A finalização do ‘Cultivando Futuros: transição agroecológica justa nos sistemas alimentares do Semiárido brasileiro’ não podia ser diferente da sua trajetória ao longo dos últimos dois anos. Entre os dias 26 e 28 de novembro, a Rede ATER Nordeste de Agroecologia realizou o seminário final do projeto e reuniu mais uma vez sociedade civil e poder público pelo fortalecimento da incidência política da Agricultura Familiar e da Agroecologia na região. Desta vez, em Campina Grande (PB).
Na última quarta-feira (26/11), primeiro dia do seminário, a programação contou com um carrossel de experiências de incidência política nos territórios de atuação da Rede, que sistematizam o contexto do projeto, seguido de duas mesas de diálogo. Uma delas composta por representações do Governo Federal, que trouxeram suas impressões sobre o Cultivando e o atual momento da Rede.
Silvio Porto, diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), fez a primeira fala da mesa e ressaltou a “riqueza de detalhes dos processos de incidência e seus resultados” apresentados na dinâmica do carrossel. Para ele, a experiência do Cultivando Futuros faz parte do “acúmulo” da construção de 20 anos da Rede ATER Nordeste de Agroecologia.
“O que vocês estão mostrando é que, se tiver recursos, é possível garantir que os processos de formação e de construção das políticas aconteçam. Para mim, fica muito evidente a percepção de que a grande chave (do projeto) foi mudar a lente do olhar para os territórios, essa foi a grande mudança. Mapear o fluxo dos alimentos que são produzidos e comercializados no território e os que chegam de fora é um exemplo”, avalia o diretor.
Silvio Porto, diretor de Política Agrícola e Informações da Conab. Foto: Helena Dias/AS-PTA
E complementa: “Essa é a contribuição do Cultivando no sentido do monitoramento. Mas, a capacidade de incidência política, o processo de promover sistemas alimentares por meio da Agroecologia, é um acúmulo da Rede que vem sendo construída há 20 anos”.
Já Márcia Muchagata, gerente de Projeto da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan) do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família, e Combate à Fome (MDS), observa que o Cultivando e a atuação da Rede ATER dialogam com o atual contexto de crise climática. “(As experiências) ao mesmo tempo que acontecem nos lugares onde a sociedade está mais organizada, também ajuda a sociedade a se fortalecer”, afirma.
Márcia Muchagata, gerente de Projeto da Sesan/MDS. Foto: Helena Dias/AS-PTA
Márcia diz que as redes de organizações de Agroecologia e o governo têm trabalhado como “mão dupla”, se fortalecendo mutuamente. “As experiências trazem esses sistemas alimentares e, principalmente, como que a gente os torna mais resilientes, frente ao processo de mudança climática que a gente tá vivendo. Vocês mostraram muito claramente a importância das políticas públicas quando falam muito em PAA, PNAE, Programa Cisternas, Quintais Produtivos e etc”, explica e lembra a importância das organizações fazerem suas ações dialogarem com o Marco de Sistemas Alimentares e Clima para Políticas Públicas. No mesmo passo, Francisco Mariano, assessor da Gerência de ATER, Formação e Qualificação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER), conta que a agência “tem muitos aprendizados” com a Rede.
Francisco Mariano, assessor da Gerência de ATER, Formação e Qualificação da ANATER. Foto: Helena Dias/AS-PTA
“A apresentação mostrou que vocês não estavam preocupados somente se aquela atividade seria realizada, mas sim quais resultados eram esperados e quais estavam alcançando. Então, a gente tem muito o que aprender e construir nessa metodologia de monitoramento que vocês trazem pra nós”, ressalta.
Por último, Patrícia Tavares, secretária-executiva da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), reforçou o papel do Cultivando Futuros para a Rede ATER Nordeste de Agroecologia. “Talvez, o projeto conseguiu sistematizar e potencializar essa trajetória da Rede, mostrar como que a gente acopla esse componente da incidência política como algo definido dentro de uma ação e de fato consegue fazer transformações a partir do acúmulo, da trajetória que a gente já vê acontecendo nos territórios”, analisa. “E daí ver como isso faz diferença na vida das pessoas, nas tecnologias e tudo mais”, complementa.
Patrícia Tavares, secretária-executiva da CNAPO. Foto: Helena Dias/AS-PTA
O seminário final do ‘Cultivando Futuros: transição agroecológica justa nos sistemas alimentares do Semiárido brasileiro’ reuniu mais de 60 pessoas participantes do projeto, integrantes das 12 organizações da Rede ATER Nordeste de Agroecologia, presentes em seis estados nordestinos: Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. A experiência do projeto foi sistematizada na coleção de cadernos “Estações de Monitoramento de Políticas Públicas no Semiárido Brasileiro”, que pode ser acessada no acervo da Rede aqui no site.
Mais informações sobre o evento, você pode conferir no Instagram da Rede: @redeaterneagroecologia