdendo muito feijão e fava, por conta da seca, mas o que está salvando hoje as famílias é o algodão. É trabalhoso [o cultivo], mas é um complemento da renda. Esse ano, está tendo mais famílias pedindo para plantar de forma consorciada com outras culturas – milho, sorgo… – depende da área de cada agricultor/a”, conta Leide Marques, do Sindicato de Solânea.
“A partir da ação desta comissão de Sementes, tem milho pontinha espalhado no território. Antes disso, só havia em Remígio e Esperança. A parte mais difícil de nossa ação é o diálogo com o governo do Estado para que um pedaço do recurso público seja usado para comprar as sementes crioulas”, sustenta Euzébio Cavalcanti, do Sindicato de Remígio.
Depois das apresentações, as impressões foram compartilhadas na plenária. “Num momento rico como esse, em pouco tempo, a gente faz uma conferência. Há uma grande diversidade de conhecimentos, experiências, gestão que começa no pequeno roçado e, hoje, temos o resultado de um movimento que cresce por todo o território”, comenta Nelson Ferreira, sindicalista de Lagoa Seca que assume temporariamente a Secretaria de Agricultura Familiar do município.
“Eu destaco o caminhar juntos. Se não é assim, nada vai para a frente. Esse encontro nos fortalece e nos leva a alcançar nossos objetivos”, pontua Maria José, conhecida como Preta do sindicato de Montadas.
“Se tivéssemos isolados, jamais conseguiríamos chegar nestes resultados. Temos um projeto político consolidado por várias mãos e várias instituições”, afirma Roselita Victor, da coordenação do Polo da Borborema e da Articulação Semiárido Paraíba e Brasil.
No segundo dia do encontro, as políticas públicas viram foco de observação. E Luciano faz uma fala que conecta a reflexão do dia anterior com este novo momento: “Construímos nossa luta política enraizados na nossa experiência. Quanto mais a gente fortalece as nossas experiências, mas nos fortalecemos para lutar por políticas públicas adequadas, que nos possibilitem realizar o nosso projeto político. No governo Lula, o Estado volta ao seu papel de atuar para que a nossa sociedade seja menos desigual. Somos um dos países mais ricos do planeta e também o mais desigual”, pontua.
E acrescenta que isso tudo acontece a partir da retomada de programas e políticas públicas. E, abrindo nova rodada de falas da plenária, questiona: “Olhando para 2023 e para esse início de 2024, qual a política que tem produzido efeito mais positivo para a agricultura familiar nos nossos municípios?”
Sem muita demora, uma lista de cerca de 17 políticas e programas, incluindo a volta de ministérios como o de Desenvolvimento Agrário e o Desenvolvimento Social, é trazida à tona por diversas pessoas. Após este levantamento, três delas são postas sob o foco dos/as presentes para se refletir com mais profundidade: as políticas de crédito para a agricultura familiar, como o Pronaf, e programas de compras institucionais da produção, como o PNAE e PAA.
O debate foi tão participativo que o Polo entendeu que vale reservar momentos específicos para seguir refletindo sobre cada política desta. E aí, se tirou como encaminhamento a realização de seminários específicos para esses dois temas, inclusive com indicação do mês.
Ficou definido que, em julho, haverá um seminário sobre mercados – institucionais e sociais, entendendo como este último as feiras e quitandas organizadas pelas duas instituições criadas pelo Polo para abrir caminhos para escoar a rica produção de alimentos das famílias do território.
E, para setembro, ficou sinalizada a realização do seminário sobre créditos também na mesma pegada. Uma vez que no território há uma vigorosa iniciativa de Fundos Rotativos Solidários que mobilizam mulheres, jovens e homens numa dinâmica que de créditos comunitário que faz se multiplicar recursos captados através de parcerias do Polo e AS-PTA com instituições diversas, com destaque para as agências de cooperação internacional.