No início de setembro, dando boas-vindas à primavera que já dava sinais de sua chegada, aconteceu um potente encontro. No dia 2, terça-feira, os estudantes da Escola Estadual do Campo Bom Jesus do Monte, na comunidade de Vieiras, em Palmeira/PR, viveram uma manhã muito especial de aprendizado, encantamento e redescoberta das raízes do campo. A atividade foi uma iniciativa de uma professora da escola, que acredita que a educação do campo precisa acontecer dentro da própria realidade das crianças e adolescentes, valorizando o saber da terra e o diálogo com a comunidade.
O encontro começou na própria escola, dentro da sala de aula. A agricultora Olinda Vingand compartilhou com as turmas a sua história de vida. Nascida e criada na comunidade, aprendeu desde muito cedo os trabalhos manuais, acompanhando a família na roça também. Nos últimos anos, resgatou da arte de tecer com a palha da palmeira Butiá, árvore nativa da América do Sul, e do milho, dando vida a chapéus, cestarias e principalmente cuidado com a memória.
Depois de escutar e aprender com dona Olinda, ocorreu o segundo momento da atividade – uma visita na propriedade da agricultora Maria Lúcia Martins Viante, onde puderam conhecer uma diversidade de alimentos, flores, ervas medicinais e frutos cultivados com cuidado e amor.
As duas agricultoras participam do Grupo Quintais Produtivos, que reúne mulheres de diversas comunidades rurais de Palmeira. O grupo germinou em 2021 com o objetivo de visibilizar o trabalho das agricultoras e a importância de seus quintais para a segurança alimentar e nutricional das famílias.
A ação com a Escola do Campo teve um significado ainda mais profundo: todos os estudantes moram no interior, mas muitos deles cresceram afastados da essência da agricultura familiar. A maioria das famílias agricultoras da região Centro-Sul do Paraná, incluindo o município de Palmeira, tem sua produção agrícola baseada em monocultivos, como o fumo, atreladas à lógica imposta pelo agronegócio, ou seja, da produção em larga escala. Muitos desses jovens não têm mais contato com a horta, com o cultivo de alimentos para o consumo familiar, com a diversidade de um quintal produtivo.
Por isso, essa experiência foi fundamental: reacendeu nos estudantes o olhar para a terra como fonte de vida e alimento, e não apenas como espaço de produção e lucro. Mostrou que a agricultura também pode ser colorida, diversa e cheia de saberes que passam de geração em geração e que é possível produzir sem veneno, com as sementes crioulas e interagindo com a comunidade.
O Grupo dos Quintais Produtivos é um exemplo vivo dessa força: mulheres que cultivam não apenas alimentos, mas também saberes, autonomia e esperança. Mais do que uma aula, foi um reencontro com a própria história e com o verdadeiro sentido de viver no campo, onde o conhecimento cresce junto com a terra e cada semente plantada é também um aprendizado de vida. No final do encontro, eles puderam levar para casa um pouco da agrobiodiversidade da dona Olinda, da Maria e uns dos outros, além de saborear um delicioso café com o sabor da agroecologia: saboroso, diverso e saudável.