Foto: AS-PTA
Nos dias 22 e 23 de outubro, agricultores e agricultoras familiares do Centro-Sul do Paraná participaram de ações voltadas à experimentação agroecológica nas unidades de produção familiar, promovidas com assessoria da AS-PTA e apoio do Programa “Da Terra à Mesa”, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Combate à Fome (MDA). Durante os dois dias, foram colocadas em práticas diferentes técnicas de manejo, articulando importantes processos de experimentação junto às famílias agricultoras, articuladas ao Coletivo Triunfo – rede territorial de promoção da agroecologia e defesa da agrobiodiversidade. Dentre as práticas utilizadas estão o plantio direto de milho crioulo da variedade Macaco, na comunidade de Lajeadinho, em São Mateus do Sul; e de diferentes variedades de feijão, na Invernada, em Rio Azul.
O preparo do solo para o plantio direto do milho Macaco, realizado na propriedade de Marinês e Antônio Portes, em São Mateus do Sul, começou bem antes, no início de junho, com a semeadura de um mix de plantas de cobertura de inverno, como aveia preta, centeio e ervilhaca. A técnica de plantio direto consiste, de maneira muito objetiva, em criar uma camada abundante de matéria orgânica antes do plantio, seja dos grãos ou das hortaliças, protegendo e melhorando a qualidade do solo, além de aumentar a capacidade de armazenamento de água e fixação de nutrientes.
Após 90 dias do plantio do mix de adubação verde, já com os grãos de aveia preta e de centeio em metade do estágio de maturação – o grão leitoso, a cobertura foi acamada utilizando uma madeira de arrasto. Passados 15 dias desse processo de acamamento, ou seja, de deitar as plantas que estavam crescendo, foi realizado o plantio do milho crioulo variedade Macaco. Importante reforçar que tanto o milho Macaco, quanto às demais variedades, são todas livres de transgênico, promovendo maior autonomia das famílias, que poderão produzir a sua própria semente, além de colaborar com a segurança alimentar e nutricional das famílias, que terão a possibilidade de colher milho verde para consumo e os grãos para alimentação dos animais.
Para Fábio Pereira, assessor técnico da AS-PTA, é fundamental dinamizar os processos de experimentação da agricultura familiar camponesa. Ele explica o planejamento da área que recebeu o milho Macaco, “deixamos uma faixa na mesma área para acamar na hora do plantio, o que chamamos de ‘plantio no verde’, e nesta área a eficiência dos implementos para plantio direto foi bem maior”.
Foto: AS-PTA
A fixação biológica de nitrogênio foi outra técnica de manejo exercitada durante as atividades. O processo é realizado com a inoculação, na hora do plantio, do microrganismo Azospirilliun, que auxilia as plantas a aproveitar o nitrogênio contido no solo. O microorganismo é uma das Bactérias Promotoras de Crescimento de Plantas (BPCP), vida livre que habitam a rizosfera das plantas.
O conjunto de iniciativas de promoção a experimentação agroecológica buscam aumentar as capacidades produtivas das famílias agricultoras, garantindo segurança alimentar e nutricional e gerando renda digna.
O uso de insumos alternativos, como o pó de rocha e o fosfato natural reativo estão entre as estratégias, pois tem um menor custo e apresentam alta eficiência, com liberação lenta. Vem sendo uma das estratégias para a construção da fertilidade dos agroecossistemas, fontes de nutrientes como o fósforo (P), o cálcio (Ca), o magnésio (Mg), o potássio (K), o silício (Si) e micronutrientes.
O desenvolvimento de máquinas adaptadas às diferentes realidades da agricultura familiar é outro ponto de atenção. A família Knapik, de Porto União (SC), começou sua empresa há muitos anos, buscando criar equipamentos para agricultura familiar. Neste caso, para ampliar o processo de plantio direto nos sistemas de produção agroecológicos. “Queremos desenvolver equipamentos que todos consigam utilizar, gostamos de testar em diversas situações”, afirma Paulo Knapik, sócio fundador da empresa.
Foto: AS-PTA
Depois do milho crioulo Macaco em São Mateus do Sul, os feijões na comunidade guardiã da Invernada, em Rio Azul. Na propriedade da família de Viviane Pinto e Jailson Boscardin foi implantado um campo de experimentação com variedades de feijão crioulo — Mantega, Fundo de Balde e Antigo dos Glus. A família também passou a integrar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA-Sementes), fortalecendo a rede de conservação e troca de sementes crioulas e da agrobiodiversidade.
Através do incentivo à experimentação agroecológica apoiado pelo programa “Da Terra à Mesa”, do MDA, as famílias receberam um medidor de umidade de sementes. O equipamento contribuirá para melhorar a qualidade das sementes produzidas e beneficiará outras famílias das comunidades, promovendo o desenvolvimento coletivo e sustentável. Assim, a agricultura familiar do Paraná reafirma seu compromisso com a inovação, a partilha de conhecimento e a preservação da biodiversidade agrícola, mantendo viva a tradição de produzir “da terra à mesa” com trabalho, cooperação e esperança.
O projeto “Promoção, fortalecimento e ampliação de sistemas de produção agroecológicos e em transição, por meio de processos de estruturação produtiva, acompanhamento técnico e formação para agricultoras e agricultores familiares do Sul do Brasil” é apoiado pelo edital Da Terra à Mesa: Por um Brasil com mais alimentos agroecológicos, promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), através da Secretaria de Agricultura Familiar e Agroecologia (SAF). É coordenado pelo Centro Vianei, em rede com outras quatro organizações de referência na agroecologia: CEMEAR (SC), Cepagro (SC), CETAP (RS) e AS-PTA (PR).